O minério de ferro extraído terá baixo teor (média de 20%), mas será processado para obter um produto premium com teor de 66,5%. Com essa abordagem de concentração, a Sul Americana de Metais (SAM) promete quebrar paradigma na mineração no complexo que vai erguer no norte de Minas Gerais, na região de Grão Mongol uma das mais subdesenvolvidas no estado com previsão de entrar em operação em 2025.

O investimento total no projeto é de US$ 2,1 bilhões, sendo US$ 74 milhões já aplicados em pesquisas geológicas, desenvolvimento de engenharia e estudos ambientais. A capacidade de produção nominal do empreendimento é de 27,5 milhões t de pellet feed.

A SAM pertenceu a Votorantim, que a criou dentro de sua área de novos negócios em 2006. Em 2010, ganhou parceira chinesa, que adquiriu a totalidade da empresa em 2016.

A companhia chinesa é a Honbridge Holdings, de Hong Kong. A Honbridge tem alguns sócios sólidos, como os proprietários da Geely, montadora chinesa atual proprietária da unidade de automóveis da Volvo, e o Shagang Group, um dos maiores produtores de aço da China. O projeto da SAM no norte de Minas Gerais envolve quatro municípios: Grão Mongol, Padre Carvalho, Fruta de Leite e Josenópolis. O complexo mineral ficará instalado nos dois primeiros municípios; em Padre de Carvalho e Fruta de Leite, será construída uma barragem de água para abastecer o empreendimento e disponibilizar água para as comunidades locais.

Gizelle Andrade, diretora de Relacionamento e Meio Ambiente da SAM, conta que a região tem os mais baixos IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do Estado. Por isso, o projeto é extenso também na assistência às localidades de influência e deve propiciar transformação econômica e social na região, com provável melhora do IDH.

Bloco 8

O projeto tem o nome de Bloco 8, que é a área mineral onde será feita a exploração inicial. “Mas existem outros blocos minerários a serem pesquisados na localidade”, diz Gizelle. O projeto está em processo de obtenção das licenças, e a previsão é para final 2022 o começo efetivo de sua instalação.

Só a implantação deve gerar 6.200 empregos diretos, segundo cálculos da SAM. A operação deve empregar 1.100 trabalhadores. A diretora explica que para uma região sem tradição de grandes empreendimentos, um extenso programa de capacitação terá que ser desenvolvido tanto para mão de obra como de fornecedores locais.

Barragem de água

A barragem de água do rio Vacaria em Fruta de Leite e Padre de Carvalho destinada a abastecer o empreendimento, também será usada para atender as comunidades locais. Um projeto de irrigação de agricultura familiar a partir dessa barragem também será realizado, de acordo com a diretora da SAM.

Gizelle conta que a barragem de água é importante por que se trata de um empreendimento que tem processo de beneficiamento de minério de baixo teor, exigindo contínuo consumo de água. Além disso, está numa região árida, com período de chuva curto, e aí tornou-se necessário encontrar uma solução desse porte.

Segundo ela, já havia uma barragem prevista no mesmo local, de um projeto do governo federal, de meados do século passado, que a SAM reativou. Serão necessários dois ciclos de chuva para encher a barragem. Uma adutora de 24 km transportará a água da barragem ao complexo industrial. Durante a operação, 95% da água utilizada no empreendimento será recirculada e reaproveitada, informa a SAM.

Uma outra barragem, abastecida pelo Córrego do Vale, deverá ser construída dentro do com- plexo minerário para atender especificamente uma comunidade próxima, a Vale das Cancelas.

Uma linha de transmissão também será construída para abastecer de energia o complexo. Ela terá 67 km e partirá da UHE Irapé, da Cemig, no rio Jequitinhonha. O fato do minério local ser mais friável, favorece o consumo menor de energia. Mas a SAM tem meta, a partir do quinto ano de operação, ter autoprodução de 100% de energia a partir de fontes renováveis.

Os recursos do bloco 8, onde inicialmente será desenvolvimento o projeto, é de 2,6 bilhões t de minério. De acordo com pesquisas efetuadas em outras áreas, a previsão é de pelo menos 130 anos de produção.

A região é rica em minério de ferro, mas de baixo teor. Um extenso esforço pela equipe da SAM foi feito para desenvolver processos capazes de transformar em pellet feed de alta qualidade. A flotação usará aditivo à base de milho e mandioca insumos que deverão ser estimulados para serem plantados na região.

Smart mining

O conceito de smart mining será implementado no complexo, segundo Gizelle, a partir de iniciativa de levar a rede 5G à planta, em um acordo com a chinesa Huawei. “A cava terá operação auto- matizada”, adianta. A previsão é de iniciar com 13 caminhões de 320 t e crescer progressivamente até 27 unidades. A ideia é que máquinas e equipamentos funcionem por controle remoto, sem a presença de operadores a bordo.

Aliás, a SAM já desenvolve curso online do programa global da Huawei sobre desafios, transformações e aplicações 5G para alunos das escolas dos municípios de influência do projeto. Estão envolvidas 16 instituições públicas de ensino  fundamental e médio da região,  e a iniciativa prevê equipar as escolas com a doação de 200 tablets.

O Porto Sul, em construção em Ilhéus (BA), numa parceria do Governo do Estado com a mineradora Bamin, que tem projeto de minério de ferro em Caetité (BA), deverá ser usado para escoamento da produção da SAM. Um mineroduto de cerca de 500 km deverá ser construído para transportar a produção da planta ao porto.   O licenciamento, construção e operação do mineraduto será de responsabilidade da Lotus, contratada para fornecer essa logística.

De acordo com Gizelle  Andrade, diretora  de  Relacionamento e Meio Ambiente da SAM, a viabilização do projeto só é possível com uso do mineroduto, por conta do elevado custo de produção do minério.

Barragem de rejeito

O empreendimento terá que ter barragem de rejeito na operação. “Não é possível fazer o processo de tratamento a seco, pelas características do minério do bloco 8”, afirma Gizelle. Partiu-se então para o desenvolvimento de um projeto com segurança máxima. Serão duas barragens, sendo uma maior que a outra. O alteamento será por linha de centro. Um filtro septo vertical acompanhará o corpo principal da barragem para evitar infiltração e liquefação no rejeito depositado. O projeto está em desenvolvimento pela empresa mineira Walm e o professor Luiz Guilherme de Melo, da USP.

Haverá uma área de segurança de 400 m, chamada tecnicamente de praia de barragem, separando o espelho de água do corpo da barragem. “A medida que a operação for avançando, essa área vai se afastando do corpo principal da barragem, deixando ela mais estável e sem risco de infiltração”, aponta Gizelle, acrescentando que essa metodologia é muito usada em barragem de hidrelétrica.

Será feito também a jusante da barragem um muro de conten- ção, que fica dentro da área da empresa, com 741 m de compri- mento e 65 m de altura, para garantir mais segurança na hipotéti- ca ruptura da mesma.

O projeto da barragem prevê controle tecnológico do rejeito, compactação e segregação do rejeito.

A SAM já tem estudo, com a empresa Multiplus Engenharia e Consultoria, do professor Evandro Gama (UFMG), sobre reúso de rejeito para a construção civil.

Há planos ainda de adotar backfill (estéril e rejeito despejado dentro da própria cava após extração) na operação. A cava, aliás, estará localizada logo abaixo da barragem de rejeitos, e será dispositivo para diminuir riscos na operação damina, uma vez que seria o primeiro lugar para onde o material escoaria num caso hipotético de rompimento da barragem de rejeitos, informa a SAM.