Mineradoras encaram o desafio tecnológico

Para ingressar neste mercado, dominado pela China, falta desenvolver tecnologiaspara as etapas de beneficiamento e de redução dos óxidos de terras-raras

om o crescimento das indústrias de alta tecnologia, o setor mineral vem aumentando o interesse pela extração de terras-raras, já que esses elementos são utilizados como matéria-prima para a fabricação de diversos itens de computadores, smartphones, tablets, turbinas eólicas, baterias para automóveis elétricos, mísseis, entre outros.

Outro fator que impulsiona os projetos brasileiros é que a China, que responde por mais de 95% da oferta mundial desses insumos e comanda os preços no mercado internacional, reduziu, nos últimos anos, sua produção com o fechamento de minas irregulares, além de criar uma série de regras e barreiras para a sua comercialização.

No Brasil, apesar de se encontrar grandes depósitos de terras-raras, localizados em Minas Gerais, Goiás e Amazônia, principalmente, a extração comercial é praticamente nula em função dos desafios tecnológicos de separação e beneficiamento e a quase inexistência de uma demanda doméstica por esses elementos.

Entretanto, diante do crescimento da importância desses insumos, algumas companhias já possuem uma produção que não alcança a escala comercial, como é o caso da CBMM, MbAC Fertilizantes, Mineração Taboca, Mineração Serra Verde e Anglo American. Além disso, trabalham em conjunto com centros de pesquisas, como Cetem (Centro de Tecnologia Mineral) e IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), para o desenvolvimento de tecnologias de beneficiamento e de redução dos óxidos de terras raras em metais (ligas).

O governo também pretende incentivar o desenvolvimento de uma cadeia produtiva verticalizada de terras-raras. Para isso, no final de 2013, criou uma comissão, no Congresso Nacional, com o objetivo de conhecer mais o tema e avaliar o melhor caminho para se criar uma legislação específica para o setor. Na ocasião, o relator da comissão, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), afirmou que produção de terras-raras não deve ser submetida a regras estatizantes, facilitando a livre iniciativa e diminuindo a burocracia.

Convênio firmado visa o desenvolvimento de tecnologia para a produção de neodímio metálico, utilizado também em
separadores magnéticos

Segundo especialistas, o mercado global de terras-raras deve praticamente dobrar sua produção até 2020. Atualmente, há mais de duzentos projetos de exploração sendo desenvolvidos por 165 empresas em 24 países.

CBMM e IPT visamao neomídio metálico

A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) fecharam, em novembro, uma parceria de R$ 9,5 milhões para a produção nacional de neodímio metálico, material empregado na fabricação de super imãs, utilizados em geradores eólicos e motores para carros elétricos. A companhia, que é líder mundial no mercado denióbio, respondendo por cerca de 80% da oferta, já possui em Araxá (MG) uma unidade piloto de separação e concentração de óxidos de terras-raras – estes insumos são obtidos a partir da monazita, rejeito da produção de nióbio.

Com a parceria, o objetivo da CBMM é desenvolver uma tecnologia para a redução do óxido de neodímio em neodímio metálico e assim produzir ligas para serem utilizadas na produção de imãs. O neomídio faz parte dos elementos de terras raras, cujos óxidos também são utilizados na produção de componentes de computadores, smarthphones e tablets.

“Além de ser um metal utilizado em setores de alta tecnologia, o projeto segue a linha sustentável da empresa, pois aproveitará o rejeito da produção de nióbio. Portanto, não precisaremos abrir novas minas”, ressaltou Tadeu Carneiro, presidente da CBMM, durante a assinatura do convênio.

Atualmente, a China é a principal fabricante de óxidos de terras-raras, com reservas de aproximadamente 55 milhões t. A demanda anual por esses insumos gira em torno de 120 mil t, sendo que a maior parte deste volume, cerca de 25%, é utilizada para a produção de imãs. Já o Brasil detém jazidas em torno de 22 milhões t, porém sem produção comercial.

Aplicações de terras-raras

Em sua planta piloto, a CBMM faz a concentração de 1.300 t de óxidos de terras raras por ano, podendo elevar esse volume para 3.000 t. Para a etapa de separação dos óxidos, como o de neomídio, a empresa possui um processo próprio que está em fase de testes. Na sequência, a ideia é reduzir o óxido de neodímio, assim como os óxidos de lantânio e cério, em ligas metálicas (o IPT entra justamente nesta etapa da cadeia).

O convênio terá duração de dois anos e irá contar com uma equipe de técnicos da CBMM e de pesquisadores do IPT para o desenvolvimento da tecnologia.

Mineração Taboca

A Mineração Taboca, que opera o Complexo Mineiro do Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM), produz concentrados de cassiterita, pirocloro e xenotímio – este último sendo um fostato de ítrio com presença de terras-raras pesadas. Para os próximos anos, o objetivo da mineradora é intensificar a recuperação de terras-raras do xenotímio.

Em 2009, a companhia assinou um acordo de desenvolvimento com a Neo Material, visando a avaliar a receptividade comercial aos concentrados de terras-raras pesados encontrados na mina de Pitinga. A Neo Material tem ainda uma parceria com a empresa japonesa Mitsubishi, no qual se comprometeu em fornecer concentrados de terras raras em troca de investimentos para o desenvolvimento de tecnologias de beneficiamento.

Com cerca de 1.500 funcionários, a unidade Pitinga investiu R$ 98 milhões em 2013, sendo R$ 87 milhões destinado às operações existentes e R$ 11 milhões destinado à expansão e novos projetos.

Os aportes foram utilizados para implementação do plano de otimização da distribuição de rejeitos e da estrutura das barragens, melhoria de saneamento e qualidade das á
guas e aperfeiçoamento do
s processos produtivos na metalurgia.

Em segurança, a companhia investiu, em 2014, aproximadamente R$ 2 milhões, contemplando projetos de sinalização viária, treinamentos e infraestrutura da mina.

Fundada em 1969, a Mineração Taboca foi pioneira na mineração e metalurgia do estanho no País. Na planta de metalurgia da empresa, localizada próxima a São Paulo (SP), o concentrado de cassiterita (minério de estanho) proveniente de Pitinga é fundido para produzir o estanho refinado, high grade, com 99,9% de pureza.Em 2008, o tradicional grupo minerador peruanoMinsur adquiriu o controle acionário da companhia.

Unidade da MineraçãoSerra Verde prevista para 2017

A Mineração Serra Verde, empresa do grupo Mining Ventures Brazil, pretende colocar a sua unidade de terras-raras, localizada em Minaçu (GO), em operação a partir de 2017. Com o empreendimento, a empresa ambiciona ser a maior fornecedora de terras-raras fora da China.

Inicialmente, a previsão é produzir 5 mil t por ano de terras-raras separadas em 2019 e aumentar para 10 mil t por ano em 2024. De acordo com os porta-vozes da empresa, o projeto possui metalurgia simples, requerendo baixo investimento de capital.

O Grupo Mining Ventures Brasil é controlado majoritariamente pela Denham Capital, dos Estados Unidos, empresa global de private equity com foco em energia e recursos naturais; e, minoritariamente, pela Arsago, grupo suíço que atua exclusivamente no País com investimentos principalmente no mercado imobiliário e de recursos naturais.

Reservas em 2005 medida+indicada

(metal contido-t)

Incremento
de reservas
2006-2012 medida+indicada (metal contido-t)

Produção Nacional-t (2008)

Produção Nacional-t (2011)

Incremento de vida útil considerando produção de 2011 (anos)

Ferro

14.363.031.268

9.540.525.833

351.246.260

460.576.820

21

Cobre

15.418.578

22.772.806

222.102

213.800

107

Níquel

6.597.887

8.596.201

85.688

131.673

65

Ouro

3.346

2.106

48

65

32

Nióbio

4.541.461

9.192.590

118.343

169.245

54

Terras Raras

44.000

22.030.591

90.000

244

Fonte: Revista Minérios & Minerales