Nestas quatro décadas, puxando pela memória das matérias publicadas na revista Minérios & Minerales e pela memória emocional, que guarda apenas aquilo que impressionou pela emoção, notamos fatos marcantes e significativos, como o advento do projeto Ferro Carajás, que veio a transformar a Vale numa mineradora global; a criação do Consider e seu programa de estímulo à produção de não ferrosos no País; a agitação em torno de terras raras, cuja tecnologia de purificação o País ainda não dominava, a despeito de vastos depósitos; o potencial de o Brasil se transformar num dos produtores líderes de ouro, o que não chegou a acontecer embora houvesse avanços na produção do metal precioso; e o caso singular de sucesso da Yamana — raro no País – que levantou recursos nos bolsas do Canadá para expandir a produção de ouro em minas consideradas como exauridas (ou quase), como Fazenda Brasileiro e Jacobina.
A indústria brasileira de mineração sempre colocou nas mãos do governo seu potencial de crescimento — esperando que este criasse mecanismos que alavancassem esse processo. Mesmo nos superciclos de alta de preços dos minerais e metais, a mineração brasileira manteve essa posição. Mas o governo sempre teve outras prioridades – agricultura, indústria automobilística, bens duráveis, etc. Aliás, há anos o setor industrial em geral reclama de uma genuína política que repensasse seu futuro numa economia global em franca transformação.
A mineração tampouco assumiu claramente o seu papel de indutora de crescimento socioeconômico em regiões remotas ou pouco acessíveis, onde as minas criavam empregos, renda e pagava impostos e taxas, por décadas a fio. Raramente divulgava os fatos positivos de forma ampla e sistemática. Ao não assumir sua cidadania corporativa, às claras, ela se sujeitava a todo tipo de desinformação, até por parte da imprensa diária.
Uma notável exceção é a Ferbasa, cujo fundador José Corgosinho de Carvalho Filho criou uma fundação em seu nome, em 1975, com objetivo de cuidar da educação das novas gerações, pertencentes às comunidades próximas às suas minas no Centro-Oeste da Bahia. Na época, sustentabilidade não era sequer uma palavra conhecida. Hoje esta atividade social atinge até Salvador e outras regiões do Estado.
Quanto ao futuro da mineração, uma empresa que sempre investiu nas próximas décadas é a CBMM. Para promover as qualidades do nióbio – que confere qualidades especiais ao aço — seus técnicos viajaram pelos principais países do mundo, inclusive a antiga União Soviética, quando a Guerra Fria ainda era travada. Ainda hoje, ela promove sistematicamente a leveza e resistência de um chassi de automóvel ou de uma caçamba basculante de caminhão —a mbos produzidos com aço liga de nióbio.
Esses exemplos admiráveis representam uma somatória de visão e persistência, sem as quais os resultados podem decepcionar, mesmo contando com recursos financeiros e materiais. Alguns dos relatos publicados nesta edição – que comemora os 40 anos da revista Minérios & Minerales – mostram como iniciativas sociais conduzidas com visão e persistência são coroadas de êxito. Quem primeiro aplaude é a população beneficiada.
Um dos vários projetos apoiados pela Sama
Fundador da Ferbasa, José Corgosinho de Carvalho Filho
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