Mineradoras se adaptam às condições de operação e desenvolvem estratégias para ampliara vida útil dos pneus e reduzir as falhas prematuras
Os mais variados tipos de operação – lavras a céu aberto e subterrânea, períodos de seca e chuvoso – demandam estratégias específicas das mineradoras para conseguir adequar a produção da mina com a preservação dos pneus.
Mineradoras relatam àMinérios & Mineralesquais são seus principais recursos para poupar os pneus dos desgastes excessivos, bem como reduzir os gastos com manutenção e evitar paradas indesejadas.
Jaguar Mining
Com um gasto mensal médio de R$ 150 mil em pneus, a Jaguar Mining enfrenta as dificuldades típicas de mina subterrânea. “O desgaste de pneus é muito maior em função do ambiente severo, por conta das rochas e da água”, diz Sávio Mendonça, gerente de Manutenção da unidade Turmalina (MG), da Jaguar Mining. Segundo ele, a hostilidade do ambiente faz com que o pneu de uma carregadeira LHD dure em torno de 800 horas.
Para evitar cortes e desgastes prematuros, motoniveladoras fazem a manutenção e limpeza das pistas. Além disso, a mineradora trabalha com um programa de calibração, para evitar que o pneu rode pressãoabaixo ou acima do especificado.
O controle dos pneus e de toda a parte de manutenções preventivas e preditivas é feito com o auxílio de um software – o Engeman é uma ferramenta de planejamento e controle de manutenção e serviços.
Com o término da vida útil, a Jaguar aproveita a carcaça para reformar o pneu e reaproveitá-lo. “Fazemos isso três vezes, depois a carcaça não serve mais”, afirmou Mendonça. Após isso, as carcaças de pneus são vendidos para empresas de reciclagem.
Os caminhões A30 da Volvo utilizados pela mineradora rodam com pneus Pirelli, Goodyear e Michelin.
“O objetivo é gastar menos e ter mais máquinas disponíveis. Quando se tem um bom controle de pneus, as máquinas param pouco, ou apenas de maneira planejada”, comentou Mendonça.
Kinross
Uma grande conquista da Kinross no ano passado foi ter elevado a vida útil dos pneus de seus caminhões fora de estrada de 8 mil para 10 mil horas. Esse aumento foi possível em função de um melhor controle de cargas, boas condições de pistas e uso de nitrogênio para enchimento dos pneus. De acordo com Leonardo Pereira, gerente de Manutenção da unidade de Paracatu (MG) da Kinross, a mineradora faz um controle rigoroso das determinações da Bridgestone, fornecedora exclusiva de pneus para a empresa, para obter maior vida útil. Um dos fatores é o respeito ao limite de peso imposto sobre os pneus. A mineradora não ultrapassa o TKPH (tonelada por quilômetro por hora) especificado pelo fabricante.
No caso das pistas, uma equipe com quatro motoniveladoras 416M da Caterpillar fazem a conservação das vias. “Esse é um fator preponderante para atingirmos essa vida útil [de 10 mil horas]”, disse Pereira.
O uso de nitrogênio para enchimento dos pneus reduziu o número de paradas das máquinas. Isso porque o pneu com nitrogênio perde menos pressão do que o pneu com oxigênio. “Com isso, fazemos menos calibragens e o pneu sofre menos durante os trabalhos. Também tem a questão da segurança do pessoal de campo, pois o pneu com nitrogênio não explode»,afirmou.
Inicialmente, o pneu novo é instalado no eixo dianteiro da caminhão. Ao atingir 4 mil horas de trabalho, a mineradora passa a peça para o eixo traseiro. Pereira diz que isso é feito porque há um peso constante na parte dianteiro do veículo. Já o peso na parte traseira varia, o que diminui o desgaste do pneu.
O acompanhamento dos componentes é feito por um software disponibilizado pela própria Bridgestone. A plataforma, de acordo com Leonardo Pereira, apresenta o histórico das peças, bem como a quantidade de horas trabalhadas em cada equipamento. Outra plataforma que contribui para o acompanhamento é um sistema de telemetria da Caterpillar. O diferencial do sistema é a avaliação das cargas, como o tempo que o caminhão trabalha vazio e cheio, além das horas paradas.
Os operadores também passam por um treinamento de simulação antes de começarem a operar em campo. Após o período de 30 dias, o operador está liberado para trabalhar nas minas. Inicialmente, o profissional é acompanhado durante 15 dias por um supervisor, antes de conduzir os equipamentos por conta própria. “Os operadores estão incluídos na partilha de resultados da empresa. Se o pneu durar mais, o condutor terá uma premiação maior”, disse Pereira.
Hydro Paragominas
A Hydro Paragominas adquire, em média, 1.100 pneus de diversas medidas anualmente. O gasto anual com as peças fica em torno de quase R$ 3 milhões.
Segundo Fabrício de Almeida, técnico mecânico da mineradora, os pneus dos caminhões que transportam o minério da lavra ao britador são os que mais sofrem danos na mina, em função da distância percorrida diariamente e das adversidades do terreno, com pedras nos acessos e desníveis.
Para evitar maiores danos, que podem prejudicar a vida útil dos pneus, a mineradora faz inspeções diárias nas pistas. Qualquer anomalia, como rochas nos acessos ou desníveis do solo, é informada e imediatamente é feita a correção e limpeza do terreno.
“Cada pneu possui um número de registro. São cadastrados e monitorados semanalmente através de inspeções, onde são coletadas informações como pressão, medidas dos sulcos e condições físicas dos pneus”, disse Almeida. “Com as informações coletadas e lançadas em planilhas é possíve
l programar o di
a da substituição do pneu.”
Embora já tenha trabalhado com diversas marcas, a Hydro Paragominas têm usado somente pneus da Michelin em suas máquinas atualmente, inclusive fazendo a importação de alguns produtos.
O tempo de vida dos componentes varia bastante conforme as máquinas. De acordo com Almeida, o pneu 27.00R49, utilizado em caminhão de grande porte para transporte de minério, atinge 14.469 horas de trabalho. Já o modelo 1200R24, também para frota de transporte de minério, dura 3.393 horas.
No caso das motoniveladoras, o pneu 23.5R25 tem vida útil de 3.250 horas. Já o pneu 29.5R25, utilizado em trator, dura 5.020 horas nas operações da mineradora.
Após o término da vida útil, os pneus são vendidos para empresas licenciadas ambientalmente e utilizados para aproveitamento energético, batedores para amortecimento de grandes embarcações, recauchutagem e mistura de asfalto.
MineraçãoMaracá/ Yamana
Seis meses de chuva e seis meses de seca. Os trabalhos na mina de Alto Horizonte (GO), operada pela Mineração Maracá, empresa do grupo Yamana, precisam se adequar a situações completamente distintas. O cuidado com os pneus dos caminhões fora de estrada não é redobrada.
Atualmente, a mineradora utiliza pneus radiais Michelin, que atingem 5 mil horas de tempo de vida útil. De acordo com Charles da Silva, coordenador de Manutenção de Frotas da unidade de Alto Horizonte, a mineradora também passou a usar, recentemente, pneus radiais Bridgestone.
“Em 2012, houve dificuldade na aquisição de pneus radiais. A demanda era grande e os fabricantes não conseguiram atender o necessário”, disse Silva. “No final de 2013, a empresa conseguiu fechar contratos de fornecimento para a demanda deste ano todo.” A Mineração Maracá gasta em torno de R$ 20 milhões em pneus anualmente.
O cuidado com os pneus inclui uma inspeção semanal nas vias. No período que antecede as chuvas, a equipe operacional faz a drenagem do terreno e reforça a estabilidade das pistas. Já no período chuvoso, uma equipe de infraestrutura faz avaliações periódicas e levantamentos dos pontos que precisam de manutenção.
“Usamos correntes em período chuvoso nos pneus traseiros externos. Isso foi um trabalho pioneiro no Brasil e está se espalhando para outras minas. O objetivo é melhorar a tração e a aderência ao solo, e evitar a patinagem. Isso reduz os cortes também.”
Segundo Silva, além das equipes de avaliações de pneus e de pistas, a mineradora conta com profissionais para equipamentos eletrônicos que fazem o monitoramento da temperatura e pressão das peças. “Temos monitores nas cabines de operação e o próprio operador consegue visualizar a temperatura dos pneus. O sistema alerta o operador, que pode avisar a manutenção via rádio.”
Para estender o período de vida dos componentes, após 5 mil horas de trabalho, a mineradora envia os pneus para recapagem. “Assim, conseguimos ter mais umas 600 horas de uso do pneu”, disse Silva.
Usiminas
Para evitar perdas prematuras dos pneus de caminhões fora de estrada, carregadeiras, tratores e motoniveladoras, a Mineração Usiminas implementará neste ano um novo sistema de monitoramentoon-linede temperatura e pressão dos componentes. De acordo com Paulo Roberto Dutra, gerente-geral de Manutenção da mineradora, o objetivo dessa iniciativa é receber, de forma ágil, informações para tomada de decisões sobre a utilização dos pneus.
Em 2013, a mineradora investiu R$ 6 milhões em pneus. Desse gasto, 70 % dos valores investidos foram para os caminhões fora de estrada. Para este ano, a mineradora espera ter uma gasto 50 % maior em função do incremento da produção.
Atualmente, a Usiminas utiliza pneus Goodyear e Michelin em seus caminhões fora de estrada. Já em outros veículos, como carregadeiras, tratores, motoniveladoras, os componentes utilizados são da Bridgestone.
“Iniciamos a operação dos caminhões 70 t em 2012 com pneu Goodyear. Em 2013 iniciamos a utilização de peças da Michelin, que apresentaram resultados similares”, disse Dutra.
Na Usiminas, a vida útil média do pneu de um caminhão fora de estrada é de 12 mil horas. Normalmente, a mineradora roda 30 % desse período com o pneu na posição dianteira. Após essas horas, o pneu é passado para a traseira até o limite de 20 %, quando é retirado para reforma.
“Temos feito duas reformas dependendo da situação da carcaça do pneu. Para conseguirmos este resultado é fundamental alguns cuidados como a verificação da pressão”, disse.
Ao trabalhar com pressões abaixo do especificado, o pneu pode ter sua vida útil reduzida. No caso de excesso de pressão, podem acontecer acidente graves, como ruptura ou explosão da peça. Ao encerrar sua vida útil, o pneu utilizado pela empresa é destinado a empresas de reciclagem.
Um dos objetivos da mineradora neste ano é fazer a calibragem dos pneus com nitrogênio – hoje o processo é feito com ar comprimido. “O nitrogênio possibilita maior estabilidade da temperatura interna do pneu e com isso a pressão sofre menos variação, o que diminui a necessidade de recalibragem, elevando a vida do pneu”, explica.
Além do controle da pressão, outro ponto fundamental da mineradora para preservar a vida útil de um pneu é a conservação das vias de transporte. Segundo Dutra, as vias são inspecionadas constantemente, para manter o padrão adequado: ausência de pedras e buracos, inclinação das rampas e raios das curvas dentro dos limites técnicos.
“Todas as ocorrências por acidente são identificadas e tratadas junto aos operadores, mostrando os impactos de custos e as medidas de controle para evitar novas ocorrências”, diz Dutra. “A principal medida para evitar danos nos pneus é a qualidade do piso com a eliminaç&
atilde;o de pedras e buracos, e
os operadores têm um papel fundamental neste processo, identificando os trechos de estrada com problemas”, conclui.
Se feito de maneira correta, o controle do uso de pneus pode se tornar um meio eficaz de aumentar a produtividade da mina e evitar acidentes.
Ótimo texto. Obrigada por compartilhar.