Como desaguar uma mina em cava única, justamente no período de chuvas, e assim realizar a lavra do minério de forma eficiente e segura? Esse foi um dos dos trabalhos apresentados durante o 15º Workshop Opex 2024, promovido pela revista Minérios & Minerales, em junho, em Belo Horizonte, e que destacou o projeto: “Redimensionamento do sistema de bombeamento da cava da Mina do Salobo”, de autoria do time da Vale Metais Básicos, em Marabá (PA). O projeto resultou no aumento da lavra de minério para 2,4 Mt, no fundo da cava, e obteve uma economia de mais de R$ 34 milhões na implantação do sistema de bombeamento.
Principal mina de cobre da companhia, Salobo representa praticamente metade do ebitda deste “braço” da mineradora. Teve início das operações em 2012 com reserva estimada de 1,1 bilhão de toneladas a 0,62% de cobre e vida útil estimada em 50 anos.
Com tamanha importância, o projeto foi desenvolvido para superar um desafio, que era realizar a lavra do minério de alto teor durante o inverno – estação chuvosa – período em que a cava chegava a acumular até 2,7 milhões m³ de volume de água e seu desaguamento demorava entre três e quatro meses, ou seja, 131 dias, com vazão de 1.000 m³/h.
“Como é uma mina de rocha cristalina, a permeabilidade do solo é muito baixa, e a área de captação é de quase 3 milhões de metros quadrados e toda precipitação é drenada para o fundo da cava, então o desafio era fazer a lavra do minério de alto teor durante o inverno, período do fluxo de chuvas”, explicou Diogo Menezes, engenheiro de Minas e coordenador de confiabilidade operacional da companhia, um dos idealizadores do projeto, que complementou: “Como a mina é cava única, boa parte do minério de maior teor, estava no bottom pit (área do fundo da cava), para onde toda a drenagem era direcionada. Havia ainda o fator da segurança, devido às correntes de partida elevadas. O sistema precisava ser desmobilizado semanalmente para o desmonte de rocha, o que causava atrasos na programação da mina”.
Segundo Diogo, também no sistema antigo, para partir 4 bombas, eram necessários 10 profissionais, e, ainda, semanalmente, era preciso fazer o descomissionamento e o comissionamento de todo sistema. “Eram muitos desafios a serem enfrentados”, complementou.
Já o projeto de redimensionamento do sistema, oferecia melhorias em todos os aspectos. Para a segurança dos operadores, por exemplo, com a eliminação da necessidade de shutoff (empregado na linha pressurizada) durante a partida e reduzindo o número de atividades de movimentação de carga. O projeto também previa o aumento da vazão do sistema e reduziria o número de falhas durante a partida. E ainda seria implantado um sistema de fácil instalação e retirada, reduzindo para atender o desmonte.
SOBRE A INSTALAÇÃO DO SISTEMA
De acordo com o engenheiro, foi proposto então um sistema com aumento no número de estações (de 4 para 9 bombas de 500 cv). Devido ao teor de cobre, a água precisava ser bombeada para a barragem de rejeito, ser tratada e, só assim, liberada para a natureza.
A implantação foi realizada no período chuvoso entre 2022 e 2023, e entre 2023 e 2024. A partida de 9 bombas, fornecidas pela Sidrasul, passou a ser feita com 2 pessoas – antes eram 10 pessoas para 4 bombas. Cada partida levava de 6h a 8h. Agora, com controle de frequência, a partida é feita com mais tranquilidade, sem atuação em Shutoff (pessoas na linha), com todas as válvulas em aberto e com controle de nível mais preciso, mantendo a confiabilidade do sistema e evitando falhas.
Felipe Azevedo, engenheiro sênior da Vale Metais Básico responsável por dar sequência ao trabalho de Diogo Menezes no sistema de bombeamento da Mina do Salobo, destacou outros ganhos, como o controle de rotação das bombas, o uso de painéis elétricos, a inversão automática de fases e eliminação do içamento dos transformadores e painéis na saída dos equipamentos.
Com o projeto, a diferença de orçamentos chegou a mais de R$ 34 milhões, entre a execução por empresa contratada e a executada pela própria equipe (redução do custo em relação ao orçamento do projeto apresentado pela empresa contratada – R$ 48,8 milhões – e a revisão/execução pela própria infraestrutura da Mina do Salobo – R$ 14,6 milhões). E o aumento de lavra no fundo da mina foi de 2,4 Mt de minério com teor 0,88%.
Diogo informou, ainda, que a expectativa é ter no futuro um controle remoto, uma operação remota no sistema de bombeamento, com aplicação de tecnologias de fibra óptica. “Também temos outros trabalhos dentro da mina, de operação de escavadeiras elétricas, aumento de produtividade, controle e monitoramento da operação, treinamento de operadores, aplicação de simuladores e melhorias na própria operação”, finalizou.
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