A mina São Francisco está localizada no Estado do Mato Grosso, no município de Vila Bela da Santíssima Trindade. A mina foi adquirida pela canadense Aura Minerals em maio de 2010, junto a Yamana Gold.

As ocorrências auríferas presentes na região de estudo são conhecidas desde o ano de 1720, quando exploradores portugueses, vindos da então vila de Cuiabá fizeram as primeiras descobertas. Os vestígios dessa atividade ainda hoje são encontrados, na forma de ruínas de habitações, lavras abandonadas e canais de adução de água.
O Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) visa o estabelecimento de medidas práticas, corretivas e preventivas, que minimizem os problemas ambientais gerados pela implantação da mina São Francisco.
O objetivo específico é encontrar um método de revegetação do topo dos depósitos de estéril, com mudas nativas e frutífera que devolva, pelo menos em parte, uma integração paisagística e ambiental com o cenário original da região, atraindo a fauna e reduzindo o custo por hectare de área plantada.
O depósito de estéril da mina São Francisco é constituído por rochas de variados tamanhos, empilhados em forma de bancadas de 10 m de altura, larguras de rampas e acessos de 20 m e inclinação 33.69°, configuração estável e aplicada em todos os depósitos da mina.
As mudas nativas são produzidas em viveiro próprio e a coleta de sementes é feita em áreas adjacentes ao empreendimento – a produção é em média de 20 mil mudas/ano.
O processo de revegetação desse tipo de depósito geralmente é feito com hidrossemeadura e consistiu no jateamento de uma solução adensada, composta por fertilizantes químicos (N-P-K-Ca-Mg-S), microelementos essenciais (Mn-Zn-Mo-Bo) e matéria orgânica rica em compostos nitrogenados, sementes de origem idôneas previamente analisadas e testadas em laboratório, mulch de fibras e celulose, além de fixador adesivo de origem vegetal.
Todos os produtos são biodegradáveis não deixando nenhum resíduo no solo ou água ou oferecendo riscos a natureza e muito menos as pessoas. No entanto, visando à recuperação com espécies nativas compatíveis com o cerrado, foram feitos alguns experimentos.
A área escolhida para o experimento foi o depósito de estéril sul, que em 2014 foi desativado pela operação de mina. O depósito possui área de 54,59 ha e neste local, foram alguns experimentos para encontrar a melhor forma de recuperação vegetal da área.

EXPERIMENTO 01 – PLANTIO DE MUDAS COM ADUBOS NPK

O experimento 01 foi feito com o plantio de mudas de espécies na-tivas em uma área de 2.500 m² com espaçamento de 2 m x 2 m, totalizando 625 mudas, a adubação realizada na proporção de 3:1, ou seja, 300 gramas de compostagem para 100 gramas de NPK (04-14-08).
Após o plantio do experimento, foi realizada a demarcação de uma amostra (12 x 15 m) com o objetivo de realizar o monitoramento de flora. Essa atividade visa acompanhar o desenvolvimento das mudas plantadas, assim como determinar o índice de mortalidade.
Durante os monitoramentos do experimento 01, nota-se que dos 17 indivíduos monitorados, apenas quatro mudas não resistiram (23%), dentre elas, o angico, aroeira e dois periquiteiras. Esse fator provavelmente está ligado ao estresse de plantio, pois são espécies da região do empreendimento e extremamente adaptáveis ao local do PRAD. Considera-se os 23% de mortalidade aceitável diante da área plantada, basicamente composta por rochas e diante do baixo número de indivíduos mortos.
O processo de regeneração natural de algumas espécies como fruta-de-lobo e embaúbas favorece a atração da fauna e a disseminação de sementes, possibilitando a recuperação da área impactada.
Experimento 01 em janeiro de 2017, com as grandes embaúbas ao fundo, produto de regeneração natural

EXPERIMENTO 02 – PLANTIO DE GRAMÍNEAS E LEGUMINOSAS E SEMENTES DE ESPÉCIES NATIVAS COM ADUBO NPK

O experimento 02 foi realizado com o plantio de fileiras, sendo uma fileira com sementes de gramíneas e leguminosas e outra com sementes de espécies nativas. No entanto, como pode-se observar, somente algumas gramíneas e leguminosas estão conseguindo se estabelecer. Já as sementes de mudas nativas não tiveram resultadossatisfatórios. Vale destacar que, nesse trecho, foi utilizada somente adubação inorgânica (NPK) aplicada a lanço. Diante desse resultado, este método foi descartado.

EXPERIMENTO 03 – PLANTIO CONSÓRCIO DE MUDAS NATIVAS COM GRAMÍNEAS/LEGUMINOSAS E APLICAÇÃO DE ADUBO (NPK)

No experimento 03 foi realizado um consórcio de mudas de espécies nativas com espaçamento de 2 x 2 m, totalizando 625 mudas com adubação de 100 g de NPK aplicado somente na cova e o plantio de sementes de espécies nativas e gramíneas entre as linhas das mudas. Após o plantio do experimento, foi realizada uma demarcação de uma amostra (12 m x 15 m) com o objetivo de realizar o monitoramento de flora.
Durante os monitoramentos do experimento 03, notou-se que dos 21 indivíduos monitorados, apenas sete mudas não resistiram, ou seja, 33% de mortalidade, dentre elas cita-se o ipê, angico, aroeira e periquiteiras.
Consideram-se os 33% de mortalidade aceitável. Pode-se observar o retorno da fauna ao local. Destaca-se a presença de diversos insetos na área — fator importante, pois os mesmos realizam a polinização vegetal contribuindo para o processo de revegetação.
CONCLUSÃO
Os resultados foram considerados satisfatórios apenas para o experimento 01 e 03; o experimento 02 realizado somente com sementes não se desenvolveu e não será usado na recuperação das demais áreas. Já o experimento 01 e 03 tiveram bons resultados com índice de mortalidade nas parcelas monitoradas de 23% e 33% respectivamente – resultados estes considerados satisfatórios, levando em conta os aspectos da área plantada.
Com os resultados desse experimento, o plano de fechamento da mina São Francisco já contempla a recuperação de todo o topo de todos os depósitos de estéril e pilha de lixiviação com os métodos 01 e 03. Isso acarreta uma redução de custo de aproximadamente R$ 945 por ha plantado, comparado com o método de hidrossemeadura, que será usado apenas nos taludes.
O processo de revegetação com espécies nativas contribui significativamente para o retorno da fauna ao local impactado, contribuindo para o reequilíbrio ambiental.
AUTORES: Luciana Santos Teixeira, Péricles Botelho, João Carlos Ramão e Josemar Clemente da Silva