Conseguir uma boa venda para o exterior e não poder concluir a negociação devido ao custo para transportar o produto. Foi isto o que aconteceu com a empresa Nativa Móveis, de Pato Branco, na região sudoeste do Paraná, que exporta móveis de madeira montados para a Europa e Estados Unidos.
“No resultado final da operação, o lucro líquido era menor do que as despesas com o transporte. Também não adianta vender apenas por vender e ainda correr riscos”, conta Elizandro Ferreira, funcionário da empresa.
A situação pode parecer absurda, mas é o exemplo do que acontece no Brasil e na América Latina em geral. O custo para transportar as mercadorias de onde são produzidas até o comprador impacta demais as exportações. Por isso, os produtos brasileiros acabam perdendo competitividade no mercado internacional.
Um recente estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), intitulado de Desobstruindo as Artérias – O Impacto dos Custos de Transporte sobre o Comércio Exterior da América Latina e Caribe, alerta para a necessidade da região em incrementar a infra-estrutura de transporte.
Muitos países defendem quedas nas taxas de importação dos países compradores, mas o relatório do BID indica que esta diminuição não elevaria muito as exportações (veja quadro).
A saída é reduzir o impacto do custo transporte na operação, especialmente no caso de mercadorias mais pesadas e que ocupam mais espaço, como os produtos do agronegócio, os principais itens exportados pelo Brasil.
Para Maurício Mesquita Moreira, economista do BID que coordenou o estudo, a falta de investimento na infra-estrutura de transportes pode fazer com a América Latina perca uma das poucas vantagens em relação à Asia: a proximidade com os maiores mercados do mundo.
“A importância do transporte fica evidente quando se compara as tarifas de importação com os custos de frete externos (porto a porto). No caso do Brasil, por exemplo, se gasta com frete, em média, 7,3% do valor do produto nas exportações para os Estados Unidos, enquanto que os gastos com tarifa são de 1,6%. Nas exportações para outros países da América do Sul, os números são de 4,7% para o frete e 0,8% para tarifa. Se somarmos ao frete os custos relacionados ao tempo de transporte, ou seja, os custos de carregamento de estoques e a depreciação do produto, a despesa das exportações brasileiras para os EUA dobram (14,6%). Se ainda incluirmos os custos de transporte domésticos (fazenda-porto, fábrica-porto), as tarifas chegam à beira da irrelevância ante o transporte. Diante dessa realidade, uma política comercial que só preocupa com tarifas e acordos comerciais está deixando de lado os mais importantes obstáculos ao comércio exterior”, opina.
Moreira cita o exemplo da soja produzida em Sorriso, no Mato Grosso. No ano passado, quando chegava ao Porto de Santos, 49% do preço da mercadoria era puramente frete. Quando era entregue em Xangai, na China, o frete representava 90% do preço final.
“É claro que esse pode ser um caso extremo, mas os dados sugerem que dificilmente os custos de transporte no caso desses produtos ficam abaixo de 20% do preço final. Estamos falando de uma parte substancial de receita de produto, que, em vez de ficar nas mãos dos produtores ou mesmo do governo na formas de impostos, pode ser perdida em função de infra-estrutura de transporte ineficiente”, alerta.
Entidades também reclamam de alto custo
Entidades que representam os produtores do agronegócio paranaense concordam sobre o alto custo do transporte. Além da própria característica da mercadoria, a produção acontece no interior do País, o que aumenta as distâncias até os portos.
“O agronegócio depende muito do transporte e da logística. Isso é fundamental para o setor. A nossa produtividade está próxima aos dos maiores concorrentes. O problema é o pós-porteira, ou seja, na hora de transportar”, afirma Robson Mafioletti, assessor técnico do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar).
Para Gilda Bozza, economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), há anos o transporte é o principal problema do segmento e que está longe de ser resolvido.
“A principal forma de transporte é a rodoviária, recomendada para distâncias de té 600 km. Mas não é isso que acontece. Acaba onerando demais. O produto perde competitividade. No caso da soja em grão, por exemplo, as perdas chegam a R$ 2 bilhões para os exportadores”, comenta.
Culpar os transportadores pelo custo elevado também não é o certo, segundo Luiz Anselmo Trombini, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar).
“O grande culpado é o governo, e não os transportadores. São estradas mal conservadas, filas, demora para carregar o produto. Tudo isso reflete no valor do frete e aumenta o custo para este produto, seja para a exportação ou para o mercado interno. O problema da infra-estrutura é o famoso “Custo Brasil”. É preciso investir pesado nisso porque estamos prestes a sofrer um apagão logístico”, diz.
Para Samuel Gomes, diretor-presidente da Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. (Ferroeste), que recentemente apresentou o seu projeto de expansão, “o transporte exaure todo o esforço feito no País”.
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