Com a previsão de novos investimentos da indústria mineral, feira mostrou tecnologias de eficiência produtiva. Ações de desenvolvimento, projetos e a desburocratização do setor ditaram o ritmo do Congresso
Durante a solenidade de abertura, José Fernando Coura, presidente do Ibram, disse que o momento é de buscar novas oportunidades de negócio e de inovação técnica para o setor mineral. Coura ressaltou que a indústria de mineração faz investimento pensando no médio e longo prazo, e que os ciclos de alta e baixa estão intrínsecos à história de desenvolvimento da indústria. De acordo com dados do Ibram, o setor receberá, de 2014 a 2018, aportes da ordem de US$ 53,6 bilhões.
“É com inovação que faremos frente à atual crise e é com otimismo que temos que nos planejar para gerarmos oportunidades para a indústria da mineração. Cada segmento relacionado ao setor mineral tem que encarar esse desafio de superação de frente, com a mente aberta para vislumbrar, via propostas inovadoras, os caminhos que nos levarão novamente a um ciclo virtuoso nos negócios”, afirmou Coura.
Segundo o executivo, a mineração movimenta por ano cerca de US$ 38 bilhões, e cerca de 1,2 bilhão de toneladas de bens minerais no Brasil. Durante a abertura, Coura entregou uma placa comemorativa ao filho do empresário Antônio Ermírio de Moraes, Luís Ermírio de Moraes, em homenagem à trajetória na indústria mineral do seu pai, que faleceu em 2014. Também foram homenageados, este ano, os engenheiros Francisco Moacyr de Vasconcellos e de Rinaldo Campos Soares, por suas importantes contribuições para o desenvolvimento da mineração brasileira.
Congresso: “Mineração no mundo da inovação”
Com o tema “Mineração no mundo da inovação”, o Ibram realizou o 160 Congresso Brasileiro de Mineração. Durante quatro dias, especialistas do País e do exterior debateram temáticas que envolvem sustentabilidade, inovações e desenvolvimento da indústria mineral por meio de palestras, workshops e talk-show.
“O clima é de otimismo com o futuro. Inovação e sustentabilidade são temas transversais, são mantras na moderna gestão dos empreendimentos de mineração, no Brasil e nas demais nações competitivas neste setor”, afirmou Fernando Coura.
Coura também cobrou do poder público medidas efetivas para combater a burocracia e modernizar regras, como o licenciamento ambiental e o novo marco regulatório da mineração. “A burocracia e as leis e regras anacrônicas dificultam, emperram, inibem a atividade minerária e sua necessária expansão. Não é exagero dizer que este País está deixando esvair pelo enorme ralo da burocracia seu enorme e invejável potencial mineral, ao não se registrar ações com mais velocidade e racionalidade para que o setor mineral consiga evoluir”, frisou.
Desburocratização dos licenciamentos ambientais foi um dos assuntos abordados no talk-show do congresso, que teve a participação de Murilo Ferreira, presidente da Vale, Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais e o Olavo Machado Júnior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Sobre este tema, os três foram unânimes em afirmar que é preciso modernizar e dar agilidade às regras de licenciamento, pois Minas Gerais e outros estados têm perdido oportunidades por causa da burocracia.
Terras-raras e fertilizantes
Outros painéis de destaque foram “Terras raras e minerais estratégicos: da potencialidade para a efetividade” e “Fertilizantes: novos projetos buscam superar a dependência do Brasil”. Segundo os especialistas, o desenvolvimento da mineração de terras-raras esbarra na escassez de tecnologias de beneficiamento, assim como a falta de uma cadeia produtiva, que agregue valor aos insumos. Já em fertilizantes, alguns projetos em andamento visam a diminuir a dependência do País de produtos importados, que representa mais de 90% do consumo interno. Durante as palestras, players do setor e representantes acadêmicos e de institutos tecnológicos falaram sobre os projetos em andamento, tecnologias e aspectos de mercado para esses minerais.
Em terras raras, Tadeu Carneiro, presidente da CBMM, maior produtora mundial de nióbio, destacou que a empresa investiu R$ 70 milhões no desenvolvimento de tecnologia de concentração de óxidos extraídos de terras raras e montou uma planta industrial piloto que já produz materiais com até 99,9% de pureza. No final de 2014, a empresa e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) firmaram uma parceria paradesenvolver tecnologia de produção de neodímio,usado emmotores elétricos e turbinas eólicas.
Também presentes na plenária sobre terras-raras, os especialistas Orestes Alarcon, da Universidade Federal de Santa Catarina, e João Batista Ferreira Neto, gerente de projetos do IPT, ressaltaram que o Brasil possui uma das maiores jazidas de terras-raras do mundo, mas é preciso um plano estratégico para investir na exploração e, sobretudo, na verticalização da cadeia, com a produção de itens de maior valor agregado.
Os óxidos de terras raras são aplicados na fabricação de componentes de motores elétricos de baixo consumo, veículos elétricos, geradores eólicos, lâmpadas com tecnologia led e equipamentos eletrônicos, como celulares, tablets e computadores.
Segundo Carneiro, o mesmo material extraído da mina de Araxá, que possui 4% de teor de nióbio, também oferece 4% de terras raras. “Temos as reservas e a tecnologia da produção dos óxidos. Agora é preciso vontade e interesse político no desenvolvimento de uma cadeia de alta tecnologia no Brasil”, afirmou.
Em potássio, matéria-prima para a fabricação de fertilizantes, Matt Simpson, CEO da Brazil Potash, detalhou o projeto da empresa em Autazes, no Amazonas. Nele, a companhia pretende produzir, a partir de 2019, 2,2 milhões t por ano de cloreto de potássio (KCl). O projeto envolve investimentos de US$ 1,8 bilhão.
A Bemisa, por meio do seu presidente Augusto Lopes, apresentou o projeto Jauru, em Mirassol D’Oeste (MT), que envolve a extração de P2O5 para a produção do fertilizante SSP (super fosfato simples). A companhia já realizou testes em uma área de 25 mil m2 e anunciou recursos de 400 milhões t de minerais, com teor médio de 5% de P205.
Segundo Lopes, a atratividade do projeto, que até o momento recebeu aportes de R$ 500 milhões, refere-se à utilização do processo de lixiviação ao invés de flotação, que é economicamente mais competitivo. Além disso, a localidade do projeto, dentro de um estado altamente consumidor de fertilizantes (Mato Grosso), é uma vantagem estratégica.
Fonte: Revista Minérios & Minerales