Investimento tem recuo de R$ 200 bilhões com a crise

Os efeitos da crise financeira chegaram ao horizonte de investimentos para o período 2009/2012 no Brasil.
Até agosto de 2008, antes da deterioração do cenário internacional, a previsão era de R$ 1,5 trilhão em aportes na economia do País nos próximos quatro anos. Em dezembro, porém, com os impactos da crise, a expectativa de investimentos dos setores econômicos mostrava que esse volume foi reduzido para R$ 1,3 trilhão, queda de 11% em relação ao valor anterior.
Entre as atividades mais afetadas despontam a industrial – nos setores de mineração, siderurgia, automotivo e papel e celulose, que somados, tiveram um recuo de 46% em investimentos -, e da construção residencial.

“Não obstante à crise, a revisão dos planos de investimento mudou pouco”, disse Fernando Puga, um dos autores do estudo “Perspectivas de investimentos 2009/12 em um contexto de crise”, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo ele, os resultados do levantamento indicam uma diferença pouco significativa na comparação entre agosto e dezembro de 2008. Puga diz que os adiamentos de projetos foram maiores que os cancelamentos.

Fator que contribuiu para um resultado mais ameno sobre a queda de aportes está ligado a compensação entre os pesos dos setores que mantiveram suas previsões e aqueles que reduziram as expectativas. O trabalho realizado pelos economistas do BNDES distinguiu três grupos diferentes de setores da atividade da econômica. O primeiro deles envolve petróleo & gás, eletroeletrônica, indústria da saúde, energia elétrica, telecomunicações, saneamento e rodovias – esses tendem a um grau de segurança maior quanto a manutenção de projetos. “O elevado peso desses setores no conjunto da formação bruta de capital fixo contribui de modo importante para explicar a relativa robustez dos investimentos mapeados”, diz o estudo. Investimentos nessas áreas, segundo Puga, são considerados firmes, pois estão em andamento ou não há chance de haver um recuo no cumprimento do projeto.

Diante das incertezas que a crise trouxe, a cadeia de petróleo & gás, tem um grau de segurança avançado sobre seus aportes. Recentemente, por exemplo, a Petrobras divulgou uma revisão para cima no seu plano estratégico para 2009. Os projetos de energia elétrica são também considerados programas de elevada estabilidade, porque estão atrelados a contratos celebrados de fornecimento de energia realizados pelo governo. Telecomunicação também está entre os setores que mantém aportes, apesar da crise. Já o Programa de Aceleração do Crescimento, financiado pelo governo, deve manter os aportes em saneamento e rodovias.

A manutenção de investimentos não se observou na indústria automobilística, de mineração, de siderurgia, e de papel e celulose – esta, por exemplo, viu a previsão de investimentos ruir de R$ 26,7 bilhões para R$ 9 bilhões. O setor automotivo estimativa, em dezembro investir R$ 23,5 bilhões, ante a projeção inicial de R$ 35,3 bilhões. Esses setores previam aportes de R$ 194,7 bilhões e reduziu para R$ 104,9 bilhões.

A construção residencial está entre os setores que devem ser mais afetados, recuando de R$ 570,4 bilhões em investimentos, para R$ 535,7 bilhões. Segundo o estudo do Banco, “embora exista um montante significativo de projetos já contratados e em fase inicial de obras, minimizando, em parte, os impactos da crise, a estimativa é de que haja uma desaceleração dos investimentos no setor, a ser mais sentida no 2º semestre de 2009.”

Há também atividades econômicas que estão sofrendo impactos de fatores externos à crise. É o caso dos setores sucroalcooleiro, ferrovias e portos, que reviu os investimentos de R$ 71 bilhões para R$ 43,9 bilhões. Como característica comum eles têm um elevado volume de investimentos, considerados, pelo estudo, não firmes. “Pelo mapeamento identificamos que os mais afetados estão ligados a commodities ou a retração no crédito doméstico”, contou Gilberto Rodrigues Borça Junior, autor do estudo. Em síntese, os economistas do BNDES indicam que, apesar da crise, “há expectativa de crescimento médio de 9,6% a.a. nos investimentos, na comparação entre os períodos de 2004/2007 e de 2009/2012”.


Fonte: Padrão