Lembramos o 24º Congresso Mundial de Mineração no Rio, em 2016, quando o presidente global da Anglo American afirmou que “a mineração pode fazer mais pelo meio ambiente”. Com certeza ele estava se referindo também às barragens de rejeito. É fato que as empresas mineradoras investem mais em preservação ambiental se comparadas ao que era praxe há duas década atrás — mas foram surpreendidas pelos acidentes recentes com barragem de rejeitos.

De acordo com um estudo de 2008 intitulado “Reported tailings dam failures” — colapsos de barragens de rejeitos registrados oficialmente — por Rico e outros, publicado no Journal of Hazardous Materials, a média de falhas dessas estruturas nos 100 anos passados é de 1,2%, ou seja, 2,2 colapsos ao ano. O fato de a média de colapsos de barragens para estocar água atingir apenas 0,01% – é considerado inaceitável por muitos técnicos quanto à segurança das estruturas que armazenam rejeitos. A média de acidentes desse tipo de barragem não melhorou com o passar do tempo, embora suas dimensões tenham crescido.

Rico relata no estudo que nos casos de colapso predominam as estruturas de altura mediana – na faixa de 5 a 20 m — são justamente as que recebem menos input de engenharia e exigência de supervisão. Conforme o autor, o estudo revela que as principais causas do colapso são desconhecidas ou relacionadas à água — como nível excessivo d’água que supera a barragem e provoca erosão, ou nível freático elevado dentro da barragem que pode causar instabilidade geotécnica.

Segundo Rico, nesse estudo de 2008, nos 100 anos passados, os Estados Unidos respondem por 39% dos colapsos; Europa 18%; Chile 12% e Filipinas 5%. Ele afirma, entretanto, que muitas ocorrências na China e outros países não foram reportadas.

As respostas a esses acidentes incluem repetidas vistorias das barragens existentes pelas mineradoras e agências reguladoras, projetos mais conservadores de engenharia, e legislação governamental mais rigorosa. No Chile, o método de construção a montante foi proibido após os colapsos induzidos por terremotos em 1965, além da exigência de se aplanar e compactar as barragens formadas por areia de ciclonagem e a instalação de geomembrana impermeável na face montante. Resultado: não houve mais acidentes com esse tipo de barragem no Chile.

Especialistas experientes ouvidos pela Mining Magazine inglesa alertam que há ênfase excessiva sobre os aspectos técnicos dos colapsos — quando em todos os casos conhecidos ficou evidente a falha de governança do sistema responsável pelas barragens. Eles enfatizam que “as falhas em projeto, construção, operação e monitoramento só ocorrem quando uma governança precária dá espaço a elas”.

No relatório de 2015 sobre o colapso da barragem Mount Polley, no Canadá, ocorrido um ano antes, concluiu-se que as tecnologias adotadas até então eram dadas como insuficientes, recomendando-se um novo conjunto de normas chamado de BAT- Best Available Technology, que explicita:

• Eliminar a água superficial da barragem;
• Manter condições não saturadas no rejeito depositado, através de drenagem; e
• Obter condições dilatantes (pseudoplásticos) no rejeito depositado por meio de compactação.

O relatório ainda menciona que a filtragem dos rejeitos para empilhamento a seco deve ser considerado, apesar do fator custo, e dependendo das condições apropriadas de fundação do sítio escolhido.

Outro consultor especializado nesse campo lembrou que há softwares de projeto de engenharia que permitem simular o comportamento da barragem de rejeito, variando as cargas a serem suportadas, as condições do material depositado etc. Esse modelo digital poderia ser mantido pela empresa projetista para ensaiar anomalias detectadas no sítio pelo sistema de monitoramento em tempo real – outra tecnologia que se tornou acessível (em termo de custos) e indispensável.

Ainda há quem lembre que o exemplo do Chile poderia ser seguido, embora haja rejeitos que não se prestem para serem compactados e a eficácia das geomembranas ainda gere questionamentos.