A crescente demanda por lítio gerada pela transição energética tem transformado a região mineira do Vale do Jequitinhonha em eldorado das empresas dispostas a investir no mineral. Para o professor de engenharia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rossandro Ramos, as jazidas do local teriam capacidade de suprir 8,5% da demanda mundial de lítio. Vale lembrar que o descompasso entre a oferta global desse importante insumo e sua demanda levou a cotação a US$ 90 mil em 2022, o maior valor histórico.
Atualmente, o valor está na casa dos US$ 27 mil/t, ainda elevado. Estimativas da consultoria radicada em Londres BMI indicam que a oferta de Lítio em 2022 era de 678.000 t, face a uma demanda reprimida de 3.322.000 t, estimando-se para 2035 uma demanda de 4.000.000 t. Ramos esteve à frente de um evento inédito que tem como principal motor a corrida do lítio em curso no estado de Minas Gerais: “Lithium Business: Desafios, Limites e Oportunidades”, que se realizou de 3 a 5 de julho passado na cidade mineira de Araçuaí. Previsto inicialmente para ser uma conferência de uma tarde, o evento cresceu e vai reunir, além dos CEOs de cinco mineradoras dedicadas ao lítio, pesquisadores, investidores e outros stakeholders do que hoje se denomina “nova mineração”.
Com 5.000 habitantes, a cidade de Araçuaí ficou famosa mundialmente nos últimos meses com a entrada em operação do projeto Grota do Cirilo, da Sigma Lithium. A empresa, que está investindo US$ 3 bilhões no projeto, deve atingir, em julho, a taxa de produção anual de 277.000 toneladas de concentrado de espodumênio (mineral fonte de lítio). Os planos da empresa são de expandir a capacidade de produção para 766 mil toneladas em dois ciclos até 2024. Ana Cabral-Gardner, CEO da Sigma, foi uma das palestrantes.
Além dela, os CEOs das empresas Atlas Lithium, Marc Fogassa; da CBL ,Vinícius Alvarenga, que já opera uma mina subterrânea de lítio na região; da Lithium Ionic Corp, Hélio Diniz; e da Resource Latin, Christopher Gale, participaram do evento. Uma região tradicionalmente sofrida com baixos índices de desenvolvimento humano, a população do Vale do Jequitinhonha precisa participar ativamente dessa “janela de oportunidades”, ajudando a colocar em prática o que vem sido chamado de “nova mineração.
É o que defende o professor Rossandro Ramos. “A nossa perspectiva é que essa nova mineração, como temos chamado, seja responsável, inclusiva e racional. Tem que buscar agregar conhecimento, sobre os desafios, limites e oportunidades de que esse momento lítio possa trazer benefícios para o Vale do Jequitinhonha, que seja aditiva, e não subtrativa”. Um conceito, segundo ele, extraído da nova Revolução Industrial 4.0.“Em uma região que sempre teve vazio de oportunidades, esse evento dialoga muito com as práticas ESG das empresas.
Jamais vou romantizar a mineração, mas, sim, pautar a mineração”, diz o professor. E entre as premissas ambientais, sociais e de governança trazidas pela agenda ESG, Ramos avalia que a dimensão social é a mais importante. “A ambiental é importante, mas muitas vezes é feita por meio de plano de compensações, o S é um processo contínuo, tem que estar sempre observando a sociedade.
Um evento deste nível, com empresas canadenses e australianas, é uma possibilidade de intercâmbio que traz junto nova dinâmica para a região”. Isso significa oportunidade para formar capacidades locais. “As pessoas querem curso, querem ouvir palestra, querem conhecimento”.
E, para selar esse compromisso, ele defende que a região seja conhecida como “Vale do Lítio Jequitinhonha”, e não “Vale do Lítio Brasil” apenas, como vem sendo chamada pelo Governo de Minas Gerais. Em maio, o governador mineiro Romeu Zema lançou na Nasdaq, em Nova Iorque, o projeto Vale do Lítio (Lithium Valley Brazil), para promover o setor internacionalmente.
EM VEZ DE ACRÍLICO, FOLHAS DE BANANEIRA
Os exemplos dessa inclusão já começam a aparecer. A embalagem do brinde que foi distribuído aos participantes – uma pedrinha de lítio – seria uma caixinha de acrílico, item que seria importado de outra região. O professor conta que os organizadores tiveram a ideia de capacitar mulheres artesãs da região para que produzissem essa caixinha com folhas de bananeira. “Elas ficaram radiantes porque receberam uma encomenda de mil caixinhas”, diz Ramos.
Mais informações sobre o evento: https://www.even3.com.br/lithium-business/
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