Os preços de produtos siderúrgicos deverão ser pressionados para baixo com a eliminação de tarifas de exportação para produtos acabados de aço de alto valor agregado, como bobinas a quente. De acordo com analistas ouvidos pelo DCI, o efeito dependerá da demanda mundial, que está afetada por conta da crise financeira internacional. Por outro lado, a mineração deverpa ser beneficiada, já que a demanda chinesa voltará a crescer.

A Vale, que anunciou recentemente corte de 10% de sua produção de ferro por conta da queda da demanda chinesa, poderá tirar proveito. O diretor executivo de Gestão e Sustentabilidade da mineradora , Demian Fiocca, que se reuniu com executivos chineses há três semanas, afirmou que a China tem todos os instrumentos para reagir à crise e tem condições de manter crescimento em 2009.

“O minério da Vale tem, ainda, diferencial de qualidade e a estrutura das relações com a China são de longo prazo”, afirmou Fiocca. Por outro lado, a siderurgia brasileira, que é dependente do mercado interno, pode sair prejudicada. “Esse fato tem um impacto potencialmente negativo para o mercado, pois pode continuar derrubando mais os preços”, afirmou Rodrigo Ferraz, da Corretora Brascan. A queda de preços pode afetar diretamente as principais produtoras brasileiras, como Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Usiminas, empresas que já foram impactadas com a crise. Até o fechamento desta edição, a Gerdau e CSN, procuradas pela reportagem, não se manifestaram. Já a Usiminas preferiu não comentar o assunto.

A eliminação de taxas de exportações de determinados produtos espera alavancar a produção do país e, com isso, direcionar maior volume de produtos para o mercado externo.

Segundo a analista da Ágora, Cristiane Viana, o mercado deve aguardar, nesse primeiro momento, quais serão os incentivos e quais produtos da cadeia serão beneficiados. “As exportações chinesas já caíram muito e essa medida irão estimular as exportações. Agora precisamos verificar se realmente haverá aumento da oferta”, afirmou a analista.

Mercado doméstico

Além de possível pressão e conseqüente queda dos preços dos produtos siderúrgicos no mercado internacional, o mercado brasileiro não deverá sentir outros impactos em um primeiro momento. Isso deverá ocorrer por conta da recente valorização do dólar frente ao real, fato que deverá blindar o mercado nacional das importações, principalmente de produtos asiáticos.

“Esse pode sim ser efeito, mas ele é mais difícil de acontecer por causa do câmbio”, afirmou o analista Rodrigo Ferraz.
As importações aumentaram em 2008 no Brasil. Somando os produtos siderúrgicos, como aços planos, longos e transformados, as importações, no acumulado dos oito primeiros meses do ano, subiram 54,1% em relação ao mesmo período em 2007. De agosto a setembro de 2008 foram 960,6 mil toneladas.

Já de acordo com o vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes, a situação é pe preocupante para o setor no Brasil. Segundo o executivo, a América Latina tem sido alvo dos produtos chineses, fato que deve piorar com a eliminação de taxação para a exportação. “Uma medida chinesa tirando travas de exportação preocupa muitíssimo. Essa medida vem, ainda, em um momento que os mercados estão sendo mais protecionistas”, afirmou à reportagem.


Fonte: Padrão