Pesquisa & Desenvolvimento geram redução de custos com impostos

Investimentos em inovação ainda estão aquém do necessário, mas mineradoras que desenvolveram projetos importantes contam com os benefícios fiscais gerados pela chamada “Lei do Bem”

O II Seminário sobre Inovação em Geologia, Mineração e Transformação Mineral – Governo, Empresas e Instituições Científicas e Tecnológicas – (II Inovamin) foi realizado nos dias 10 e 11 de junho de 2013, na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília. O evento foi uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com o Ministério de Minas e Energia (MME), o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e reuniu representantes de várias empresas, que apresentaram seus projetos de pesquisa e desenvolvimento, como Vale, Anglo American, Carbonífera Criciúma e CBMM, entre outras.

As empresas mostraram também como aplicam a chamada “Lei do Bem” (Lei 11.196/05), que proporciona incentivos fiscais à pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica. A instrução normativa n°1.187/2011 da Receita Federal também disciplinou os incentivos fiscais relacionados às atividades de P&D estabelecendo novas exigências para o aproveitamento dos respectivos incentivos (ex: limitação do enquadramento dos gastos com remuneração indireta).

Magda Quintiliano e Fernanda Vieira, da Nacional de Grafite, apresentaram a experiência da mineradora com a “Lei do Bem”. Os pré-requisitos são o lucro real, lucro fiscal, regularidade fiscal e investir em pesquisa e desenvolvimento. Os empecilhos elencados para sua aplicação foram a insegurança jurídica, dificuldade de acesso das empresas, a gestão da inovação (registros e documentação) e a limitação pela Instrução Normativa RFB 11.187/2011. Os pontos relevantes para usufruir dos incentivos tornam fundamental ter conhecimento da legislação; a integração entre as áreas de P&D, contábil e tributária; e a rastreabilidade das despesas deduzidas (gestão da inovação). Mas vencidas essas questões, a redução, em média, é de 4% no recolhimento dos tributos – IRPJ e CSLL. Porém , elas fazem uma ressalva sobre um ponto importante: não existem incentivos fiscais que privilegiam a pesquisa geológica, fundamental para o setor.

48ª posição no rankingda inovação

Paulo Mol, diretor do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), associação ligada à Confederação Nacional da Indústria (CNI), falou sobre a experiência do órgão como promotor da inovação do setor mineral. Ele cita os dados do Banco Mundial, apresentados no World Economic Forum 2012, mostrando que o Brasil é a 6ª economia do mundo, mas ocupa a 48ª posição quando o assunto é inovação. Para ser mais competitivo, um dos caminhos é a inovação. Mas o investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil ainda é muito baixo se comparado ao de outros países. Ele explica que os baixos investimentos do Brasil em P&D estão fortemente correlacionados ao baixosharede produtos de alto valor agregado – grandegapem relação a líderes mundiais. A baixa participação de produtos de alto valor agregado significa que as receitas de exportação são muito sensíveis aos preços decommodities. A conclusão é que o Brasil deve investir em inovação para desenvolver uma posição sustentável e se tornar uma das principais economias do mundo.

A indústria global de mineração perdeu 30% de produtividade nos últimos 50 anos. Conflitos regionais, impactos ambientais, jazidas mais profundas que aumentam os custos de extração, aliado a equipamentos inadequados e baixo investimento em P&D, são as explicações para o fato. Enquanto o setor de mineração investe cerca de 0,2% ao ano, o de petróleo e gás, por exemplo, aplica em torno de 1,2%.

Mol explicou ainda a importância do setor empresarial para a definição de estratégias de inovação. No Brasil, cerca de 1,16% do PIB são aplicados em P&D e 45% dos investimentos são privados (dados de 2007). Já nos Estados Unidos o investimento supera 2,01% do PIB e a iniciativa privada responde por 75%.

O investimento em P&D do Brasil é baixo quando comparados com outros países competidores

Rejeitos viram produtos

A professora Regina de F.P.M. Moreira, do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina apresentou o tema “A Experiência da Carbonífera Criciúma com editais de subvenção econômica para a realização de P&D”, que abordou o desenvolvimento de produtos e processos para o tratamento de águas e efluentes industriais, visando ao reuso de água. O projeto foi iniciado em dezembro de 2008 e contou com investimento de R$ 500 mil da Finep e contrapartida de igual valor da mineradora.

Regina de F.P.M. Moreira, do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina

Os rejeitos industriais em questão eram a drenagem ácida da mina, que gerava 50 m3/h e implicava na exigência ambiental de tratamento; o rejeito piritoso; e o passivo ambiental de mais de 15 milhões t depositados desde 1982 na empresa e mais de 200 milhões t no Estado.

Os produtos desenvolvidos foram: pigmento para a construção civil; matéria prima para a produção de coagulante químico para o tratamento de efluentes industriais; gesso aplicável para a correção de acidez e fertilidade do solo; produtos para tratamento de esgoto e biogás; nanopartículas de óxidos de ferro (NPOF), catalisadores e adsorventes para o tratamento de efluentes líquidos e gasosos.

Instalações industriais

A NPOF tem diversas aplicações, como catalisador para o tratamento de água e efluentes e de poluição atmosférica e na formulação de nanofluido para recuperação avançada de petróleo, por exemplo, e seu v
alor de mercado varia de US$ 380 a US$ 3,8 mil/k
g. A produção de NPOF em escala industrial já tem patente depositada.

Entre os benefícios do projeto estão a redução dos custos de tratamento e gerenciamento de resíduos da mineração do carvão; a venda de produtos e subprodutos, a valores na faixa de R$ 4.000,00 a R$ 400.000,00/t (dependendo da pureza), será capaz de gerar um faturamento de R$ 2.880.000,00/ano; a instalação plena da unidade fabril permitirá a criação de pelo menos 20 postos de trabalho, com a consequente geração de renda para a população.

Pesquisa e desenvolvimento de produtos e mercados

Tadeu Carneiro, Chief Executive Officer da CBMM , apresentou o programa de tecnologia da empresa, que compreende tanto o desenvolvimento de mercado quanto o de produtos e processos. Para expandir o mercado a empresa desenvolve, entre outras ações, mesas redondas com especialistas da indústria para a implementação da tecnologia do nióbio; consórcios técnicos envolvendo universidades e clientes; incentivos a universidades e associações técnicas para o desenvolvimento de novas aplicações; trabalhos técnicos descrevendo aplicações de sucesso para o nióbio; programas de mestrado e doutorado ; e o Prêmio Charles Hatchett com o Institute of Materials do Reino Unido.

Tadeu Carneiro, Chief Executive Officer da CBMM

Já o desenvolvimento de produtos e processos inclui a adequação de capacidade produtiva e avanços operacionais. Os programas de maior relevância em andamento na área de mineração e concentração são: pátio de homogeneização de minério com empilhadeira e retomadora; intensificação do conhecimento detalhado dos recursos minerários; nova planta de concentração; aumento de recuperação com eliminação da etapa de deslamagem. Em relação a processos metalúrgicos o programa inclui nova planta de sinterização; aumento de produtividade no refino do concentrado em forno elétrico; e novo processo aluminotérmico. Para processos químicos, os principais projetos são a otimização do processo de fabricação de óxido de nióbio e o desenvolvimento de novos produtos de nióbio para aplicação química. E sobre meio ambiente a empresa tem o programa contínuo de redução do consumo de energia e de emissões; tratamento de efluentes no processo de granulação da escória metalúrgica; e aumento da taxa de recirculação de água utilizada nos processos industriais.

Desenlvimento e poesso de separação de óxidos de terras raras através de extração por solvente

CBMM: primeira no mundo a recuperar produtos a partir de lamas

O palestrante destacou o projeto para otimizar o aproveitamento do recurso mineral através do beneficiamento das partículas inferiores a 10µm (lamas), atualmente descartadas nas etapas de deslamagem. O desenvolvimento é realizado em escala de bancada e piloto e tem como aspecto inovador o aumento da recuperação de pirocloro na unidade de concentração para partículas superfinas. Estima-se que mais de 10% de todo minério extraído mundialmente é perdido na forma de lamas. Este deverá ser o primeiro projeto no mundo a recuperar produtos a partir de lamas, de acordo com Carneiro. A empresa também está desenvolvendo a planta piloto para o processo de separação de óxidos de terras raras através de extração por solvente.

Programa de Tecnologia

A CBMM aplicou no ano passado um total de R$ 56,3 milhões no desenvolvimento de mercado e produtos/processos, além de terras raras e o benefício fiscal obtido foi da ordem de R$ 6,4 milhões(ver quadro).

Economia acimade R$ 3 milhões

Alessandra Prata, da Samarco, apresentou a experiência da mineradora com a Lei do Bem. As iniciativas de inovação em Germano, Minas Gerais, incluem: transporte de minério com uso intenso de correias transportadoras (menor uso de equipamentos de grande porte, consumo de diesel, emissão de CO2, riscos de acidentes); reaproveitamento/ reciclagem de água (~90%); e o desenvolvimento do Vertimill (-30% consumo energético).

Já em Ubu, no Espírito Santo, a mineradora as seguintes iniciativas para inovação: alta eficiência das plantas de pelotização na unidade; substituição do óleo combustível pelo gás natural nos fornos de pelotização; e o desenvolvimento e emprego de supressores de poeira no circuito de descarga dos fornos.

Na área da “ecoeficiência”, os destaques segundo Alessandra são os investimentos visando à redução de emissões de poeira e melhorias no sistema de monitoramento ambiental, que compreendem a instalação precipitadores eletrostáticos, a implantação dewind fence, e aconstrução da nova estação de tratamento de efluentes industriais da barragem norte.

Alessandra Prata, da Samarco

Para a Samarco, os principais benefícios gerados pela Lei do Bem incluem a dedutibilidade dos dispêndios com Inovação (IRPJ/CSLL); exclusão adicional de 60% dos dispêndios com Inovação (IRPJ/CSLL), podendo chegar a até 80%, conforme aumento no número de pesquisadores; exclusão adicional de mais 20% dos dispêndios com Inovação, caso esta gere um produto objeto de patente concedida ou cultivar registrado; redução de 50% do IPI na aquisição de máquinas e equipamentos; depreciação Integral no próprio ano de aquisição; amortização acelerada. O impacto tributário para a mineradora (economia no IRPJ a ser recolhido) em 2010 foi de R$ 2.934.049,34 e em 2011 chegou a R$ 3.200.016,09(ver quadro).

Redução de 18.000megawatts hora/ano

O
professor emérito da UFRJ, Sandoval Carneiro Junior, gerente-geral de Pa
rcerias e Recursos do Departamento Instituto de Tecnologia (DITV) da Vale DITV, apresentou a experiência da mineradora em parcerias público-privadas para pesquisa e desenvolvimento. A empresa investe em pesquisa de ponta nas áreas de geologia, engenharia e gestão sócio-econômica-ambiental visando ao alto nível de eficiência e diminuição dos impactos ambientais. A mineradora tem o Centro de Desenvolvimento Mineral (CDM), instituído em 1965, que conta com 155 colaboradores; o Centro de Tecnologia em Ferrosos (CTF), criado em 1980, contando com 30 pesquisadores exclusivos e 50 colaboradores em funções técnicas e administrativas; e o Vale Technical Services Limited, fundado pela empresa Inco em 1965, contando com 180 colaboradores. A Inco foi incorporada pela Vale em 2006.

Exemplos recentes de inovação, segundo o palestrante, são, por exemplo, a redução no consumo de água e energia no Complexo de Carajás, no Pará. A economia de água equivalente ao total consumido por uma cidade de 430.000 habitantes, 19,7 milhões m³ por ano, além da economia de 18.000 megawatts hora/ano em energia elétrica. Sobre a emissão de CO2, ele destaca o sistema truckless, que reduz a emissão da substância em 77%. O sistema também faz com que o consumo de diesel seja 76% menor. Para redução na emissão de poeira o destaque é a instalação da tecnologia da “cerca do vento”, capaz de diminuir o pó em em 77%.

O professor apresentou também os Institutos de Tecnologia da Vale (ITV) em Belém (PA) e Ouro Preto (MG). O primeiro é dedicado ao desenvolvimento sustentável, devido à proximidade da biodiversidade da floresta amazônica; enquanto o segundo tem como foco a mineração, se aproveitando da localização, perto da Universidade Federal de Ouro Preto, um centro de excelência em engenharia de mineração.

ITV mineração (Ouro Preto)