Novo modelo de exploração de ouro aumentou a produção e gerou diminuição dos custos da AngloGold Ashanti em Minas Gerais.
O método de lavra proposto era o do corte e aterro. Ao passo que mais informações geológicas foram incorporadas ao modelo, juntamente com a mudança no entendimento da distribuição de teores na jazida em questão, foi possível realizar alterações de metodologia de modelamento para efeito de avaliação de teores.
Pela grande quantidade de ouro livre, a distribuição do teor neste tipo de jazimento é irregular, mostrando grandes variações no volume e conteúdo metálico tanto no strike quanto em profundidade. A interpretação das variações principalmente quanto à forma e ao volume ao longo dos painéis de lavra, baseada na amostragem sistemática dos canais de lavra, apontou uma continuidade lateral maior do corpo, em oposição aos limites previstos em campanhas de sondagem em malhas mais abertas (até 20 m x 20 m).
Modificações na metodologia de lavra incrementam produção da mina Lamego
Os teores de ouro fora dos limites do modelo são mais baixos, mas ainda são economicamente viáveis, possibilitando sua lavra. O aumento da exposição do minério gerou maior demanda por contenção do maciço rochoso, fazendo necessário o desenho de pilares, transformando a lavra em corte e aterro com câmaras e pilares. Estudos sobre a heterogeneidade do minério e simulações sequenciais gaussianas foram realizados com o objetivo de obter a malha de sondagem ótima para definição dos limites do corpo.
Uma campanha de sondagem apertada (10 m x 12 m) com 3.700 m de furos foi proposta para detalhamento do Nível 5.1 do corpo Carruagem, compreendido entre as cotas 553 m e 590 m. A campanha de sondagem teve seu término em abril de 2013 e um novo modelo geológico foi elaborado com base nos dados gerados.
A definição de modelo bulk se baseou na proposta de que os litotipos FFB e quartzo fumê estão mineralizados independentemente do teor, uma vez que o alto efeito pepita pode gerar um viés devido à pouca massa amostrada. O conjunto das rochas representa uma dobra fechada com espessamento da charneira, até 16 m de potência e flancos delgados que variam de 2 a 9 m de potência. As mudanças nas características do corpo modelado levaram à discussão da implantação de um método de lavra mais produtivo na região.
A mina Lamego compõe um dos diversos depósitos de ouro orogênicos do Greenstone Belt Rio das Velhas. A mineralização do depósito Lamego está hospedada em rochas arqueanas do Supergrupo Rio das Velhas, associada à alteração hidrotermal, estruturalmente controlada. Da base para o topo, o empilhamento litoestrutural do depósito é definido por rochas metavulcânicas, metachert, formação ferrífera bandada – FFB, xisto carbonoso, metapelitos e rochas metavulcanoclásticas, em condições metamórficas de fácies xisto verde. O minério está associado a veios e massas de quartzo e à formação ferrífera bandada – FFB alterada hidrotermalmente.
Historicamente, a modelagem geológica do corpo Carruagem (foco deste trabalho) é realizada utilizando uma combinação dos dados de mapeamento geológico e canais de amostragem na lavra, definindo horizontes mineralizados de teores acima do cut off, predominantemente nos veios e massas de quartzo fumê dentro de uma estrutura litológica constituída por FFB (formação ferrífera bandada). O corpo de minério aceito era basicamente constituído de três lentes paralelas com inclinação média de 25° (com suavização da inclinação em profundidade devido à presença de falhas) e potência média de 2,5 m cada.
Para esse cenário, o método de lavra proposto era o do corte e aterro. Ao passo que mais informações geológicas foram incorporadas ao modelo, juntamente com a mudança no entendimento da distribuição de teores na jazida em questão, foi possível realizar modificações de metodologia de modelamento para efeito de avaliação de teores.
Metodologia
Embora a inclinação do corpo não seja favorável à utilização do sublevel stopping, uma das suas variações, o longitudinal longhole retreta, mostrou-se bastante promissora. Trata-se de um método de lavra do tipo bulk em que o eixo do realce e os acessos são paralelos ao strike do corpo de minério.
Perfurações “cegas” ascendentes realizadas por equipamentos fandrill, em padrões de leques, são feitas em recuo e a face livre é aberta através da escavação de um slot.
O material desmontado é retirado com o uso de LHD’s operadas à distância com o uso de controles remotos, enquanto o operador fica em pequenos nichos escavados nas laterais da galeria. Assim, nenhum homem é exposto a locais com tetos desmontados.
Considerando as características geotécnicas das rochas na mina Lamego, não há necessidade de implantação de contenção definitiva, uma vez que as galerias ficam abertas por curtos espaços de tempo. O tratamento do teto é feito com a aplicação de cavilhas expansivas de 2,30 m de comprimento numa malha triangular 1,5 m x 1,5 m durante o desenvolvimento.
Com base em padrões de perfurações para métodos de lavra semelhantes praticados por outras unidades da AngloGold Ashanti, estipulou-se inicialmente a distância entre leques e entre furos como 1,80 m e o diâmetro de perfuração como 3”.
Em maio de 2013 iniciaram-se as escavações dos drifts< /em> e, em maio de 2014, os 1.135 m de desenvolvimento foram finalizados. No final de novembro de 2013, foram iniciadas as primeiras perfurações com furos longos e, em janeiro de 2014, começou a produção efetiva com a utilização do novo método.
A implantação desse novo método de lavra na unidade de Lamego buscava como principais objetivos o aumento da produção (em toneladas), diminuição dos custos e aumento da segurança.
Esses ganhos são obtidos através das próprias características da lavra. Como não há a necessidade de aplicação de contenção definitiva, o tempo de ciclo é drasticamente reduzido. O oneroso processo de perfuração e instalação de cabos com argamassa é eliminado, influenciando de forma direta os custos. Como mais material é desmontado por vez e menos ciclos são necessários, a distância e movimentação dos equipamentos são otimizados, contribuindo para a melhoria de produtividade. Uma vez que o homem não fica mais exposto a tetos desmontados (ainda que devidamente travados), diminuem os ricos a que fica exposto o trabalhador.
A produção utilizando o método open stope no nível 5.1 tem crescido desde o início de sua aplicação. As mudanças realizadas ao longo da implantação do método bem como o aumento da experiência dos operadores são as principais razões para esse aumento de produtividade.
Ao se comparar a produção utilizando esse método com o método tradicionalmente empregado fica evidente o ganho de produtividade. A Tabela 1: Produção Open Stope x Corte e Aterro mostra a produção de dois níveis utilizando métodos diferentes em 2014. O open stope mostra uma produtividade 216% maior que o corte e aterro.
A implantação do método proporcionou um aumento de produção de 55 mil t, ou de 15%, na comparação com os valores de 2013 e 2014.
A expectativa de redução de custo na implantação do método girava em torno de 20% a 30% em relação ao método de lavra tradicionalmente empregado. Os valores reais estão ainda sendo aferidos mais já é possível perceber uma diminuição no custo total da operação (Lamego).
Conheça os autores do projeto
Lucas Henrique de Ávila Lemos – Engenheiro Geólogo formado pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atua como chefe de área de Geologia de Mina da AngloGold Ashanti.
Luiz FernandoZanotti – Bacharel em Engenharia de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais e pós-graduando em Especialização em Gestão com ênfase em Negócios pela Fundação Dom Cabral. Atua como Engenheiro de Minas na área de Operação de Mina (Lavra e Desenvolvimento) da AngloGold Ashanti.
Fernando Lucas dos Santos Peixoto de Villanova – Bacharel em Geologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atua como geólogo na área de curto prazo e reconciliação AngloGold Ashanti.?
Paulo Henrique Araújo Calazans – Bacharel em Engenharia de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atua como engenheiro de minas na área de planejamento de mina de curto prazo AngloGold Ashanti.?
Leia a íntegra do trabalho “Implantação de novo método de lavra na mina Lamego”.
Fonte: Revista Minérios & Minerales