Há dez anos a empresa americana Google oferece serviços na internet. Depois do impacto causado por seu motor de busca, a empresa manteve seu alinhamento inovador reinventando produtos e serviços já existentes na internet, como o gmail, o Google documents, dentre outros.

Nesta Quarta-feira última a Google lançou seu navegador, o Chrome, que ainda na versão beta, foi testado pela equipe de programadores do site da revista Minérios & Minerales. Mesmo na versão beta (pré-lançamento), já podemos adiantar que o novo navegador é estável, seguro, e recomendado por esta equipe mediante os testes realizados. Este artigo é o relato destes testes.

Inovações Reais

Há menos de dois meses, a versão 3.0 do Firefox (FF) chegou à internet com mudanças interessantes como memória de sessão, reorganização dos “favoritos”, uma barra de endereços mais inteligente e a tão esperada resolução de alguns erros de visualização que o navegador apresentava. Há menos de duas semanas, a Microsoft disponibilizou para download a versão beta do novo Internet Explorer (IE), que também trouxe algumas novidades interessantes, como aceleradores de busca (é possível selecionar texto no navegador e solicitar uma busca pelo botão da direita do mouse), ferramentas que facilitam a interatividade com a web (publicação em weblogs, fórum etc).

Quando comparadas às inovações trazidas pelo Chrome, os avanços nos dois líderes de preferência da comunidade online, tornam-se quase irrelevantes. Deve-se ter em mente que o Chrome foi criado, desde a concepção, desenvolvimento e construção, do zero, enquanto o Internet Explorer e o FireFox, assim como outros concorrentes, vêm evoluindo da mesma estrutura básica há quase duas décadas (IE), época quando a internet não era muito difundida e riscos à segurança do usuário eram literalmente zero. Assim, os desenvolvedores de navegadores da época não se preocupavam com questões de segurança até aparecerem os primeiros problemas deste gênero.

Hoje em dia, pelo contrário, a grande questão dos navegadores é a segurança. O IE e o FF comportam-se de forma “bloqueadora”, promovendo segurança via proibições. O Chrome por outro lado parte do princípio de que nada é permitido, somente do que o usuário solicita. Os engenheiros do Google construíram o Chrome de forma que ele seja executado totalmente sem permissões no sistema operacional, o que quer dizer que ele não pode fazer nada de errado.

Todo este palavreado técnico pode ser facilmente entendido fazendo uma analogia. Imagine que seu computador é uma casa totalmente selada. O IE e o FF são uma “janela”, um “buraco na parede” propriamente dito, para a entrada da informação. Para promover segurança, eles tentam bloquear a entrada de coisas nocivas ao sistema proibindo aqui e acolá. O Chrome, por outro lado, comporta-se como uma parede transparente, permitindo a visualização da informação sem que ela adentre o sistema, destacando-o quando o assunto é segurança.

Outras mudanças foram feitas também na IU (interface do usuário), que é limpa e direta ao ponto. As já conhecidas “abas” (nascidas no navegador Ópera e eventualmente adotadas pelos FF e IE) funcionam agora de forma independente uma da outra (processos independentes), e podem ser separadas ou reunidas arrastando-as de um lado para o outro. Uma aba pode ser movida de uma janela para outra, possibilitando uma inédita organização da navegação. Outra coisa interessante é a organização dos Favoritos, que ganham destaque no design do navegador, ficando mais acessíveis ao usuário.

O Chrome mantém um comportamento inerente ao Google, considerado por muitos um tanto invasivo. Ele analisa o comportamento do usuário (guarda sites mais visitados, logins e senhas), e usa toda esta informação para facilitar a navegação. Os nove sites mais visitados, assim como os cincos últimos favoritos cadastrados pelo usuário e os cincos últimos sites visitados aparecem na página inicial do navegador. Ainda assim, para os que não gostam de serem monitorados, o navegador tem um modo de operação privado, onde nenhuma informação sobre a navegação é armazenada.

Java, Plugins e CS Scripts

O Chrome disponibiliza um duto rápido para a execução dos scripts Java, possibilitando que os aplicativos que usam Java rodem com performance superior em comparação a qualquer outro navegador.

Em testes comparativos contra o IE e o FF, o Chrome apresentou velocidade similar ou superior na hora de abrir os sites. Sites que utilizam Java são notavelmente mais rápidos no Chrome, mas algumas funções ainda ficam debilitadas. No teste do hotmail, por exemplo, não é possível usar os menus contextuais (botão da direita do mouse). No teste do gmail (serviço de e-mail do próprio Google) a melhora no desempenho é clara. O site carrega-se e opera de forma rápida dentro do Chrome, comportando-se quase como um aplicativo local. YourTube, Orkut e outros serviços do Google também são privilegiados pelo navegador. Sites não relacionados ao Google (FaceBook, MySpace, Elefante, AgendaOnline, UOL, Terra, G1 e diversos blogs testados) também rodam de forma mais eficiente no Chrome do que em outros navegadores (testamos IE, FF e Opera).

Renderização

Renderizar (do inglês to render) é o termo técnico utilizado para “desenhar”. O processo de renderização é aquele através do qual o computador transforma dados numéricos em informação audiovisual. No caso dos navegadores, renderizar é transformar o código HTML (como as páginas da internet são escritas), nos textos, desenhos, filmes, sons elementos interativos que vemos nos sites.

O Chrome ainda apresenta alguns problemas de renderização, provavelmente legados do motor de renderização da Mozilla (utilizado também pelo FF). Apesar de ter sido re-escrito, o motor de renderização do Chrome é baseado no da Mozilla, e apresenta problemas similares aos que ainda não foram corrigidos no FF 3.0. A maioria destes defeitos apresenta-se em elementos de pequena importância, como personalização de barras de rolagem, atribuição de cores a botões e caixas de texto, transparência de imagem de fundo dentre outros. Os problemas aparecem também nos aplicativos que misturam operações serverside com as clientside, muito presente em aplicativos online como e-mails e agendas. Em seu site oficial, a Google lembra que o Chrome está em versão beta e compromete-se a resolver estas questões rapidamente para o lançamento da primeira versão não-beta do navegador.

Dentre os navegadores testados, o IE (versões 7.0 e 8.0) ainda fica à frente dos concorrentes, sendo o único a renderizar todos os elementos HTML testados.

Postura Comercial

O Google divulga oficialmente que utilizou conhecimento e know-how da comunidade Open Source (em português, Código Aberto: programadores que trabalham de forma aberta, disponibilizando seus códigos para qualquer um poder ver, modificar, adaptar e utilizar). Sendo assim, o Chrome faz parte desta comunidade e toda a sua programação é aberta. Qualquer pessoa pode pegar o código do Chrome criar seu próprio navegador, ou mesmo estudá-lo e utilizar suas inovações tecnológicas em outros programas e aplicativos online.

Com esta postura, a empresa diz estar devolvendo à comunidade Open Source o know-how que tomou emprestado. Isto promove a competitividade e os avanços tecnológicos no setor da navegação e abre espaço para o surgimento de novos navegadores “derivados” do Chrome. Promove também a evolução de outros navegadores abertos como o FF, o Opera e mesmo os fechados como IE, Safari entre outros. Falando nisso, versões para Linux e OSX ainda não estão disponíveis, mas a empresa já a
visou que estão em desenvolvimento.

Futuro

Acompanhando o site oficial do Chrome, nota-se um certo corujismo quanto ao Java. Apesar de dar destaque às questões de segurança, abertura do código, mudanças estéticas e mais, a Google não disfarça os esforços que foram embutidos no motor de Java de seu navegador. E como já mencionado neste texto, Java roda particularmente rápido no Chrome, não sem motivo.

Java sempre foi uma tecnologia à frente dos computadores pessoais (PCs), por motivos técnicos que desinteressariam a maioria dos leitores. Basta dizer que aplicativos Java não evoluíram mais até o momento por rodar de forma lenta e não-otimizada nos navegadores. Ao resolver a questão do Java, a Google aponta armas para a Microsoft, pois passa a disponibilizar ao público uma plataforma estável, sólida e finalmente rápida para a execução de aplicativos online. Isto se traduz em aplicativos online mais complexos, como o Google Apps que oferece editores de texto, planilha, apresentações, formulários, agenda, calendário, avisos dentre outros.

Esta suite de aplicativos online gratuitos já compõe algo que pode ser chamado de Ambiente de Trabalho que, no Chrome, funciona com mais eficiência. Apesar de incipiente, esta movimentação coloca o Microsoft Office na corda bamba coisa que nem o OpenOffice, iniciativa da comunidade Código Aberto para oferecer um pacote alternativo ao Microsoft Office, conseguiu fazer.