A metade não é maior que o todo

Nos últimos meses o setor só fala em crise econômica e seus efeitos nocivos, principalmente no segmento de minério de ferro, dando a impressão de que a atividade de mineração está estagnada no País. A predominância do ferro no cenário da mineração brasileira é inegável – ele responde por cerca de 50% da Produção Mineral Brasileira (PMB) comercializada (valores de 2005) — mas até mesmo nessa substância os principais projetos foram mantidos, embora em ritmo mais lento. E outros segmentos, como ouro e agregados, por exemplo, prosseguem investindo.

“Consta, como sabemos, que, em chinês, o ideograma da palavra crise é composto de dois outros, a saber, “risco” e “oportunidade”. O fato é que, em momentos de crise, as empresas, à luz de seus projetos e planos, imediatos e/ou futuros, bem como, especialmente, da gestão de seu caixa e da própria dimensão do mesmo, tornam-se “vendedoras” ou “compradoras”. A Vale que, em meados de 2008, reforçou expressivamente seu caixa, chamado capital, ao não concretizar a compra da Xstrata, pelas razões que foram divulgadas à época, hoje encontra-se em situação de adquirir ativos importantes, no contexto do seu Plano Estratégico, como foi, recentemente, sua aquisição de minas até então pertencentes à Rio Tinto. Para o Brasil, são aquisições importantes, seja pela capacidade da Vale de aumentar expressivamente a produção de minério de ferro em Corumbá, seja por poder vir a aumentar a oferta, para a agricultura brasileira, de potássio, insumo mineral do qual somos fortemente dependentes do exterior. Assim, eu não diria que a crise não é tão ruim para o minério de ferro: o que eu digo é que, como bem sabemos, esses momentos que estamos vivendo costumam sinalizar excelentes oportunidades para empresas atentas e com caixa expressivo, as quais, agindo com presteza e competência, podem, sem sombra de dúvida, vir a sair da crise maiores, melhores e mais competitivas do que eram antes”, acredita José Mendo de Souza, presidente da J. Mendo Consultoria e do Centro de Estudos Avançados em Mineração (Ceamin).

Total

31.511.676.443,00

Metálicos

21.675.847.046,00

Alumínio

1.251.849.422,00

Chumbo

22.712.240,00

Cobalto

425.572.408,00

Cobre

993.897.773,00

Cromo

136.602.472,00

Estanho

201.080.890,00

Ferro

15.521.161.298,00

Lítio

4.114.638,00

Manganês

503.962.222,00

Nióbio

121.248.591,00

Níquel

997.590.102,00

Ouro

1.299.256.674,00

Prata

4.624.469,00

Tântalo

18.486.985,00

Titânio

35.526.844,00

Tungstênio

3.731.941,00

Zinco

88.656.329,00

Zircônio

45.751.382,00

Não-Metálicos

9.195.186.452,00

Água Mineral

862.109.419,00

Amianto

246.401.730,00

Areia

1.976.878.285,00

Areias Industriais

158.120.287,00

Argilas

223.292.153,00

Bário

11.082.406,00

Calcário

867.269.058,00

Caulim

696.189.249,00

Cianita

747.855,00

Diatomita

8.050.763,00

Dolomita e Magnesita

210.826.216,00

Enxofre

50.678.830,00

Feldspato

36.478.487,00

Fluorita

38.437.059,00

Fosfato

647.579.943,00

Geodos, Ágatas, etc

2.005.665,00

Gipsita

23.087.550,00

Grafita

94.337.322,00

Mica

1.367.251,00

Potássio

356.601.484,00

Quartzo

12.947.454,00

Rochas e Cascalho

1.732.658.513,00

Rochas Ornamentais

296.457.761,00

Rochas Ornamentais – Outras

14.808.242,00

Sal

518.373.843,00

Talco

104.224.140,00

Vermiculita

4.175.786,00

Gemas e Diamantes

113.770.026,00

Diamante

86.302.426,00

Gemas

27.467.600,00

Energéticos

526.872.920,00

Carvão Mineral

500.290.446,00

Turfa

5.565.549,00

Urânio e outros Radioativos

21.016.925,00

Fonte: DPMN

Novo padrão de resposta
“No que respeita aos bens minerais transacionados no âmbito internacional, a atual crise nos fará assistirmos a um novo padrão de resposta dos mineradores e consumidores. Respostas essas mais rápidas, objetivas e eficazes, fruto da concentração da produção em um número menor de empresas privadas, mais pressionadas por seus acionistas e com uma flexibilidade maior de atuação e posicionamento estratégico. Claro que a queda dos preços – em muitos casos bastante expressiva – tornou algumas minas antieconômicas e desestimulou investimentos de risco em pesquisa mineral, impactando fortemente as chamadas junior companies. Quanto aos agregados para construção civil, os investimentos em infraestrutura anunciados pelo Governo Federal, pelo Governo de Minas Gerais e pelo Governo de São Paulo deverão não só manter esse importante segmento da Mineração brasileira aquecido, como, também, até mesmo incrementar sua produção e venda”, afirma Mendo.

Ele ressalta que é fundamental para o País que o governo federal fique atento às peculiaridades dos mercados de cada dos bens minerais e, com o apoio e a colaboração dos governos estaduais, aja rapidamente e torne mínima a redução das pesquisas geológicas no País, para evitar, em futuro próximo, o impacto da não descoberta de novos depósitos minerais.

Perspectivas
Mendo acredita que os bens minerais destinados ao mercado interno devem registrar pequeno crescimento em 2009. “Já aqueles bens minerais transacionados no mercado internacional, a expectativa é que os mesmos, no primeiro semestre do corrente ano, deverão exibir fortes reduções de produção e vendas, quando compararmos suas estatísticas às do primeiro semestre de 2008: há, entretanto, esperanças que o segundo semestre já venha a mostrar alguma retomada”, afirma.
Segundo ele, de maneira geral os momentos de crise privilegiam o ouro, visto como reserva de valor. “No caso do Brasil, naqueles Estados nos quais os governos locais estão investindo fortemente em infraestrutura, os agregados para a construção civil deverão manter seu bom desempenho – o que deverá ser válido, também, para aquelas regiões do País onde o PAC estiver sendo eficazmente implementado. De qualquer forma, o fundamental é o minerador ficar extremamente atento às sinalizações de mudanças no Brasil e no mundo, com foco especialmente no lado da demanda, ressalta.

Agregados: recorde em 2008
“O ano de 2008 foi um marco da redenção da indústria de agregados, depois de muitos anos de estagnação e de redução de volumes de produção, faturamento e investimentos. A indústria de agregados acompanhou – e até superou – os excelentes índices de desempenho apresentados pelas indústrias da área de construção civil, como a de cimento, materiais para construção civil, asfalto, dentre outras, apresentando, por exemplo, crescimento de cerca de 18% para a brita na R
egião Metropolitana de
São Paulo, com a comercialização de mais de 35 milhões t ao longo do ano. A areia, igualmente, teve desempenho semelhante em todas as regiões do País. Tratam-se de números nunca antes alcançados e, para fins comparativos, os volumes produzidos e comercializados são até 54% superiores àqueles registrados em 2002, ano de menor produção e resultados da indústria de agregados nesta década”, conta Eduardo Rodrigues Machado Luz, presidente da Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para Construção Civil (Anepac).

Eduardo Luz destaca que as perspectivas para o corrente ano estão projetadas num cenário otimista, de manutenção no mínimo de indicadores de produção, comercialização e faturamento próximos daqueles registrados no ano de 2008, em que pese a crise que assola importantes segmentos da economia. “No entendimento da Anepac essa situação somente será alterada se houver, também, uma mudança radical nos cenários de investimentos em projetos do PAC por todo o País e, no caso especificamente de São Paulo, do grande volume de obras públicas e de infraestrutura, concebidas, projetadas e já divulgadas pelos governos municipal e estadual. Alinha-se a essa perspectiva o fato de que o governo federal deverá, para conter os efeitos da crise na economia brasileira, desenvolver programas efetivos de oxigenação da economia via investimentos em toda a construção civil, a partir de programas de financiamentos habitacionais, recuperação de rodovias, obras de infraestrutura (lembrando que o país lançou-se candidato a dois importantes eventos mundiais no setor esportivo), fatos que corroboram a conclusão de que não somente em 2009, mas também nos anos seguintes, o setor de agregados será demandado em volumes necessários a dar suporte a esses projetos”, afirma Luz.

DADOS DO BRASIL

2000

2005

2006

2007

População (milhões)

174,1

186,8 189,3 191,6

Crescimento populacional (% ano)

1,5

1,4 1,3 1,2

Área (km²)

8.514,9

8.514,9 8.514,9 8.514,9

PIB (US$ bilhões)

644,48

882,47 1.067,82 1.314,17

Evolução do PIB (% ano)

4,3

2,9 3,7 5,4

Inflação (% ano)

6,2

7,5 4,3 4,5

Consumo de Cimento (milhões t)

39,7

37,7 41,0 45,1

Consumo de Concreto (milhões m³)

50,9

48,3 52,6 57,8

Consumo de Agregados (milhões t)

357

331 398 422,51

Fonte: IBGE, DNPM, ANEPAC


Fonte: Padrão