Filha de um funcionário aposentado da Gerdau, a gerente de manutenção e beneficiamento Luiza Rodrigues Brandão seguiu os passos do pai. Nascida em Ouro Branco, onde fica uma das minas da empresa, ela cresceu no ambiente de mineração e não teve dúvidas na hora de escolher a profissão. Na verdade, teve sim: precisou escolher entre elétrica e mecânica. Acabou optando pela primeira e, de estagiária, hoje coordena uma área importante na mineradora.

Uma carreira desafiadora. Desde o início. Quando entrou na faculdade, em 2007, era uma das quatro garotas da turma no meio de 35 rapazes. No processo seletivo para uma vaga de estágio na Gerdau, era a única mulher. E chamou a atenção, pois queria entrar na mesma área do pai, manutenção, que é predominantemente masculina.

“Fiquei como engenheira de manutenção por um bom tempo, depois assumi a primeira posição de coordenação – era uma equipe de planejamento, um pouco mais mista, em uma atividade mais administrativa, mesclada com campo. Quando passei para a equipe de execução mecânica, eram 40 pessoas e duas mulheres. Meu desafio era liderar pessoas com muito tempo de empresa, com muito conhecimento, fora da minha zona de conforto – minha formação é elétrica e essa é mecânica”, salienta.

Parte desta entrega à qual Luiza se refere teve como base uma iniciativa desenvolvida pela mineradora voltado para as funcionárias, especialmente às que assumem cargos de chefia. Lançado em 2020, o Programa Helda Gerdau visa o desenvolvimento de lideranças femininas e conta com mais de 100 horas de capacitação e mentoria. 

“Me ajudou muito, pois teve muitos módulos de negócio, para trazer uma visão de negócio – por vezes as mulheres são questionadas a respeito da visão comercial, de negócio, que é mais agressiva nas movimentações e decisões, por vezes mais atribuída aos homens.

Teve um módulo muito forte de negócios e outro, muito forte também, de empoderamento feminino. Isso para mim foi um grande diferencial: uma série de palestras com mulheres que são influenciadoras, trazendo bagagem de posicionamento. Isso mudou muito para mim. Antes se eu entrasse em uma sala de gerentes e que só estivesse eu de mulher com mais 20 homens eu não sei como eu me posicionaria. E o programa trouxe muito sobre “ter voz”: você está num grupo majoritariamente masculino, com uma mulher – geralmente com tom de voz mais baixo. Se fazer ser ouvida”, destaca. 

Dificuldades

Casada, Luiza tem 34 anos e dois filhos. Os dois nasceram com ela trabalhando na Gerdau. O mais velho sofreu os impactos da pandemia.

“Como estou na operação, não parei durante a pandemia. Naquele início de incerteza, por um mês eu fiquei sem ver meu filho, que tinha 4 anos. Como estava saindo para trabalhar, estava exposta. Fiquei 40 dias isolada, com meu marido e minha irmã. A gente se falava por vídeo”, lembra Luiza, que contou com a ajuda dos pais para ficar longe do pequeno. 

A engenheira também é mãe de uma menininha de seis meses, que nasceu em um momento de transição dentro da empresa: quatro meses após retornar da licença maternidade, foi convidada a assumir uma nova função.

“O gestor, que é meu até hoje, me promoveu a coordenadora, me deu a primeira oportunidade em coordenação. Disse que acreditava no meu potencial. Voltei em um momento de insegurança, após a licença e, quatro meses tive uma oportunidade, fui desafiada para entregar algo diferente. E consegui”, comemora.

Agora, além de se dedicar ao trabalho dentro da empresa, Luiza tem planos de ajudar outras garotas e mulheres a se sentirem empoderadas. Assim como ela. Imagina que daqui a cinco ou dez anos já terá influenciado várias a chegarem na posição onde chegou. Para isso, entrega um movimento recém-criado, o Entrelaço, programa de fortalecimento da rede de mulheres gerentes da Gerdau, cuja proposta é disponibilizar conteúdos para impulsionar o avanço de carreira das mulheres e viabilizar encontros em um espaço de troca e aprendizado mútuo.

“Para pessoas assim como eu. Para que a gente consiga se apoiar e promover outras pessoas também.  Espero formar novas pessoas, contribuir para que tenhamos um ambiente de integração e trabalhar isso fortemente na minha área, pois manutenção e operação ainda são ambientes ainda muito masculinos. E quero que o ambiente da base seja muito mais diverso”.

Por fim, Luiza deixa um recado para quem ainda tem dúvidas de que a mineração é, sim, um ambiente em que a mulher pode se destacar. Seja em um escritório ou no chão de fábrica.

“Não duvide do seu potencial e não coloque limites que sejam impostos por gênero. E não tenha nenhum sentimento negativo quando encontrar uma vaga que é só para mulher. Tem gente que se incomoda com isso. Veja como uma porta de entrada, e lá dentro você mostra o que é. E é para forçar: o mercado está se voltando para isso. E uma forma que a gente tem para que isso aconteça é conseguir forçar a entrada. Uma vez estando lá dentro, é profissional como todos. E lá mostra seu potencial, que as coisas aparecem”, finaliza.