O Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) publicou, em outubro, parecer aprovando parceria entre Vale e Anglo American Brasil para aquisição e integração de ativos da Serra da Serpentina ao complexo Minas-Rio. A Vale já havia anunciado a compra no início deste ano por US$ 157,5 milhões, de 15% de participação acionária divisão de minério de ferro – da Anglo American, que continuará a
operar Minas-Rio, incluindo qualquer futura expansão.
O depósito da Serra da Serpentina possui recursos estimados em 4,3 bilhões de toneladas. As empresas agora aguardam o parecer final da transação, por meio do Cade. A expectativa é que seja divulgado ainda este ano.
O acordo, publicado no Diário Oficial da União, inclui uma parceria entre as duas empresas para explorar o projeto Serra da Serpentina, em Minas Gerais, cujos direitos minerários são contíguos ao complexo Minas- Rio, operado pela Anglo American. Esta dará início aos estudos de viabilidade para definir a melhor estratégia a ser adotada para incorporar os recursos minerais da Serra da Serpentina à Serra do Sapo. Os levantamentos serão realizados ao longo de cinco anos e, entre as opções a serem estudadas, estão a de fazer um plano de mina único e integrado e duplicar a atual capacidade do Minas-Rio.
Minas-Rio opera um mineroduto para transportar minério de ferro, que liga as cidades de Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, a São João da Barra, no Rio de Janeiro. Com 529 km de extensão, atravessa 32 cidades nos dois estados e é o maior mineroduto do mundo, com capacidade para transportar 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Em São João da Barra, o minério chega ao terminal marítimo de Porto do Açu onde é embarcado para o destino final, principalmente as siderúrgicas asiáticas.
Em 2023, bateu recorde ao atingir 24,2 milhões de toneladas. Para este ano, a expectativa é de alcançar entre 23 e 25 milhões de toneladas. No primeiro semestre, foram produzidas 12,3 milhões de toneladas, a
melhor performance semestral desde 2020. De acordo com o processo aprovado pelo Cade, além da compra de ações, a Vale adquirirá, diretamente ou por meio de controladas, 15% do saldo em aberto de dívidas intercompany existentes na data de fechamento, tornando-se credora da Anglo American Brasil.
Na primeira contrapartida, “a Vale aportará ao capital da Anglo American Brasil um conjunto de imóveis e outros ativos (inclusive direitos minerários, planos, resultados de sondagens e outros ativos correlatos)
que compõem o Projeto Serra da Serpentina, um projeto greenfield (não operacional) na região do município de Conceição do Mato Dentro (MG), voltados para a exploração de minério de ferro, bem como realizará, como contrapartida à transação secundária, um desembolso complementar de caixa de US$ 157,5 milhões (sujeito a ajustes de dívida líquida e capital de giro)”, detalha o documento.
A operação contempla também a possibilidade de expansão do sistema logístico de escoamento de minério de ferro caso a capacidade de transporte do mineroduto do Sistema Minas-Rio se torne insuficiente para a produção da Anglo American Brasil, assim como desenvolvimento de solução logística adicional para propiciar o escoamento do volume adicional proveniente do Projeto Serra da Serpentina.
“Temos o prazer de formar uma parceria com a Anglo American para apoiar a demanda crescente por minério de ferro de alta qualidade à medida que nossos clientes aceleram suas transições para uma siderurgia com baixa emissão de carbono. Minas-Rio é um ativo Tier-1 que se beneficiará de grandes sinergias com o depósito de Serpentina e a logística da Vale . Nós planejamos destinar nossa parcela do pellet feed de alta qualidade para nossas plantas de pelotas no Brasil e, no futuro, para os Mega Hubs, produzindo briquetes de minério de ferro”, afirmou o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo.
“A oportunidade de formar uma parceria com a Vale para garantir um recurso de minério de ferro de alto teor desta escala e qualidade, próximo ao Minas-Rio, é atrativa – especialmente com todas as sinergias físicas de nossas infraestruturas de mineração e processamento para criar uma operação única otimizada, combinada com a opção de acesso à logística de porto e ferrovia da Vale. A escala e a qualidade
do corpo mineral de Serpentina oferecem valor significativo, incluindo a possibilidade de expandir a produção de produtos de pellet feed de qualidade superior que vendemos aos clientes da siderurgia, uma vez que estes focam na descarbonização de seus próprios processos nas próximas décadas. O produto de teor de redução direta da Minas-Rio se posiciona em um dos segmentos de crescimento mais atrativos disponíveis atualmente em nosso setor”, comentou Duncan Wanblad, presidente global da Anglo American.
De acordo com publicação feita pela Vale, ficou acordado que a mineradora contribuirá com recursos de minério de ferro de alto teor de Serpentina e desembolso complementar de caixa de US$ 157,5 milhões, sujeito a ajustes da dívida líquida e à variação do capital de giro, na data de fechamento. Por exemplo: se a média do preço de referência do minério de ferro (Iodex 62%Fe CIF China) permanecer acima de US$ 100/ tonelada ou abaixo de US$ 80/tonelada por quatro anos, será realizado um ajuste no valor de pagamento à Anglo American ou Vale, respectivamente, em linha com uma fórmula acordada e dentro de certos limites.
Pela transação, a Vale receberá uma parcela proporcional da produção do Minas-Rio e também deterá uma opção de compra de uma participação adicional de 15% na operação ampliada do complexo, mediante desembolso de caixa, isso se – e quando ocorrerem – certos eventos relativos a uma futura expansão do Minas-Rio. Nesse caso, a transação inclui o recebimento da licença ambiental prévia necessária para a expansão, seguindo a conclusão de estudo de pré-viabilidade e de viabilidade , a valor justo calculado no momento do exercício da opção.
PRODUÇÃO DE PELLET FEED
De acordo com publicação da Anglo American, Serpentina contém recursos minerais de 4,3 bilhões de toneladas de minério de ferro, refletindo uma extensão do corpo mineral de cerca de duas vezes a extensão do Minas-Rio atual. Contém um minério de ferro com teor ainda mais alto que o de Minas-Rio, com predominância de minério friável, menos compacto.
A integração desses dois recursos também oferece consideráveis oportunidades de expansão, incluindo o potencial para duplicar a produção, que as duas empresas avaliarão de acordo com os termos do acordo.
A produção anual do Projeto Serpentina está estimada em 26,5 milhões de toneladas de pellet feed base úmida e 23,9 milhões de toneladas de pellet feed base seca. Mais fino, mais rico e com baixos níveis de impurezas, o pellet feed é destinado à produção de pelotas de minério de ferro que, quando utilizadas em processos de redução direta na siderurgia, diminui em até 50% as emissões de carbono.
Em outubro, a Vale divulgou crescimento de 5,5% na produção de minério de ferro da Vale no terceiro trimestre, em comparação ao mesmo período de 2023 – o maior volume em quase seis anos. Foram 90,97 milhões de toneladas de minério entre julho e setembro passado. A produção de pelotas no terceiro trimestre de 2024 totalizou 10,36 milhões de toneladas, alta de 12,9% versus igual período do ano passado, alcançando a maior produção trimestral desde 2018, com maior disponibilidade de pellet feed das minas de Brucutu e Itabira, aumentando a produção nas plantas de pelotização de Tubarão.
ESTUDOS DE VIABILIDADE PODEM VALIDAR NOVO MINERADUTO
A operação conta com estruturas de mina, usina, geotécnica e de suporte em Minas Gerais, e o mineroduto que passa por 32 municípios até a filtragem e a exportação, conectando a usina às plantas de filtragem no Porto do Açu, no Rio de Janeiro. São mais de 3,6 bilhões de toneladas de recursos minerais certificados.
A produção de 24 milhões de minério de ferro em 2023 teve Ebtida total de US$ 1,4 bilhão. O complexo gera cerca de 12 mil empregos, entre próprios e terceiros, e tem investimentos previstos de, aproximadamente, R$ 12 bilhões entre 2024 e 2028, além da arrecadação de impostos e tributos.
O depósito da Serra da Serpentina é contínuo ao complexo Minas-Rio e possui recursos minerários estimados em 4,3 bilhões de toneladas. As duas empresas avaliam que a combinação dos dois recursos oferece consideráveis oportunidades de expansão, incluindo o potencial para duplicar a produção, que Anglo American e Vale avaliarão nos termos da transação.
A operação de Minas-Rio ampliada terá a opção de utilizar a linha férrea próxima da Vale, e, ainda, o Porto de Tubarão para transportar a produção expandida, além da alternativa de construção de um segundo mineroduto interligado à atual instalação portuária da Anglo American no Açu. Todas as soluções logísticas viáveis serão consideradas e avaliadas durante a pré-viabilidade. O mineroduto existente cruza a rede ferroviária da Vale a jusante do Minas-Rio, permitindo que um segundo
mineroduto muito mais curto se conecte com a ferrovia Vitória-Minas até o Porto de Tubarão. A transação não inclui ou afeta a participação de 50% da Anglo American na unidade de exportação do minério de ferro no Porto do Açu.
No Minas-Rio, 100% da matriz de energia elétrica é renovável, e mais de 32 mil hectares de áreas verdes nativas do Brasil são preservados pela Anglo American – o que representa mais de seis vezes a área operada pela empresa no país. A planta de filtragem de rejeitos que está sendo construída na mina evitará o lançamento de até 85% do rejeito total para a barragem.
Recentemente, o complexo recebeu o reconhecimento do padrão IRMA (Iniciativa para a Garantia de Mineração Responsável). A operação alcançou o nível de desempenho IRMA 75, fato inédito em todo o mundo para negócios de minério de ferro.
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