Excelente notícia para o mining business brasileiro: é um sinal de retomada de investimentos em programas de exploração.
Alocar investimentos em pesquisa mineral requer argumentos robustos que possibilitem embasar tomadas de decisão para enfrentar projeções de risco.


O interesse por Cobalto tem relação com o boom de commodities utilizados como insumo na fabricação de baterias para armazenamento de energia (Níquel, Cobre, Lítio, Zinco, entre outros), aquecido por projeções de demanda na fabricação de veículos elétricos (com  olho ao que ocorre no mercado chinês). O preço do cobalto tem aumentado significativamente nos últimos 12 meses (Infomine.com).


Esses são bons argumentos para atrair investimentos em terrenos geológicos com chance de hospedar depósitos minerais de interesse comercial.

Depósitos de Níquel Laterítico, a exemplo do Prospecto Itapitanga (Centaurus, São Félix do Xingu), se desenvolvem sobre unidades ultramáficas (Dunitos & Peridotitos) por processos de intemperismo. É um exemplo de mineralização supergênica onde o colapso da estrutura cristalina dos minerais que contem Níquel e Cobalto (geralmente em Olivinas) libera íons que são solubilizados na zona de oxidação (solo/saprolito) na superfície. A mobilidade geoquímica desses íons liberados em solução retira metais como K, Na e mantém Ni, Co (metais com baixa mobilidade geoquímica). Resultado: Há um enriquecimento de Ni, Co pela saída dos outros elementos.

A distribuição desses metais em superfície (horizontal e vertical) depende de processo geomorfológicos que condicionam o desenvolvimento do perfil de laterização.
De maneira simplificada, um perfil de laterização (completo) desenvolvido sobre depósitos de níquel laterítico pode ser resumido da seguinte forma (do topo para a base):

  • Cobertura de canga estéril (ou solos pisolíticos);
  • Laterita Ferruginosa (altos teores de Ferro, baixos teores de Magnésio com Cobalto);

Há situações onde podem ser individualizados horizontes ricos em sílica, bastante poroso;

  • Zona de transição Zona Ferruginosa/Saprolito (conteúdos de Níquel, Ferro e Magnésio oscilam entre Laterita Ferruginosa e Saprolito).
  • Saprolito (teores de Ferro mais baixos e teores de magnésio mais altos).
  • Zona de transição Saprolito/Rocha Fresca

Parâmetros geoquímicos que definem minérios de Níquel Lateríticos são Níquel (cutoff) Ferro (Fe2O3), Magnésio (MgO) e Sílica (SiO2).
Conhecer esses parâmetros é fundamental porque permite prever o tipo de rota para processamento industrial adequado às características químicas do minério:

  • Minérios de Níquel Laterítico com altos teores de Ferro e baixos teores de Magnésio não atendem às condições para processamento pirometalúrgico, sendo a via úmida mais adequada (neste caso, características de porosidade do minério é outro parâmetro a ser controlado):
  • Minérios de Níquel Laterítico ricos em Ferro e pobres em Magnésio são adequados para processamento via úmida (lixiviação amoniacal ou ácida), produzindo Ni, Co e Cu metálicos.
  • Minérios de Níquel Laterítico com baixo conteúdo em Ferro e alto Magnésio são adequados para processamento pirometalurgico (fornos rotativos RKEF), produzindo a liga Fe-Ni.

Então se o foco é rastrear concentrações econômicas de Cobalto, deve-se prestar atenção à porção superior do perfil de laterização (zonas enriquecidas em Ferro com pouco Magnésio), onde o Níquel se apresenta em concentrações baixas (1,0%), com Cobalto em concentrações atrativas (entre 0,10 e 0,20 %).

Torcemos pelo sucesso desse novo empreendimento. (Não deixar de dar uma olhada na porção inferior do perfil de laterização porque  Saprolitos podem entregar alguma surpresa)

Nota:
Os depósitos de Ni Laterítico do Jacaré e Jacarezinho foram descobertos pelo time de exploração da INCO no final da década de 70 (incluindo Onça-Puma)– como resultado de um programa de exploração agressivo nesse período.
Vitor Mirim – Geólogo de Exploração
VRM Geologia e Mineração Ltda