O projeto tem como objetivo dobrar a capacidade de produçãodas atuais 6 milhões t para 12 milhões t de minério de ferro

A Mineração Usiminas S.A, que faz parte do conglomerado de empresas da Usiminas e foi formada em 2010 a partir de uma parceria com o grupo Japonês Sumitomo Corporation, está localizada na região de Serra Azul (MG) e detém ativos minerários com reservas potencialmente lavráveis estimadas em 2,6 bilhões t, além de uma retro área de 850 mil m2junto ao terminal portuário na região de Itaguaí (RJ). A Sumitomo Corporation comprou 30% da mineradora por US$1, 3 bilhão. Uma transação vantajosa para mineradora, já que a Usiminas havia comprado as reservas por US$ 1 bilhão.

“Por uma decisão estratégica, a Usiminas optou em adquirir reservas de minério de ferro. Antes disso, ela sempre comprava o insumo de terceiros. Com a escalada de preços na década passada, começando em 2004 e 2005, várias siderúrgicas optaram em adquirir reservas de minério de ferro para se proteger das flutuações do preço”, conta diretor executivo da Mineração Usiminas, Wilfred Theodoor Bruijn.

Uma vez adquiridas as reservas na região de Serra Azul, a empresa percebeu que além utilizar minério para ela mesma, poderia expandir a capacidade produtiva das reservas e comercializar no mercado doméstico e exportador.

Os contratos definitivos para o estabelecimento dajoint ventureforam celebrados em setembro de 2010. Em 2011, foi concluída uma serie de parcerias com outras mineradoras da região, como Ferrous, MBL e Ouro Negro, visando lavrar conjuntamente áreas que estão na divisa das empresas e ampliar o acesso às reservas, mediante a ampliação das cavas.

As unidades extraem o minério de ferro e o transformam empellet feed, sinter feede granulados, que são direcionados como insumo às plantas siderúrgicas da Usiminas ou comercializados no Brasil e exterior. A mineradora, que é conhecida por Musa, abreviação de Mineração Usiminas S.A, possui também uma participação indireta no capital da MRS Logística e participações societárias em terminais de embarque de minério.

Wilfred Theodoor Bruijn, diretor executivo da Mineração Usiminas

Assim que o complexo foi adquirido pela empresa, que inclui as minas Central, Oeste e Leste, também foi iniciada a expansão do Projeto Friáveis, dividido em duas fases e com investimento total previsto de R$800 milhões. O projeto tem como objetivo dobrar a capacidade de produção, dos atuais 6 milhões t para 12 milhões t de minério de ferro. Após a finalização da primeira fase do projeto, que está prevista para o terceiro trimestre desse ano com a entrega da ITM Samambaia, a Mineração Usiminas atingirá um novo patamar de produção e leque de produtos. Atualmente, o principal cliente da mineradora é a própria siderúrgica. Em 2013, dos 6 milhões t produzidas de minério, 4,5 milhões t serão adquiridos pela Usiminas e o restante vendido no mercado doméstico e exportação.

“A mineração é uma atividade que hoje goza de um bom momento em termos de mercado. Os preços do minério de ferro estão convidativos e têm se mantido em um bom patamar. Isso permite também que o ciclo de investimentos para expansão seja cumprido. Existe um motivo de orgulho da Mineração Usiminas em entregar a expansão no prazo e dentro do orçado, o que não temos visto recentemente em projetos de minério de ferro em geral”, destaca Bruijn.

A partir de 2010, já com a entrada da Sumitomo e apoio da empresa em todo o processo, foi aprovado e lançado o investimento para expansão que consiste na construção de duas plantas de beneficiamento, sendo uma na mina Oeste e outra na mina Central. De acordo Bruijn, as duas plantas serão interligadas por um sistema de dutos formado por um mineroduto, um rejeitoduto e um aquaduto. A distância entre as plantas é de 8 km, sendo o mineroduto e o rejeitoduto na mesma direção e o aquaduto em outra.

“A ideia central das duas plantas é realizar o aproveitamento dos finos de barragem. Quando compramos as reservas da família J. Mendes, percebemos que dentro das duas barragens de rejeitos existia minério que poderia ser reprocessado. A grosso modo, temos 25 milhões t de rejeitos e isso será reprocessado na nova planta e produzirápellet feedbastante rico, com 66% de teor ferro. Um bom produto para exportação e também para siderúrgicas que tenham planta de sinterização”, explica o diretor.

Além do término da expansão, a mineradora aguarda o início das operações do porto da MMX em Itaguaí (RJ). “O porto da MMX já sofreu atraso de um ano. Esperamos que entre em operação o mais rápido possível. Caso as operações se iniciem em 2014, essa passo representará para a Musa um salto de disponibilidade de venda e entrega no mercado”, completa o diretor. A mineradora espera também que o preço do minério de ferro se situe nos patamares acima dos atuais, com cotação em US$ 130.

Circuito seco da ITM Samambaia, Projeto Friáveis

Redução de custos

Entre as estratégias de redução de custo apontadas pelo diretor, a principal faz parte do próprio processo da nova planta, uma vez que a empresa ganhará em escala e terá diluição maior do custo fixo.

“Como vamos recuperar rejeitos de barragem, que está ao lado da planta, temos pouco custo para aquele insumo. Ou seja, aquele minério que está lá, já teve o custo incorrido em anos anteriores. Ele sairá a um custo baixíssimo, apenas de remoção, retirada e envio para planta. Então, essemixde maior escala e retirada de finos de barragem, faz com que no geral a redução de custo se dará por ai”, explica o diretor.

Outro ponto que irá gerar redução de custo é o estoque de granulado de minério de ferro que a Musa possui. Segundo Bruijn, esse granulado, não tem saída tão forte para o mercado. Então, um dos objetivos dessa nova planta é também bri
tá-lo e transformá-lo emsinter
feed
de qualidade para exportação. Esse processo fará o estoque diminuir, consequentemente, gerando caixa em cima de um produto estocado. A redução de custos no processo se dá também pelo desenho das plantas, devido a distância média de transporte (DMT) ter sido estrategicamente projetada para as estruturas estarem próximas.

Outra estratégia que otimizará custos é o tamanho da equipe. De acordo com o diretor, parte do efetivo que trabalha na planta da mina Central será transferido para a nova planta Samambaia, que será a primeira a entrar em operação do Projeto Friáveis. “Sairemos de 1.050 para 1.200 funcionários, otimizando as funções e processos em ambas as plantas. Por exemplo, na atividade de manutenção, nos não iremos ter pessoas alocadas para plantas individualmente. Teremos profissionais que irão se revezar na equipe”, explica.

Equipamentos

Quando a Usiminas adquiriu as reservas do grupo J. Mendes, recebeu também toda a estrutura montada e a frota de equipamentos que fazia parte da mineradora naquele momento. De acordo com o diretor, a Musa passou a operar com os equipamentos presentes, como caminhões Scania de 30 e 34 t. “Na medida que vislumbramos um nível de produtividade, um dos primeiros passos foi avaliar a frota. Concluímos que precisávamos adicionar equipamentos maiores, como caminhões de 70 t e, com a entrada do novo investimento, caminhões de 100 t da empresa Randon Perline, que já estão operando”, diz o diretor.

Além dos caminhões, a frota recebeu escavadeiras, pás-carregadeiras, perfuratrizes, tratores, entre outros. Todos os equipamentos foram atualizados para o novo patamar de produção. Atualmente, a mineradora não tem previsão em adquirir novos equipamentos. A estratégia é, quando necessário, substituir ou modernizar equipamentos, principalmente quando tiver início a fase 2 da expansão da Musa.

Projeto Compactos

De acordo com Bruijn, não só a Mineração Usiminas, mas as mineradoras da região de Serra Azul em geral, possuem a mesma geologia, na qual a mina é formada de 10% de minério friável e 90% de minério compacto. Atualmente, o minério friável é lavrado por todas as empresas de Serra Azul, mas ele representa apenas 10% da reserva total. Já o minério compacto precisará ser lavrado, mas demanda um processo de beneficiamento mais intenso. “Extrair o minério muito compactado, separá-lo de impurezas como sílica, alumina, fósforo, e processá-lo, demanda muita energia e uma planta de beneficiamento maior. Então, é um investimento que tenderá ser mais substancial do que o do Projeto Friáveis”, aponta o diretor.

Segundo ele, o minério friável terá aproximadamente mais 12 anos de vida útil. Após esse período, para continuar a produção, a Musa necessitará estar com o Projeto Compactos operando, que, segundo os primeiros estudos, terá uma vida útil de 50 anos ou mais.

Hoje no Brasil ainda não existe em operação nenhum projeto que utilize minério de ferro compactado nesse nível de dureza, como explica o diretor da Musa. “A Vale hoje tem um projeto em Conceição, no Complexo Itabira, que está em fase final de instalação de uma planta para tratamento de itabirito duro, que é similar. Mas oWork Index(WI), índice que determina a dureza de minério, é um pouco inferior ao de Serra azul. E, por sua vez, Serra Azul tem o WI inferior aos minérios canadenses e americanos. No Brasil não temos nada similar sendo instalado, por outro lado, a tecnologia no mundo existe”. O minério compacto de Serra Azul possui nível de WI em torno de 10. Os minérios canadenses, por sua vez, possuem WI acima de 13.

O Projeto Compactos, que faz parte da fase 2 da expansão da Usiminas Mineração, tem grande importância para empresa e está em fase final do desenvolvimento de engenharia do projeto e, segundo o diretor, muito provavelmente, até o final de 2013, com o projeto pronto no papel, ele será levado para aprovação dos conselhos de administração da Musa e da Sumitomo. Nesse momento é que será tomada a decisão de iniciar a implantação. “Embora os estudos não estejam finalizados, estamos trabalhando com cenário base de produção de 14 milhões t de minério compacto na expansão da fase 2. O produto derivado desse projeto será todo ele depellet feed”, completa o diretor.

Ainda sem expectativa de implantação, um possível entrave para aprovação do projeto pelos acionistas é a questão portuária, uma vez que, para comercializar 14 milhões t de minério oriundos do projeto, é necessário uma estratégia de escoamento eficaz. A Musa é acionista da MRS e possui um contrato de longo prazo com a empresa, o que possibilita o escoamento ferroviário. No entanto, a distribuição através de portos ainda necessita ser equacionada. “Não posso chegar para o acionista e dizer: ‘temos um ótimo projeto, mas não temos porto’. Com certeza ele vai me pedir para voltar quando estiver resolvida essa pendência”, ressalta Bruijn.

Atualmente, a mineradora exporta através dos portos em operação da CSN e da Vale, ambos em Itaguaí (RJ). Esses portos abrem uma pequena quantidade de espaço para terceiros, devido o contrato com a Docas, que obriga a oferta entre 10 a 15% de oferta para terceiros.

Outro ponto que impacta diretamente no destino do projeto é o capital de investimento. Segundo o diretor, atualmente, a Musa tem um caixa “bastante saudável”, sem dívidas, e contínua geração de caixa com as operações do dia-a-dia. Devido à situação positiva, Bruijn prevê que a captação de recursos não seja elevada.

Pilha de pellet-feed da ITM Oeste

Mercado de minério de ferro

“O mercado de minério de ferro está muito flutuante. Se analisarmos os últimos dois anos, através do indicador Platts, que é uma referência para o preço do minério de ferro chegando na China, que inclui todo o frete marítimo, o ponto mais alto da cotação esteve em US$ 180 e o mais baixo US$ 90. Hoje, enquanto falamos, a cotação está em US$ 120. Um pouco abaixo da média dos dois extremos”, avalia Bruijn. Ainda segundo o diretor, a mineradora trabalha com o patamar médio de cotação para esse ano de US$ 130. “Para 2014, o que
norteia o preço do min&ea
cute;rio de ferro é o que está no primeiro capítulo de qualquer livro de economia: demanda e oferta. Existem novos projetos e novas capacidades produtivas sendo entregues no mercado mundial. No entanto, não enxergamos no Brasil um grande diferencial nesse cenário. A tendência é que todas as empresas em seu conjunto produzam mais ou menos igual a 2013. Para 2014, eu diria que não existem forças de mercado que levem esse preço para menos de US$130”, completa.

Novo Marco Regulatório

Questionado sobre o novo marco regulatório da mineração, Bruijn afirma que “a primeira notícia não é boa, porque implica em maior custo para mineração. Entendemos que nos últimos anos a atividade mineral tem sido lucrativa, mas também já foi deficitária. Em meados dos anos 1990, explorar minério de ferro no Brasil era quase que prejuízo. Não pagava os investimentos. Hoje, falamos a outro patamar de preço”. Ainda segundo Bruijn, a atividade de mineração já paga muitos impostos em PIS/COFINS, ICMS e IR, então a mudança na Cfem aumentará ainda mais a carga tributária para o setor.

Outro ponto destacado pelo diretor é a criação da Agência Nacional de Mineração (ANM). Para ele, é uma ação bem-vinda, uma vez que a agência atue tecnicamente e não politicamente. “Uma agência que de fato atue e possa ajudar o setor a se organizar e ter menos informalidade, isso vemos com bons olhos”, comenta.

Sobre as questões ambientais, o diretor lembra que existe uma grande expectativa para que elas também sejam melhoradas. Sob sua ótica, não deve ser facilitada, porque o mundo precisa de regras ambientais. “A atividade de mineração é impactante, no entanto, é muito mais no aspecto visual do que realmente na degradação dos ambientes. Existem várias técnicas para minimizar os impactos e esses custos precisam estar inseridos dentro da cadeia de produção do minério. Precisamos também ter um nível de profissionalização nos órgãos ambientais, que perdem bons profissionais para iniciativa privada”, destaca.

Mineração e seus desafios

Para o executivo, a mineração cada vez mais necessita alcançar um nível maior de maturidade para se relacionar com as comunidades em que atua. Sempre dentro de limites, já que a atividade mineral não deve ser a única provedora de soluções para convivência em centros urbanos.

Entre os desafios ambientais, o diretor ressalta a importância do conhecimento em relação ao que a mineradora pode impactar e como pode remediar. “Nós temos um exemplo bastante atual na Musa. Compramos um terreno no Rio de Janeiro que servirá de retroárea portuária. A empresa que era dona do terreno faliu e deixou um passivo ambiental gigante. O maior passivo do Estado do Rio de Janeiro. Assim, junto com a compra do local veio a obrigação de remediar ambientalmente o terreno. Nós investimos R$ 100 milhões e concluímos a remediação total. Hoje, o Rio de Janeiro tem uma boa bandeira para levantar dizer e ‘esse que era o maior passivo ambiental, não é mais’”, finaliza.