Segundo o fabricante, o transportador com vagões sobre trilhos consegue ser até seis vezes mais eficiente quanto ao consumo de energia, combustível, manutenção, mão de obra e refrigeração
que uma frota de caminhões

Vinícius Costa

Maior mineradora brasileira e uma das cinco maiores do mundo, a Vale opera a mina Copper Cliff em Sudbury, no Canadá, onde está em atividades há mais de 100 anos extraindo níquel na região que abriga alguns dos maiores depósitos desse mineral no mundo. Uma das primeiras minas de Sudburry e aberta em 1886, a Copper Cliff no momento, e mais precisamente no corpo de minério número 114, põe em testes um novo sistema transportador de minério sobre trilhos fornecido pela empresa Rail-Veyor, que dá nome ao equipamento, a ser empregado na retomada de produção da mina, atualmente paralisada devido à crise financeira de 2008.

O sistema de origem francesa, mas com patente comprada pela empresa canadense, é composto por 53 vagões semicilíndricos sobre trilhos ligados por abas flexíveis que impedem o vazamento do minério, com 2,44 m de comprimento por 0,76 m de diâmetro cada, podendo fazer curvas de até 30º a velocidade de até 32 km/h. O trem é movimentado por uma série de estações de acionamento, localizados a cada 140 m, que utilizam pneus para tracionar as paredes laterais dos vagões. Em qualquer momento, o Rail-veyor está em contato com pelo menos três estações de tração para que tenha empuxo seguro de aceleração e frenagem.

Sistema sobre trilhos está hádois anos em testes na Vale

No sistema desenvolvido para a mina, existem duas rampas, uma para acesso de equipamentos de rodas e funcionários, por onde o ar limpo entra, e outra somente para o Rail-veyor, na qual o ar contaminado retorna para a superfície. Uma série de cortes transversais espaçados ao longo das duas rampas paralelas servem como áreas de carga, onde uma LHD despeja o minério nas entradas das galerias que será transferido por outro equipamento para o trem. Serão necessários um total de 12 ou 13 entradas laterais ao longo das rampas quando o projeto estiver em fase de operação industrial, a partir da continuidade do desenvolvimento dos túneis.

Durante o carregamento de minério o trem se movimenta a uma velocidade de 0,3 m/s, chegando a 3 m/s em subida com carga total e diminuindo para 1,5 m/s no descarregamento na superfície, quando os vagões entram em looping invertido para despejar o minério por gravidade. São ao todo oito minutos para carregar o trem e o ciclo total desde a carga até o retorno ao subsolo dura entre 17 a 20 minutos. A área de descarga pode futuramente receber, quando o sistema estiver em operação industrial, equipamento para carregar caminhões, ou simplesmente seguir direto até a planta de beneficiamento.

Rail-veyor se caracteriza por oferecer baixos custos operacionais e de manutenção, operação automatizada e contínua, que proporciona maior segurança, facilidade de manutenção e, por utilizar eletricidade como fonte de energia, sua operação elimina a emissão de monóxido de carbono, questão chave em minas subterrâneas. Podendo carregar até 1 t em cada vagão por viagem, segundo estudos, comparativos ao transporte por caminhões, o Rail-veyor consegue ser até seis vezes mais eficiente quanto ao consumo de energia, combustível, manutenção, mão de obra e refrigeração. Além disso, o sistema é capaz de operar os carros tanto na posição vertical quanto invertida.

Segundo Dan MacIntyre, gerente de projetos da Vale, esse projeto tem grande valia para a mineradora. “Consideramos o sistema como algo que poderemos utilizar futuramente nas nossas operações em Sudbury, assim como em nossas minas ao redor do mundo. A Vale está muito otimista sobre o projeto. Com essa tecnologia, vamos ser mais eficientes em produtividade, segurança e até em relação ao meio ambiente”, explica.

Mapa da região de Sudbury com principais minas e plantas

Comparado a uma operação tradicional onde as galerias têm que suportar a passagem das LHDs, ou seja, têm que ser maiores, com dimensões por volta de 6 m de largura por 6 m de altura em média, a operação com Rail-veyor usa túneis de 3,6 m de largura por 3 m de altura, explica o gerente. “As galerias abertas são menores, portanto, a instabilidade também. Outro ponto a ser ressaltado é que como não há um operador no trem dentro da mina, uma vez que todo o controle é feito na superfície, o nível de segurança do sistema é maior”.

Atualmente, o trem em testes é comandado via wireless e tem apenas 1 km de transportador, operado por quatro funcionários se revezando em turnos de 6 horas. A sala de controle na superfície conta com câmeras que mostram o carregamento, a movimentação e todos os controles de pesagem. No subsolo, existe uma área de manutenção, caso seja necessário qualquer tipo de intervenção nos carros.

Além do sistema ter a possibilidade de receber tanto upgrade quanto downgrade, quando o trem desce descarregado ele mesmo gera a energia que é utilizada para iluminação do túnel e de outras necessidades menores. Esse projeto já custou até o momento para a Vale C$ 49 milhões durante os dois anos de testes, sendo que outras mineradoras, como a Barrick, Goldcorp e a Fortescue Metals Group já foram até o local interessadas pelo sistema.

A história de Sudburry

Constituída em 1901 como uma cidade industrial e em 1973, devido à reestruturação municipal deliberada pelo governo de Ontário reintegrada com sua vizinha para a criação do município de Sudbury, Copper Cliff é responsável por grande parte da produção de níquel da Vale no Canadá, que assumiu o controle da Inco em 2006. Na região, que em maior parte abriga minas subterrâneas com corpos de minério de níquel sulfetado, além de jazidas de cobre, cobalto, PGMs, ouro e prata, a empresa consegue processar grande parte dos minerais em suas plantas de tratamento, fundição e refino. Já o minério oxidado de níquel tratado no smelter de Sudbury precisa ser transportado para refinarias no País de Gales, Taiwan, China e Coreia do Sul.

Os vagões sobre trilhos do sistema Rail-Veyor

A área abriga duas importantes minas, a Copper Cliff South, atualmente sem produção e localizada em parte diretamente abaixo da cidade, e a Copper Cliff North, que emprega aproximadamente 300 pessoas e foi responsável em 2011 pela produção de 892.000 t de níquel e cobre. As operações em Copper Cliff são realizadas desde 1886 quando a Canadian Copper Company adquiriu seu direito minerário.

Devido ao acidente na mina em janeiro de 2012, paralisando suas operações por duas semanas, e às paradas para manutenção nas minas e na planta de processos de Clarabelle Mill, a produção de níquel no ano passado foi inferior a 2011, apresentando produção total de 65.000 t em Sudbury.

Com vida útil até 2040 e reservas provadas de 59,8 milhões t (teor de 1,5 % de níquel), as operações em Sudbury, que tiveram início pela gestão da vale em outubro de 2006, após a aquisição da Inco, necessitam de uma quantidade elevada de energia elétrica. Para isso, a Vale conta com usinas hidrelétricas que consistem de cinco unidades, de geração separadas, cada uma com capacidade instalada de 56 MW, responsáveis por produzir parte da eletricidade consumida pela mineradora. O restante é fornecida pela rede da província de Ontário..

Com conclusão prevista para 2016, a Vale investirá US$ 2 bilhões para alterar o método de fundição em Sudbury, passando a utilizar apenas um forno, minimizando assim as emissões de CO2sem afetar a produção de níquel.

Área subterrânea das operações da Vale em Sudbury