A Vale, Petrobras e Gerdau contribuíram para que o Brasil se tornasse o segundo maior investidor externo, entre os países em desenvolvimento, atrás apenas de Hong Kong, em 2006, em termos de fluxo de investimento direto estrangeiro (IDE).

A conclusão é fruto de um estudo publicado hoje em conjunto pela Fundação Dom Cabral (FDC) e pelo Columbia Program on International Investment (CPII), da Universidade de Columbia, em Nova York. De acordo com dados divulgados pela pesquisa, pela primeira vez desde que estatísticas oficiais foram disponibilizadas, o fluxo de saída em 2006 (US$ 28 bilhões) foi maior que o de entrada (US$ 19 bilhões). Embora não haja garantias que esta seja uma tendência no futuro, os pesquisadores prevêem que os dois fluxos devem ficar em níveis relativamente altos. Além de se tornar o segundo maior “exportador” de investimentos entre os países em desenvolvimento, o Brasil foi considerado o maior investidor externo da América Latina, sendo que boa parte desses fluxos em forma de fusões e aquisições. De acordo com o Banco Central do Brasil, em 2005 a maior parte do investimento foi em serviços financeiros (49%), seguido por serviços profissionais (36%) e petroquímicos e energia (4%). A maior parte está localizada na América Latina e Caribe (56%), seguido pela Europa (36%) e América do Norte (7%). O levantamento classificou as multinacionais brasileiras em um ranking, que contempla 20 companhias. Juntas, estas têm US$ 56 bilhões em ativos no exterior, o equivalente a mais da metade do estoque de IDE brasileiro. Este montante mais do que dobrou entre 2005 e 2006, influenciado pela aquisição da Inco (Canadá) pela Vale em valor superior a US$18 bilhões em 2006. Como percentual do ativo total das empresas, o ativo das Top 20 no exterior varia de 1% a 46%, sendo que apenas duas empresas têm ativos no exterior de mais de US$10 bilhões. Para o grupo como um todo, em 2006, os ativos no exterior são de 20% do seu total de ativos, comparados com 12% em 2005 (esse aumento é devido principalmente à aquisição da Inco pela Vale). Em uma análise comparativa, as 100 maiores multinacionais de países em desenvolvimento possuíam 33% em 2005, isso indica que as brasileiras ainda têm uma distância considerável a percorrer até alcançar a média de suas concorrentes, especialmente as asiáticas. O número de funcionários no exterior das Top 20 quase dobrou de 2005 para 2006. Três delas (lideradas pela Odebrecht) têm mais de 10 mil empregados no exterior. A média de empregados no exterior frente ao número total de funcionários para as Top 20 é de 19% (comparado a 39% para as 100 maiores multinacionais de países em desenvolvimento). Já no que se refere à distribuição por setor, foi observada uma grande concentração na exploração de recursos naturais, com duas empresas (Vale e Petrobras) representando mais de dois terços dos ativos no exterior das Top 20. Um segundo grupo, composto de empresas que fornecem insumos para outras indústrias, representa mais de 19%. As multinacionais brasileiras que produzem bens acabados e empresas de serviço representam cerca de 6%, respectivamente, deixando menos de 1% para a única empresa de bens de consumo, a Natura. Outro dado identificado pela pesquisa diz respeito à produção e vendas no exterior das afiliadas chegaram a US$30 bilhões no ano passado, ou o equivalente a um sexto das vendas totais destas empresas. Seis têm produção e vendas de mais de US$1 bilhão no exterior, e uma (Petrobras) acima de US$10 bilhões. As vendas no exterior aumentaram 14% em 2006, o que representa metade do crescimento dos ativos. As vendas no exterior e, portanto, a produção das Top 20, equivalem a cerca de um quinto das exportações do país em 2006. Para financiar a expansão para o exterior, estas empresas podem usufruir de reservas internacionais de capital, sendo que oito das dez primeiras do ranking estão listadas tanto na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) quanto na Bovespa, de São Paulo. A pesquisa também revela que metade das Top 20 está sediadas em São Paulo e são todas privadas (exceto Petrobras). As duas maiores (Vale e Petrobras) representaram em conjunto mais de dois terços dos ativos estrangeiros das 20 maiores empresas. Se for considerada a empresa na terceira posição, Gerdau, o conjunto responde a mais de três quartos de todos os ativos no exterior das Top 20. Das 18 principais multinacionais que responderam a esta questão no questionário de pesquisa, apenas quatro começaram a estabelecer filiais estrangeiras entre 1990 e 1996, e algumas outras a partir de 1997 – em outras palavras, elas são jovens multinacionais. O resultado dessa pesquisa será analisado durante o Seminário Internacional “Consolidação Regional e Expansão Global das Empresas Multinacionais Latino-Americanas”, em São Paulo, nos dias 6 e 7 de dezembro. No evento, executivos das empresas classificadas participarão de painéis e irão discutir as principais questões e desafios relacionados às estratégias de internacionalização de multinacionais brasileiras.
Fonte: Padrão