As mineradoras de Corumbá estão encarando a crise mundial com prudência e estratégia. Tanto a Vale como a Rio Tinto deram sinais esta semana de que pretendem manter seus projetos de expansão e investimentos em Corumbá e no restante do País. “Nossa vantagem é possuir um minério com a melhor qualidade do mundo, que todos querem comprar”, afirmou Edson Miranda, gerente geral da Rio Tinto. “Se a crise se agravar, as empresas que trabalham com minério de baixa qualidade é que devem sair do mercado”, acrescentou.

Por sua vez, Roger Agnelli, presidente da Vale, citou o lucro recorde de US$ 12,4 bilhões no terceiro trimestre e disse que a empresa está preparada para novos investimentos mesmo em meio às turbulências do mercado. Mais de 70% dos investimentos da Vale são no Brasil, onde os custos são mais baratos, segundo Agnelli.

O gerente geral da Rio Tinto, Edson Miranda, negou que o rompimento do contrato de fornecimento de minério à siderúrgica paulista Cosipa, recentemente, esteja relacionado à crise. “Tratava-se de um contrato provisório para transporte de minério por caminhões até Cubatão. O custo era muito alto, foi uma estratégia de emergência, eles haviam ficado sem minério e nos procuraram. Chegaram a fazer um transporte meio termo, com caminhões até Bauru e dali por ferrovia, mesmo assim o custo era muito alto.

Mas agora esse minério deve ser transportado por barcaças até o porto da Argentina e dali seguir para Cubatão, sede da Cosipa em São Paulo”, explicou Edson Miranda ao Diário. “Estamos negociando um contrato de longo prazo, que ainda não havia. A qualidade do nosso minério atrai a Cosipa e as remessas vão continuar”, acrescentou.

O presidente da Vale, Roger Agnelli, disse que a ameaça de siderúrgicas chinesas interromperem as importações de minério de ferro da empresa não passa de “oba-oba”. Ele ressaltou que a Vale é o principal fornecedor da matéria-prima para a China, e caso os embarques sejam suspensos, o setor siderúrgico local pára. Agnelli acrescentou que a Vale não deixou de fazer qualquer embarque para o mercado asiático nos últimos dias e que não há qualquer estoque nos portos em que a mineradora opera.

Segundo informações divulgadas pelo jornal chinês “Shanghai Daily”, a China deixaria de importar ferro da Vale em represália à intenção da mineradora em promover novo aumento no preço do minério de ferro. Apesar de já ter feito reajustes que variam de 65% a 71% no início do ano, a Vale decidiu reabrir conversas para nova atualização dos preços, depois que os concorrentes BHP Billiton e Rio Tinto fecharam aumentos maiores. “O que coloquei claramente a todos os clientes, é que dependendo das negociações com a australiana (BHP Billiton), tínhamos que ter uma equalização de preço europeu.

Isso foi colocado de forma clara, e estamos negociando”, explicou Agnelli. Edson Miranda, da Rio Tinto, acredita que tudo não passa de “um jogo de estratégia” da China para não reajustar o preço. Para ele, os chineses ainda não possuem condições de produzir minério suficiente para o mercado interno e dependem das exportações, principalmente das empresas brasileiras, que fornecem minério de melhor qualidade.

Já Roger Agnelli diz que os chineses não iriam perder nada com um novo ajuste, já que o preço do frete vem caindo no mercado internacional. Ele afirmou ainda que a siderurgia chinesa deve parte de seu crescimento à Vale, que de acordo com ele, foi a primeira empresa a acreditar na expansão daquela indústria, quando incrementou a produção no início da década para atender à demanda que poucos vislumbravam. “No começo do ano, quando fechamos acordo com a Nippon Steel, falamos que estávamos aceitando um reajuste de preço menor do que a gente poderia conseguir na época, em função de uma visão de longo prazo da companhia”, observou.

Agnelli comentou o lucro recorde de R$ 12,4 bilhões no terceiro trimestre deste ano e admitiu que a perspectiva para o último trimestre não é “tão brilhante”. Segundo ele, a crise se instalou e todos os segmentos já sentem os efeitos dela. “O mercado passa por um ajuste muito severo. As empresas estão se desfazendo dos estoques para fazer dinheiro. Em setores ligados a bens de consumo, a expectativa é que não haja um Natal tão brilhante quanto nos outros anos”, previu o empresário.

Câmbio – Roger Agnelli reconheceu que o dólar mais alto tem efeito positivo no balanço da companhia, principalmente pelo fato de a maior parte dos custos da Vale ser em real. A desvalorização do real ante o dólar contribuiu para elevar o ganho no terceiro trimestre em R$ 2,849 bilhões. Para o último trimestre do ano, o câmbio poderá ter impacto sobre o volume vendido, acrescentou Agnelli. “Não há dúvida que o câmbio um pouco mais depreciado beneficia a Vale. Vamos ter uma queda de custos em função especificamente do câmbio. Por outro lado, nos projetos de investimento, mais de 70% deles são no Brasil. Então, os investimentos ficarão mais baratos, em dólares, porque os serviços e equipamentos são adquiridos no Brasil”, analisou.
Fonte: Padrão