Uma mulher pioneira. Assim podemos definir a engenheira de Produção Carolina Belluzo, que iniciou a experiência na mineração há 17 anos na Codemin, operação da Anglo American localizada no interior de Goiás. Em um ambiente onde os banheiros femininos, no passado, ficavam apenas no setor administrativo, foi preciso “dar de ouvidos” a algumas piadas machistas para realizar o sonho de vencer na profissão. A garota desbravadora, que começou a ganhar dinheiro na adolescência vendendo chocolate no ônibus que a levava para a escola em Minas Gerais, atualmente é gerente de Segurança, Riscos e Emergência de duas plantas de níquel da companhia, sendo responsável por cerca de quatro mil empregados.

“Quando comecei na mineração, eu era bem nova e não passava muita credibilidade em um ambiente majoritariamente composto por homens. Olhavam para mim e enxergavam fragilidade. Não associavam minha capacidade ao que eu fazia. Naquela época era tão natural que não me incomodava e eu não percebia o nível de machismo. Se escutava piada machista, eu aceitava e, às vezes, até ria. Hoje me incomodaria muito mais”, avalia Carol, como é chamada pelos colegas.

Nascida em Campestre, no Sul de Minas, é filha de uma bancária e do proprietário de uma tipografia. Quando estava com oito anos, a mãe foi detectada com câncer de mama. Foi tratada e curada. Mas, com medo da doença voltar, decidiu empoderar a filha. E a criou para ser forte, pensando que a qualquer momento poderia ficar órfã – a mãe entregou, aos 10 anos, o brinco que havia comprado para presenteá-la no aniversário de 15.

“Conto esta história não para me vitimizar, mas para relatar como este episódio foi um divisor de águas para o que me tornei a partir dele”, salienta Carol, que aos 16 anos montou o próprio negócio com uma amiga: fabricação de chocolates. O negócio prosperou e chegou a ter seis funcionários. E motivou a menina do interior de Minas a tentar uma vaga no curso superior de Engenharia de Produção. Foi aprovada na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Lá conheceu uma outra área, pela qual se interessou e que a fez abandonar o chocolate.

“Lá em Ouro Preto eu conheci mineração e siderurgia, e comecei a fazer umas disciplinas na área. Fiz o processo seletivo e passei para trabalhar como estagiária na Alcoa, no Sul de Minas. Conheci a metalurgia de perto, me apaixonei e larguei a indústria de alimentos. Trabalhei na Alcoa por um ano. Seis meses antes de me formar, fui estagiar na Anglo American. Foi meu primeiro emprego. E aqui estou há 17 anos”, conta.

Mas nestes 17 anos muita coisa aconteceu. Ficaria apenas três meses na Anglo American, até terminar o estágio na área de Produção, mas uma expansão da empresa em Goiás abriu vagas e Carol foi aprovada no processo seletivo. Contratada como analista de Gestão Integrada, para trabalhar com normas, ISO e qualidade, ficou apenas três meses na função: foi promovida a engenheira júnior. Depois plena, sênior e coordenadora da área de Gestão Integrada.

Pausa para um relembrar momento fofo (rs…). No último ano de universidade, ela começou a namorar um colega de sala. Foi ele que comentou sobre o estágio na Anglo American. Carol estava com passagem comprada para os Estados Unidos. Havia juntado dinheiro vendendo ovos de Páscoa para fazer um programa onde estudaria inglês e trabalharia como baby sitter em casa de família. E em vez de ir para a Terra do Mickey, acabou indo para Niquelândia.

“Após 30 horas viajando de ônibus, cheguei em uma cidade muito diferente das montanhas de Minas que eu estava acostumada. Imaginei que não ficaria muito tempo. Mas acabei me apaixonando pelo local, pelo acolhimento dos goianos e pela Anglo American. Fui com o meu então namorado e no fim do estágio nós dois fomos contratados”, lembra. A relação entre os dois se fortaleceu e eles se casaram. Hoje, eles têm um filho de 12 anos, nascido em Goiás, chamado Otávio.

Mas o que levou Carol a trocar a doce vida dos chocolates pela indústria do minério? Ela conta que sempre foi disruptiva e o fato de o setor ser visto como majoritariamente masculino a atraiu, como um desafio. Ela quis provar que poderia, sim, ser um lugar para as mulheres. Inclusive em posições de chefia.

“Foi assim que minha mãe tinha me criado. Aprendi que meu lugar era nesses que ninguém queria ir. Eu gastava mais energia para convencer alguém de algo do que um homem. Em alguns casos, não davam muito crédito naquilo que eu fazia com embasamento técnico. E, no fim das contas, eu ia provando, com resultados, que era possível fazer melhorias. E aí fui construindo prestígio”, conta, orgulhosa.

As sessões de terapia a ajudaram a superar as dificuldades profissionais e, também, as pessoais. A menina nascida e criada no interior de Minas precisou ficar longe da família para vencer na vida. E longe estava quando a mãe faleceu, há dois anos, vítima do câncer que insistiu em voltar. Apesar da tristeza, Carol reflete: “‘o que fiz da minha vida? Priorizei minha carreira, uma vida próspera para mim, para meu marido e meu filho em detrimento do bem-estar da família’. Me questionei demais, mas no fim das contas cheguei à conclusão que era isso que a minha mãe queria para mim. Estou orgulhosa de tudo o que conquistei. E os ensinamentos dela vivem dentro de mim”, celebra.

Carolina Belluzzo hoje é gerente de Segurança, Riscos e Emergência de duas plantas de níquel da Anglo American, em Barro Alto e Niquelândia. É uma das três mulheres em um grupo de sete gerentes. E tem quatro mil profissionais sob responsabilidade técnica. Carol conta que hoje não esconde mais os lindos cabelos loiros dentro do capacete e não deixa de usar os brincos que evitava no início da carreira. “Vi que não tinha problema ser mulher para ser ouvida. Comecei a me portar de maneira diferente. Não foi da noite para o dia, mas hoje, quando eu olho para trás, me via camuflada. Hoje não preciso mais”, finaliza.

E que sirva de inspiração para muitas profissionais, seja em que área for.