Itabira, terra do poeta Carlos Drummond de Andrade, a 104 km de Belo Horizonte, vai perder cerca de R$ 30 milhões de arrecadação a partir de fevereiro de 2009 pelo pagamento de royalties da Vale. Essa é a previsão de perdas financeiras, com a parada técnica nas minas de Conceição e Cauê, feita pelo prefeito reeleito João Izael Querino Coelho. Com o sono comprometido desde o início das demissões e férias coletivas, o prefeito diz nunca ter vivido um momento como este, nem na privatização da empresa. “A população está apavorada”, contou. “Esta perda (da arrecadação) significa 20% do orçamento da prefeitura”, calcula. “Quando perde um emprego, outros três são perdidos indiretamente”.

A Vale emprega, segundo sindicatos dos trabalhadores, 3.500 moradores diretamente e mais 3.500 de forma terceirizada. Outros mil habitantes trabalham em minas da região. Segundo a prefeitura, para cada um direto há três outros indiretos.

E a cidade vai parar no próximo dia 8 de janeiro durante duas horas. A “paralisação cívica” foi anunciada por dirigentes sindicais durante audiência pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, ontem, na Câmara Municipal da cidade, quando as 1.500 demissões da Vale na região – cálculo do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos de Itabira – foi o assunto principal por três horas. A Vale confirma que demitiu 1.300 funcionários, sendo apenas 20% deles em Minas Gerais.

No encontro, foi decidido propor ao governador Aécio Neves uma reunião entre sindicatos, parlamentares e representantes da Vale para encontrar medidas de caráter emergencial para amenizar o problema. Mais de 200 trabalhadores entre dispensados e apavorados com a hipótese de perder o emprego na mineradora ouviram as propostas de quatro parlamentares da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, sindicatos e entidades civis num encontro que mais parecia o ritual da malhação do Judas, com faixas de protestos à mineradora expostas por toda parte.

Alegando compromissos, o diretor de relações governamentais da Vale, Carlos Anísio Rocha Figueiredo, enviou comunicado à Comissão de Assuntos Municipais da Assembléia, promotora do evento, justificando a ausência. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos de Itabira, Paulo Soares, enumerou resultados positivos da Vale para condenar as demissões. “Em 11 anos de empresa privatizada, a Vale lucrou US$ 80 bilhões e a folha de pagamento anual de todos os trabalhadores é de US$ 1,2 bilhão”.
Paulo Soares chamou o governo Lula para a discussão. “O governo federal detém 12 ações de classe especial da empresa que lhe dão o direito de veto”, provocou. O dirigente sindical informou que a produção de 120 mil toneladas de minério de ferro por dia em Itabira caiu para 30 mil toneladas/dia.

Na Associação Apivale, cem ex-funcionários já procuraram a entidade para entrar na Justiça contra a Vale. “A empresa está demitindo funcionários com até 25 anos de trabalho, perto da aposentadoria, e alega que está demitindo por baixa performance”, contou Leônidas da Silva. A empresa não se manifestou.

Raio X da cidade
Fundação: 1848
Região: Central
População: 110 mil habitantes
IDH: 0.789
PIB/habitante: R$ 22,7 mil
PIB: R$ 2,5 bilhões
Atividade econômica: Basicamente mineração e comércio


Fonte: Padrão