Agência Estado
A Vale obteve ontem, em Londres, uma importante vitória em sua tentativa de fazer uma oferta pela mineradora anglo-suíça Xstrata, avaliada em até US$ 90 bilhões. Em Londres, representantes de 12 grandes bancos deram sinais ao diretor financeiro da empresa, Fábio Barbosa, que estariam dispostos a financiar parte da operação – US$ 50 bilhões – sem a exigência de garantias adicionais, como chegaram a cogitar numa reunião na quarta-feira.
O sinal verde dos bancos veio depois que representantes da Vale se encontraram com executivos de duas agências de classificação de risco, que servem de referência para negócios. Hoje, a Vale tem notas de risco que lhe asseguram o status de grau de investimento, o que garante acesso a financiamentos com as mesmas taxas de juros dos principais rivais internacionais. Havia um receio entre os bancos que a Vale poderia aumentar demais seu endividamento ao fazer a oferta pela Xstrata e, por isso, ser rebaixada.Com o rebaixamento, a Vale teria mais dificuldade para se financiar e o risco dos bancos aumentaria. Por isso, eles exigiram incluir uma cláusula no contrato de oferta da Xstrata, prevendo um aumento na taxa de juros caso a Vale perdesse o grau de investimentos. Ontem, a Vale conseguiu superar o problema ao apresentar seus planos e estatísticas para duas das principais agências de risco, a Standard & Poors (S&P) e a Moodys, revelaram fontes próximas à negociação. As agências deram indicações que a Vale provavelmente não perderia o grau de investimento, segundo fontes ligadas à operação, porque teria folga financeira para se proteger. Com a sinalização das agências, caiu a exigência dos bancos vigente até o dia anterior. O negócio, cujo valor pode atingir entre US$ 80 bilhões a US$ 90 bilhões – o maior já envolvendo uma companhia brasileira -, fica mais próximo agora, já que do ponto de vista financeiro a mineradora praticamente já fechou a negociação. O plano da Vale é obter um empréstimo com os bancos e bancar o resto do negócio com a oferta de ações preferenciais. Sobra agora o front político, principalmente o convencimento do governo federal, que participa diretamente ou tem influência indireta no grupo de controle da Vale. A decisão sobre a realização da oferta será tomada em uma reunião do Conselho de Administração da empresa. O governo tem poder ou influência sobre os votos do BNDESpar ( o braço de participações do BNDES) e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, o maior acionista individual da Vale).
O presidente da Vale, Roger Agnelli, também já articula com outros sócios, como Bradespar (Bradesco) e o grupo japonês Mitsui. A posição oficial do governo brasileiro sobre o negócio ainda não é conhecida. Uma fonte do governo ouvida pelo jornal Valor Econômico afirmou que o negócio poderia ser “caro”, “complicado” e “prejudicial aos interesses do país”. Procurados ontem, os ministérios de Minas e Energia e Casa Civil não quiseram se pronunciar sobre o assunto, assim como o BNDES e a Previ. Resistência Fontes do governo disseram ao Estado que não há um consenso no governo sobre o que fazer. Haveria uma resistência política à crescente internacionalização da Vale. Essas mesmas fontes do governo dizem que a Vale tem tentado contornar essa resistência com o argumento que outras empresas que têm influência do governo, como a Embraer e a Perdigão, também tem se expandido para o exterior e não encontraram resistência política. A Embraer tem uma fábrica na China e a Perdigão comprou uma empresa de alimentos, a Plusfood, na Europa. A Vale também teria argumentado que a compra da Xstrata é importante para diversificar sua base de atuação. O presidente da Vale, Roger Agnelli, conversa com freqüência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já ouviu cobranças do presidente para que a Vale invista mais no Brasil. A resposta de Agnelli foi tentar atrair cinco novas siderúrgicas para o País. Estava previsto para ontem à noite um jantar entre Agnelli e Lula, no Rio de Janeiro, na casa do governador do Rio, Sérgio Cabral.
Fonte: Padrão
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