Minha jornada na indústria da mineração foi um divisor de águas. Sou formada em Administração e em Engenharia de Produção. Tinha uma carreira de oito anos em uma montadora de veículos da cidade (Mitsubishi). Atuava como engenheira de processos e tinha funções de gestão, mas no chão de fábrica. Quando a empresa começou o processo de demissões em massa, em 2012, fui desligada. Meu mundo desabou, mas sabia que não era o fim.
Eu tinha muita vontade de ser mãe. Fora do mercado de trabalho, engravidei e passei a ajudar meu marido. Tirei CNH D, fiz curso para transporte de pessoas, e adquirimos uma Kombi. Por quase dois anos fiz transporte de estudantes da zona rural à Nova Aurora/GO, cidade natal do meu marido. E mesmo gestante, ainda o ajudava num açougue que meu marido tinha. Até que minha filha completasse um ano, me desdobrava como motorista e açougueira, tentava algumas oportunidades que surgiam no setor de Mineração. Minha filha era bebê, mas não me acomodei. Além da necessidade de ganhar mais, eu queria voltar a trabalhar na minha área de formação.
Com toda humildade, aceitei a proposta de uma empresa terceira da CMOC para limpeza industrial. Revezava entre a pá nas correias e o mangote na usina. Era lavar e esfregar piso também. Foi muita fé e resiliência por meses. Até que pedi para fazer prova de seleção para contratação direta da CMOC. Passei e fui contratada como Operadora de Produção C, no Tailings. Já são quase quatro anos na companhia. O trabalho pesado ainda faz parte da minha rotina. Porém, tenho salário melhor, benefícios e oportunidade de crescimento. A rotina de turnos continua, mas não posso reclamar de nada. Eu pedi muito a Deus pelo serviço.
No Tailings, somos quatro mulheres: eu, uma estagiária, engenheira responsável e coordenadora. Elas ficam na parte administrativa, e sou a única mulher como operadora de produção. Gosto do ambiente masculino por vários motivos, entre eles afinidade, interesses e área de atuação. No meu turno, sou eu e mais quatro companheiros. O desafio de manter um ambiente agradável é mais deles do que meu. Isso falo em relação às conversas e piadas, mas nada que me faça sentir mal. Eles são todos muito parceiros e me veem assim também. Não há diferenciação no que eu faço e o que eles fazem. Claro que conto com ajuda para uma válvula dura ou uma tubulação que entope. Recebo ajuda como também os ajudo.
O meu desafio pessoal foi, à princípio, adaptação às novas atividades. No entanto, eu vejo que muitos dos meus colegas chegam em casa com a comida feita e a roupa lavada. Eu, quando chego em casa, ainda dou conta das atividades domésticas e da minha filha. Descansar é só no sono mesmo, porque toda hora tem algo a ser feito, dentro ou fora da empresa.
Meus pais moram na zona rural. Tive uma educação tradicional e conservadora. Nunca faltou nada em casa porque os meus pais trabalharam muito. Quem ajudou a me criar foi minha avó Helena. E assim como a vovó, meus pais me ajudam, diariamente, na educação da minha filha, Eloáh Marcela, de 6 anos. Meu pai é meu herói e meu melhor amigo, é rústico e sistemático, mas extremamente atencioso e carinhoso. Minha mãe é fonte de força e fé. Nas minhas folgas, meu refúgio é lá na fazenda. Onde renovo as energias, converso e tem comida caipira. Tudo simples, como eu gosto. Leonardo da Vinci tem uma frase icônica: ‘simplicidade é a suprema sofisticação’. E meu mundo é simples. Sou de uma família de garra, humildade e muita fé.
Meus vínculos mais antigos, de infância e adolescência, são de pessoas que trabalham fora. Tenho amigas doutoras pela Universidade Federal de Goiás, gerente de banco, empresários, mas sou a única que atua na indústria da mineração e não me arrependo de nada do que fiz. O aprendizado, as experiências e vivências ninguém me toma.
Alguns ex-colegas de trabalho dizem que se tivessem o meu currículo fariam outra coisa. Eu faço, com muito prazer. Meu trabalho é para poucos, e tem que ser feito. Para mim, mais triste que ter um dia ruim de trabalho é ter um dia ruim sem trabalho.
Quando digo que meu trabalho é pesado, só quem não me conhece pode pensar que é exagero. Meus conhecidos sabem que sou uma guerreira, e isso me motiva. Meu maior incentivo é a minha filha. Tudo que eu faço é para provê-la de boa educação e qualidade de vida. Se cansar, aprenda a descansar e não a desistir. Aqui não faltam fé nem determinação”.
Anna Aurélia Almeida e Silva Borba, 34 anos, Operadora de Produção C na CMOC.
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