Apesar de evitar o investimento inicial mais alto com a compra de máquinas ao terceirizar,
mineradoras perdem na retenção de mão de obra especializada
Vinícius Costa
Visando à redução de custos e à competitividade, algumas empresas optam por centralizar os seus recursos nas atividades básicas e que agregam valor e repassar a terceiros a execução de serviços complementares, mas não menos importantes. A terceirização, ououtsourcing, pode ser usada em larga escala por corporações de porte variado, se beneficiando dessa prática de várias maneiras, como por exemplo ao eliminar as burocracias internas com as atividades-meio.
Contudo, é de noção geral que uma má gestão da terceirização implica em um descontrole que repercute mão de obra subcontratada, ou seja, falta de controle de qualidade que ocasiona perdas produtivas, operacionais, financeiras e até ações trabalhistas movidas pelos empregados terceirizados, dentre outros problemas.
Nas atividades-meio, como gestão e terceirização de frotas, as mineradoras enxergam vantagens na contratação principalmente pelos distribuidores de equipamentos que oferecerem serviços personalizados dimensionados de acordo com as necessidades específicas de cada mina, podendo incluir desde como acompanhamento da produtividade da frota, telemetria, gestão da informação e garantia de disponibilidade mínima da frota em operação, manutenção, peças sobressalentes, etc.
No geral, tem-se como premissa que uma mineradora não deva terceirizar a sua atividade-fim, ou seja, o foco da existência da empresa, pois, caso isso ocorra, ela correrá sério risco de perder sua identidade e, principalmente, seu diferencial competitivo. Contudo, vem se discutindo no País o Projeto de Lei 4.330, que regula a terceirização no País, já com Prazo de Vista encerrado no dia 13 de agosto e votação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara adiada para o dia 3 de setembro próximo.
A polêmica nesse PL é em relação a definir e proibir a contratação de terceiros na chamada atividade-fim, ou seja, o projeto libera a terceirização para todas as atividades. Para entender melhor como as mineradoras se posicionam quanto a esse assunto e como lidam com as operações de transporte e lavra em suas minas, a revistaMinérios & Mineralesentrevistou a Sama – Minerações Associadas, a Mineração Apoena e a Galvani Indústria, Comércio e Serviço, a respeito do tema.
Terceirização da lavra evita o investimento em máquinas
A Unidade de Mineração de Lagamar, da Galvani Indústria Comércio e Serviços, em operação desde 1997, tem ao todo 164 funcionários e desses, 75 são contratados via prestadora de serviço, ou seja, quase metade dos empregados não têm vínculo empregatício direto com a mineradora. Apesar de já ter tempo significativo de atividade, a mina de fosfato, responsável por movimentar no ano passado 1.800.841 t de minério e por mais 2.064.855 t nesse ano (estimado), nunca teve equipe própria na lavra.
Atualmente, a responsável pelo serviço é a JP Bechara Terraplenagem e Mineração, utilizando duas escavadeiras Komatsu PC200, sendo uma operando e uma de reserva, uma escavadeira Caterpillar 330C, 12 caminhões (seis Volkswagen de 17 t, cinco Ford Cargo de 17 t e um fora de estrada Randon RK425 de 25 t), além de frota de apoio com motoniveladora Fiatallis DG70B, trator de esteira Fiatallis FD 170 e, por fim, um caminhão pipa.
A escolha pela terceirização da lavra está diretamente ligada ao custo operacional e de investimento, pois, segundo Roberto Pedrosa, gerente da Unidade de Mineração de Lagamar, “ao se contratar o serviço, não há o investimento com a aquisição do equipamento que, por exemplo, a cada 15 mil h precisa ser substituído por um novo, encarecendo demais a operação”, explica. “Um ponto positivo”, continua, “é que dessa forma não há a mobilização direta de capital e o contrato prevê um valor fixo por m³. Mas, infelizmente, por não termos uma frota própria, perdemos em produtividade, flexibilidade e custo operacional”, afirma.
Toda a manutenção dos equipamentos é feita pela prestadora de serviço e o pacote contratado inclui abastecimento de diesel, óleo e outros ajustes. Isso confere à mineradora mais tranquilidade, pois ela passa a se focar somente em sua atividade-fim, que, no caso da Galvani, é a fabricação de fertilizantes, sua atividade-fim. Quanto ao treinamento, são feitos cursos de reciclagem geral dos operadores de caminhões e escavadeiras e o gerente afirma que, a terceirizada está melhorando nesse ponto e se empenha na questão, sendo cada vez mais cobrada pela Galvani.
Hoje as duas principais dificuldades enfrentadas na lavra, afirma Pedrosa, estão na tendência de queda de teor do minério, pois a mineradora está na configuração depitfinal no flanco oeste com apenas avanço ainda no leste, e na insurgência constante de água na cava, que precisa de um sistema de bombeamento eficiente.
Com vida útil de 5,5 anos e investimento total em 2012 de R$ 3,5 milhões, a cava da mina Lagamar é composta por material macio que não requer desmonte com explosivos. Em relação à distância média de transporte (DMT), para o material estéril, os caminhões percorrem 1 km, e para o minério são 4 km. As bancadas têm altura de 10 m, inclinações no lado leste de 37°e no oeste de 47°.
Sama primariza mãode obra e investe notreinamento do funcionário
Localizada em Minaçu (GO), a mina de amianto crisotila da Sama – Minerações Associadas tem uma operação de lavra mista, com funcionários e máquinas tanto próprios quanto terceirizados. Ao todo, na unidade que extrai o minério utiliza
do como mat&eacu
te;ria-prima na indústria de fibrocimento, fricção, papel e papelões hidráulicos e cloro/soda, são 311 funcionários orgânicos e 169 contratados para compor o efetivo da lavra.
Na atividade, os equipamentos da empresa incluem, no momento, 28 caminhões Volvo FMX-460 de 32 t (com apenas um ano de utilização), oito escavadeiras hidráulicas, sendo três Liebherr 964, uma Liebherr 944 e quatro Volvo L220. Já a prestadora de serviços utiliza 16 caminhões rodoviários Volvo de 32 t, sendo sete operados por mão de obra da Sama e o restante terceirizado, e duas escavadeiras Komatsu de 70 t.
Apesar do número elevado de caminhões, segundo o gerente de Extração Planejamento e Manutenção de Equipamento de Mina, Edson César de Souza, “no momento, a Sama não pensa em utilizar equipamentos de grande porte na lavra, pois seria necessário o alargamento das pistas, o que demandaria um investimento alto. Contudo, a mineradora está sempre aberta à essa possibilidade”, diz.
Há dois anos, conta o gerente, o cenário encontrado na mineradora era bem diferente. “A minha chegada à Sama foi no início de 2011 e me deparei com a frota 100 % operada por uma prestadora de serviços, mas aos poucos fomos realizando a primarização da atividade, invertendo a situação. Inicialmente, foi escolhida a primarização pela questão custo/benefício, mas a ação se refletiu de forma positiva também na produtividade, segurança e satisfação do nosso funcionário, que agora opera um equipamento da própria empresa”, conta.
Em relação à manutenção, tanto a Liebherr quanto a Volvo mantêm técnicos na unidade à disposição da mineradora de maneira a garantir a disponibilidade do equipamento. No entanto, caso seja necessário maisexpertise, os fabricantes podem trazer especialistas de outras localidades. Sempre supervisionada por um coordenador da Sama, a equipe de manutenção tem cerca de 50 funcionários próprios e mais alguns das fornecedoras dos equipamentos.
Em razão da otimização da lavra, realizada em rocha máfica e ultramáfica em duas cavas com 1200 m de comprimento, 700 m de largura e 160 m de profundidade em bancadas de 13 m, desde 2009 a mineradora utiliza o programa SmartMine para gerenciar em tempo real os equipamentos, auxiliando na obtenção dos índices de produtividade, disponibilidade, efetividade, MTBF, MTTR, entre outros. Para evitar a emissão de particulados durante a lavra, há aspersão direta e constante com caminhão pipa. Por isso, há necessidade de seis caminhões-pipa na mina que supram a operação com 2.200 m³ de água por dia.
Quanto ao treinamento dos operadores, o gerente afirma o empenho da Sama em melhorar a qualidade da mão de obra na mina. “De todas as empresas que passei, essa é a que mais investe em treinamento. Contratamos consultores e em momento algum a Sama se nega a injetar recursos para treinamento, por esse motivo, a mineradora já ganhou diversos prêmios em capacitação de mão de obra e melhor lugar para se trabalhar e, ao investir no funcionário, você aumenta a sua produtividade e retém a mão de obra” finaliza.
Em 2012, foram realizados projetos utilizando a metodologia Seis Sigma para diminuir a ociosidade e aumentar produtividade e eficiência de equipamentos de carregamento e transporte, além disso, houve treinamentos e reciclagem para operadores visando à diminuição dos índices de manutenção corretiva.
Atualmente, segundo o gerente, a principal dificuldade enfrentada está na acertabilidade no modelo de lavra, o que desencadeou uma série de sondagens que se iniciou em 2011, terminando nesse ano com um total de quase 8.000 m de exploração geológica.
Estimada para mais 28 anos de extração, a operação movimentou no ano passado 21.552.791 t e prevê 22.441.725 t em 2013. A mineradora investirá nesse ano R$ 18.418.724, com o gasto anual médio com manutenção da frota móvel de equipamentos de lavra de R$ 11 milhões.
Lavra de ouro mantém até 2015 frota móvel terceirizada
Desde 2010, quando adquiriu da Yamana a mina de ouro São Francisco, em Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), a Mineração Apoena opta por adotar a terceirização de sua lavra, inclusive na manutenção. Segundo José Eduardo Corrêa, gerente de Operações, a lavra, realizada pela Fagundes Construção e Mineração, deve manter esse modelo até 2015, quando se prevê o esgotamento da mina.
Ao todo, na extração e no transporte do minério, a operação conta com uma escavadeira hidráulica Volvo EC 460 e seis EC 700, e 45 caminhões basculantes Mercedes-Benz 4B44 Actros 8×4 percorrendo a distância média entre a mina e a planta de 2,9 km. Esses equipamentos têm manutenção completa dada pela equipe da Fagundes.
Contudo, algumas atividades são realizadas pela própria mineradora, como, por exemplo, as perfurações de desmonte que utilizam quatro perfuratrizes Sandvik DPI 1500. Além disso, a mina possui frota de apoio composta por patrol, uma retroescavadeira, dois caminhões de pequeno porte e um pipa, todos com manutenção realizada pela equipe da Apoena. Em 2012, a empresa gastou R$ 2.694.224 com a manutenção da frota de equipamentos de lavra, para 2013, a previsão é de que sejam gastos R$ 1.618.545, uma redução considerável se comparada ao ano anterior.
Em 2013, a expectativa de movimentação e produção é de, respectivamente, 11.497.495 t de minério e 2,98 t de ouro, na lavra a céu aberto com bancadas de 10 m de altura – já aprofundada em 250 m desde seu ponto inicial de operação. No entanto, a tendência é que essa movimentação tenha ao longo dos anos um declínio gradativo, visto o estrangulamento da cava e esgotamento da mina. Porém, a Apoena trabalha atualmente com programas de sondagens para viabilizar uma possível extensão da vida útil da mina.
Com base instalada na mina, a Fagundes é responsável por 350 funcionários e, se somados todos os empregados das prestadoras de serviços da unidade, são ao todo 306 pessoas na lavra, 155 no beneficiamento e 139 na área administrativa, totalizando o quadro completo da empresa, entre próprios e terceiros, em 879 trabalhadores.
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