Com a ajuda da recente desvalorização cambial, a rentabilidade das exportações brasileiras atingiu o patamar mais alto dos últimos quatro anos. O aumento na margem de lucro superou com folga os descontos concedidos aos clientes. Segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a rentabilidade das exportações cresceu 16,5% entre setembro e outubro, graças à desvalorização do real.
No mês passado, o dólar ficou, na média, em R$ 2,18, 17,5% acima do R$ 1,80 registrado em setembro. O aumento da margem de lucro das vendas externas superou com folga a alta de 1,7% nos custos e a queda de 1,9% nos preços. Em relação a outubro de 2007, a rentabilidade subiu 32%.

A dificuldade para os exportadores, agora, é encontrar comprador para os produtos, porque a demanda externa foi prejudicada pela crise global. O clima é mais otimista entre os fabricantes de bens semi-duráveis, como calçados e têxteis, cuja demanda é menos sensível à crise. Para os exportadores de bens de capital e bens duráveis, como automóveis, o cenário é mais complicado, porque essas vendas dependem de crédito e tendem a ser mais prejudicadas em tempos de insegurança na economia.

“A mudança cambial trouxe ganho expressivo para o exportador, pois os preços dos produtos já estavam em patamares recordes”, disse Fernando Ribeiro, economista da Funcex. A rentabilidade da exportação em outubro superou em 5,6% os níveis de 2004, quando o dólar médio estava em R$ 2,90, patamar mais favorável para as vendas que o atual. A diferença está nos preços de exportação, que em outubro estavam 90% acima dos observados em 2004.

Os preços cobrados pelos exportadores recuaram 1,9% em outubro em relação a setembro, segundo a Funcex. A queda foi de 3% para os produtos básicos, por conta da queda das commodities, e de 0,9% nos manufaturados. Para compensar o câmbio, os exportadores brasileiros concederam descontos. No acumulado do ano, os preços de exportação ainda sobem expressivos 29,7%, com alta de 47% para os básicos e 18% para manufaturados. A quantidade exportada pelo país caiu 1,7% de janeiro a outubro.
Nos manufaturados, a perda chegou a 4,7%.

No setor de bens de capital, a margem de lucro também melhorou, mas o mercado continua parado e os empresários não estão otimistas. Mônica Vader, diretora da Máquinas Ferdinand Vaders (Feva), contou que perdeu duas vendas para o México e uma para a Colômbia, devido à falta de crédito e ao receio das clientes em investir num momento desfavorável. Em compensação, a Feva vendeu outras três máquinas para o Equador, cuja economia é dolarizada. Os clientes de lá resolveram aproveitar. “Vendi três máquinas da noite para o dia. O mercado está muito estranho”, disse Mônica.

O dólar mais caro também tem impactos negativos sobre as empresas. Na Lupo, que tem 30% de seus insumos atrelados à variação do câmbio, a alta da moeda implicou aumento de custos. “Eles subiram 12% neste ano”, disse Cabral, que elevou em 7% os preços dos produtos que serão entregues a partir de janeiro – no caso dos encomendados até outubro, e que chegarão aos clientes até dezembro, as cotações foram mantidas.

Alguns economistas têm uma visão menos otimista sobre as perspectivas para as exportações. Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o câmbio mais desvalorizado poderá ajudar as empresas no curto prazo, num momento em que regiões como América Latina, Oriente Médio e Ásia ainda crescem a taxas razoáveis. No ano que vem, contudo, a situação será diferente, avalia ele.

Com a perspectiva de desaceleração generalizada da economia global, a demanda externa vai diminuir, tornando o impacto do câmbio bem menos relevante.
Vale espera que os preços das exportações sigam em queda – assim como os das importações. Em outubro, aliás, as cotações das compras externas recuaram 4,2% em relação a setembro. No acumulado do ano, ainda sobem 23,8%. Já o volume importado continua a crescer. Aumentou 4,5% sobre setembro, elevando para 22,1% a alta no ano.
Fonte: Padrão