Os desafios da única mina de urânio da América Latina

Operação enfrenta longos processos de licenciamento, a despeito de abastecer as usinas nucleares de Angra 1 e 2

Por Vinícius Costa

Instalada a 40 km de distância de Caetité (BA) e com 1.700 ha de área total de empreendimento, a Unidade de Concentrado de Urânio (URA) das Indústrias Nucleares do Brasil, única operação de extração de urânio da América Latina, mantém sua produção superando as dificuldades, sobretudo em função de exigências dos órgãos reguladores das atividades das empresas do ciclo do combustível nuclear. Muito pela competência e empenho de sua equipe gerencial, a lavra continua a abastecer as usinas nucleares de Angra 1, Angra 2 e, em breve, de Angra 3.

“Resolver a questão da produção nacional de urânio é um dos maiores desafios da INB e para isso nós estamos concentrando esforços de nossa equipe e contando com o apoio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)”, afirmou o presidente da empresa, Aquilino Senra, físico nuclear que assumiu o cargo em abril deste ano.

Em março, a CNEN aprovou o local indicado pela INB para instalação da lavra subterrânea de urânio. Esse projeto, que já tem 500 m da rampa concluída de um total de 1.100 m, vai permitir que a empresa explore ocorrências de minério inacessíveis na lavra a céu aberto, podendo duplicar sua produção atual. Com a obtenção dos licenciamentos da autarquia federal, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que tem como função colaborar na formulação da Política Nacional de Energia Nuclear, executar ações de pesquisa, desenvolvimento, promoção e prestação de serviços na área de tecnologia nuclear e suas aplicações para fins pacíficos e regular, licenciar, autorizar, controlar e fiscalizar essa utilização, o investimento no ano que vem será da ordem de R$ 140 milhões.

“Somando a tudo isso”, afirma o presidente da INB, “estamos abrindo outra possibilidade de lavra a céu aberto, próxima à mina atual, com previsão de produção para 2015”, informando que, se a empresa não obtiver essas licenças para operação, no próximo ano o abastecimento das usinas nucleares brasileiras com urânio nacional estará comprometido.

A INB tem em Caetité dois importantes pontos para extração de urânio na província uranífera de Lagoa Real, na região Centro-sul do Estado da Bahia: a jazida do Engenho, a qual ainda espera as licenças necessárias para iniciar a cava e tem estimativa de 14 anos de vida útil; e a mina Cachoeira, com 13 ha e que possui depósitos de urânio superficiais com elevada concentração de U3O8, com média de 0,3 % de teor.

Hilton Mantovani, gerente de Produção em Caetité

Cachoeira concentra o maior teor médio de urânio com 2320 ppm em U3O8geológico de modo a produzir minério com 1900 ppm em U3O8recuperável para o beneficiamento e está prestes a ser exaurida como cava a céu aberto, tendo atividade prevista apenas até setembro de 2014. Depende de autorização dos órgãos licenciadores a operação para o rebaixamento da cava na área que seria para a exploração da mina subterrânea, a qual tem vida útil estimada de nove anos.

No momento, a previsão da unidade é que para 2013 a produção seja de 260.000 kg de U3O8, inferior aos 382.770 kg de U3O8em 2012. Em 2014, a previsão é de 380.000 kg de U3O8. No entanto, devido ao estrangulamento da cava, a mineradora está levando dois meses para conseguir formar uma pilha de minério. Com isso, como não há material suficiente para a usina funcionar em plena capacidade, cai a produção.

Mão de obra

Como a maioria das mineradoras do País, segundo o gerente de Produção em Caetité, Hilton Mantovani, a empresa sofre com a perda de funcionários para outras empresas. “Temos um grande problema quanto à permanência de empregados qualificados, pois os salários aqui são menores que os do mercado, então muitos ficam quatro meses, pegam experiência e são logo levados por outras mineradoras. Sem contar que poucos estão dispostos a trabalhar em um lugar distante como Caetité”, conta. O gerente conclui que, “a iniciativa privada consegue brigar melhor na hora de cobrir uma oferta para manter o empregado na empresa, agora na estatal isso é bem mais complicado”, conclui.

Visto a ampliação prevista da produção, isso implica diretamente na quadro de funcionários, explica o presidente da empresa. “Já em 2013 haverá necessidade de novos contratações, que devem continuar em 2014 e 2015”, afirmou Aquilino Senra. A INB está articulando com a prefeitura de Caetité e instituições do estado da Bahia para apoiar cursos na região que possam formar mão de obra especializada. “Temos obrigação de realizar concurso público nacional, não podemos estabelecer restrições, o que a gente deseja é que haja maior número de contratações dessa região”, finaliza.

A especialização de mão de obra na região que é pouca, dificulta a contratação de profissionais experientes, que muitas vezes vêm de Minas Gerais e São Paulo. Atualmente, a empresa está dando curso de mecânica para todos os operadores, para formação dos chamados operadores mantenedores, tendência no setor.

INB em números

Sucessora de outras estatais, como a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN) e as Empresas Nucleares Brasileiras (Nuclebrás), a INB opera na Bahia desde dezembro de 1999. Com pagamentos de impostos para o município, em 2012, a mineradora contribuiu com a quantia de R$ 1.100.816 de ISS para Caetité, e, no âmbito federal e estadual, foram mais R$ 5.547.374 de ICMS e R$ 373.023 de Cfem.

A mineradora mostra que, em relação aos gastos com compras diversas, dispendeu em Caetité no ano passado R$ 6.392.982 e em outros municípios foram mais R$ 16.122.528. O montante acumulado de 2002 até 2012 chegou a R$ 47.025.644 para Caetité e R$ 102.080.385 para outras cidades. C
om o descomissionamento da mina,
em 2012, foram gastos R$ 1.740.411 na cava a céu aberto, enquanto pesquisas geológicas e sondagens necessitaram de R$ 1.860.996,19.

Quanto aos investimentos programados em 2013, foram R$ 40.692.798. Em 2014, com a duplicação da capacidade produtiva de Caetité, o valor será de R$ 109.505.805, sendo R$ 4 milhões só com o novo projeto de mudança da rota tecnológica, tendo em vista o fato do primeiro plano ter se mostrado obsoleto por ter sido voltado para reutilizar os equipamentos já existentes em Caldas (MG), o que se constatou ser muito dispendioso. Por exemplo, para colocar um filtro de Caldas em condições de operação em Caetité, a empresa gastaria R$ 6 milhões, enquanto um filtro novo e mais moderno de um bom fabricante custa cerca de R$ 3 milhões.

Na lavra subterrânea serão investidos R$ 58.053.000 e, por fim, ao desenvolvimento da mina Fazenda Engenho, o montante chega a R$ 27.585.242. No total, a quantia acumulada de investimentos para 2014 é de R$ 116.518.966, o que também inclui compra de veículos, meio ambiente, exploração geológica, duplicações e novos projetos.

Em relação à Tecnologia da Informação, a empresa em 2012 gastou R$ 730.240 com a atualização tecnológica dos equipamentos de TI; implantação do acesso redundante à Internet, por satélite; duplicação dolinkde acesso principal de dados da rede corporativa; e implantação do novo sistema de telefonia com expansão do PABX e do número de ramais. Para 2013, o programado é de R$ 261.000 com a melhoria do acesso redundante à Internet; atualização de vídeo conferência e tecnológica.

Fases do ciclo da produção