Nem mesmo as grandes economias emergentes, denominados Bric, saíram ilesas dos efeitos da crise econômica. Uma prova disso é a substancial queda das exportações brasileiras para os países da sigla: Rússia, Índia e China. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), revelam que, na variação de setembro a outubro desse ano, as exportações caíram 35,7%, 6,4 e 20,7%, respectivamente, como ordena a sigla. De acordo com analistas consultados pelo DCI, os dados representam um dos piores momentos da crise, quando o cenário de comércio internacional apresentou maior travamento. Entretanto, as mazelas devem continuar nos próximos meses.

Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a tendência é que essas quedas continuem sucessivas.
“Estamos sentindo, por enquanto, a queda dos preços, mas logo veremos a redução das quantidades”, informa. Castro afirma também que, embora os dados atualizados ainda não estejam computados, novembro foi um verdadeiro “caos” nas exportações para a China. Quanto aos números de outubro, o representante disse que no caso da Rússia o problema foi a redução de importação de alimentos, como a carne suína, fato que, indiretamente, tem a ver com a redução da demanda. Para a China, a queda de cotação das commodities e adiamento das importações no país foram cruciais para o dado negativo. “Já na Índia o comércio com o Brasil é pequeno, embora seja muito populoso. Não dá para apontar uma causa”, informa, destacando que 2009 será um ano extremamente difícil para o setor exportador.

O comércio com a China no acumulado do ano somou, até outubro, US$ 15,1 bilhões em exportações e US$ 16,9 bilhões em importações. O resultado representa um aumento em relação a 2007 de 63% e 66,5% respectivamente, além de consolidar um déficit ao Brasil de US$ 1,8 bilhão. Já no comparativo de setembro a outubro, houve uma queda de 20,7% nas exportações do País para a região, totalizando US$ 1,4 bilhão. As importações apresentaram leve alta de 1,22%, cravando US$ 2 bilhões.

A Rússia registrou, de janeiro a outubro, um aumento na compra de produtos brasileiros de 41,1%, chegando em US$ 4,2 bilhões. No entanto, as importações brasileiras originárias dos russos avançaram 138,6% no ano, somando US$ 3 bilhões. Os dados apontam para um superávit de US$ 1,1 bilhão ao Brasil. O problema é que os reflexos da crise aparentam ser agressivos no comércio entre os dois países. Na variação de setembro para outubro de 2008, as exportações brasileiras caíram 35,7% à Rússia, para US$ 378,2 milhões. Resultado semelhante ao das importações, que reduziram 35,7%, ficando em US$ 378,2 milhões.

Já o outro representante dos Bric, a Índia, tem sido o mercado onde o déficit brasileiro é mais latente nesse ano, somando US$ 2,1 bilhões. Os números são decorrentes do baixo aumento das exportações ao país, de apenas 9,6%, que representam US$ 912,3 milhões.
Já as importações tiveram significativa relevância, somando US$ 3 bilhões, fruto de um verdadeiro boom no ano, crescendo 95,3% no ano. O país tem cada vez mais se caracterizado como um grande exportador de serviços de alto teor tecnológico. Porém, mesmo a tendência crescente das importações originárias do país foi interrompida entre setembro e outubro. O volume reduziu 31,5%, ficando em US$ 340,7 milhões no mês. Já as exportações caíram apenas 6,4%, ficando em US$ 100,4 milhões.

Para o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Antônio Corrêa de Lacerda, é preciso analisar com cautela esses números, porque eles não representam o cenário de 2009. “Nada indica que essa queda seja significativa para projetar os próximos 12 meses. Nesse período estávamos no epicentro da crise e esses mercados estavam em dificuldade.”

Lacerda disse que as exportações irão cair no próximo ano, mas não na mesma proporção diagnosticada nesse último mês. Inclusive, o economista acredita que o Brasil precisa apostar no potencial de crescimento dos países emergentes. “A economia mundial depende deles para o crescimento. Aliás, o Brasil tem um market share muito pequeno nesses países. Com isso, certamente seria mais fácil crescer o comércio com esses emergentes”, sinaliza. Para o acadêmico, a crise afetará nossas exportações de diversas maneiras: pela queda do preço, menos crédito e desaquecimento econômico. Porém, crescerá moderadamente.
Fonte: Padrão