Mineradoras são fortemente dependentes dos ativos físicos – máquinas, equipamentos e sobressalentes

Empresa apresenta em fórum internacional lições aprendidas com implementação de sistema de gestão de ativos físicos

Por Marcelo de Valécio

Durante o Fórum Internacional de Asset Management (gestão de ativos), realizado pela empresa Assetsman no anfiteatro da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração, Fabrício Hupp, coordenador do Projeto Gestão de Ativos da Samarco, apresentou o case da empresa que tem como finalidade obter Certificação em Asset Management. O tema “Asset Management Industrial e Infraestruturas” tem gerado crescente interesse junto a uma ampla gama de dirigentes empresariais e agentes da economia brasileira, fato que já vem ocorrendo em diversos países, e chega também ao setor de mineração. Isso por que, segundo Hupp, os resultados de uma empresa de mineração são fortemente dependentes dos ativos físicos – máquinas, equipamentos e sobressalentes. Alinhar a gestão dos ativos com as estratégias de crescimento da empresa é o desafio que o Asset Management pode contribuir.

Samarco definiu como meta dobrar o valor da empresa e ser reconhecida como a melhor do setor até 2022. A companhia, que exporta 99% da produção atualmente, determinou que para atingir sua meta e enfrentar a concorrência e os novos players do mercado tem de reduzir fortemente o custo de produção, visando a manter a margem de lucro. Sobretudo em um cenário que Fabrício Hupp classifica de incoerente, no qual os preços do minério de ferro caíram fortemente, mas a demanda manteve-se alta e a produção foi toda vendida. Uma das estratégias utilizadas para atingir sua meta seria alinhar continuamente os objetivos estratégicos da empresa com o ciclo de vida dos ativos, de forma a torná-lo sustentável. Gestão de ativos físicos consiste em alinhar as atividades do ciclo de vida com os objetivos estratégicos da organização. A Samarco observou que a estratégia responde ao mercado, mas como os ativos vão responder à estratégia era a questão central. Sobretudo porque percebeu que após o terceiro ciclo de expansão, a base de ativos cresceu e se tornou heterogênea.

 

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“Quem implementa um sistema de gestão de ativos busca um alinhamento contínuo entre a estratégia e as atividades de criação, utilização, manutenção e descarte de ativos”, destaca Fabrício. Para tanto, é preciso conferir um “line of sight” (linha de visão) ao sistema de gestão. Um bom sistema de gestão de ativos demonstra conexão entre os objetivos estratégicos da empresa e as atividades de ciclo de vida dos equipamentos. “A alta direção, com a estratégia debaixo do braço, mostrando o caminho de um lado e do outro, um monte de ativos para realizar valor, tem de conectar as duas coisas”.

A norma propõe um caminho”, argumenta Hupp. Há uma hierarquização dos conceitos – sai de um conceito amplo, desdobrando, até chegar nos ativos. “Em primeiro lugar vem a política, o documento que vai dizer o por quê da aplicação da gestão de ativos; depois a estratégia, ou seja, como fazer, a bússola, que não é detalhada, não é um plano de voo, mas mostra o caminho. A seguir estão os objetivos, que são específicos, eles mensuram a estratégia, ‘o que eu ganho com isso’, tem de ser específico, mensurável’. Na sequência, como realizar o plano de voo. Fazendo essa conexão temos um bom sistema de gestão de ativos. Para completar, a ferramenta para demonstrar que essas coisas estão conectadas, que é a SADT (Structured Analysis and Design Technique). Essa técnica foi criada pelo psicólogo Douglas Ross, em 1977, e usa a linguagem dos desenhos de engenharia para comunicar ideias em geral. O método tem uma natureza fortemente hierárquica, e por isso foi escolhido para desdobrar os trade-off’s da gestão de ativos em um plano de ação, revela Hupp.

A gestão de ativos da Samarco busca alinhar as atividades do ciclo de vida (projeto, aquisição, utilização, manutenção e descarte) com as diretrizes de produção, custo e investimentos. Isso deve ser feito de forma consistente com os requisitos da sua política de gestão, que será observada pela materialização de uma série de objetivos quantitativos, obtido por meio da execução de planos de gestão de ativos. O objetivo é converter os objetivos estratégicos em objetivos de gestão de ativos realizados. Cada entrega é associada ao trade-off, de forma que especifica cada diretriz de custo de produção, de valor disponível para investimento. A ferramenta ajuda a estabelecer essa conexão: por exemplo, valor disponível para investir e o retorno sobre o investimento.

Existem várias conexões, isso para cada nível, em que há uma grande costura. Entre os objetos da norma, a política é o essencial, o básico. A política é uma declaração formal da alta direção, solicitando a implementação de um sistema de gestão de ativos físicos, de forma a alinhá-los com a estratégia. Hupp lembra que os riscos devem ser gerenciados para não prejudicar pessoas ou o meio ambiente, enquanto os requisitos legais associados aos ativos devem ser cumpridos proativamente, sendo que é fundamental buscar a melhoria contínua na realização de valor por meio dos ativos. Na estratégia há uma visão comum: a bússola. Ela mostra a abordagem escolhida pela empresa para realizar a política. A estratégia da Samarco está centrada na implementação de três trade-off’s: capex/opex – etapa de projeto; custo/risco – vida operacional; e longo/curto – fim de vida. Eles definem linhas de ação que servem de base para a definição dos objetivos e dos planos. Para tomar decisão nessas etapas a gestão de ativos não apenas enxerga o equilíbrio, mas também fornece as ferramentas para mensurá-lo.

Gestão de ativos da Samarco busca alinhar as atividades do ciclo de vida com as diretrizes de produção, custo e investimentos

 

Hupp cita um exemplo. Quando o Capex/opex de menos de 20% do gasto com motor elétrico é aquisição – mais de 80% é energia elétrica. Nesse caso, qualquer 1% gasto a mais na aquisição de motor justifica-se no custo de vida. Outro aspecto diz respeito ao estoque, que é um valor parado. É comum dizer que se está perdendo dinheiro com ele. Mas o risco por não ter estoque para manutenção pode custar ainda mais, lembra Hupp. Por isso a importância de mensurar exatamente quanto representa esse estoque. “A velha dicotomia entre manutenção preventiva e corretiva. O custo da prevenção tem de ser menor do que o de reparo. Boa parte do trade-off consiste em mensurá-lo”, diz. “Aqui entra também o ritmo ideal de produção, considerando o risco de produzir acima da capacidade, para não sobrecarregar os equipamentos, e o custo de operar abaixo, gerando perdas.” O trade-off longo/curto revela que o fim de vida econômica de cada ativo ocorre antes do fim de vida útil.

Plano estratégico da Samarco prevê uma forte redução de custo específico de produção para os próximos cinco anos

Já os objetivos mensuram a realização da estratégia. “É quando se aborda o custo, o factível. No nosso caso buscamos reduzir os custos e aumentar a disponibilidade dos sistemas de gargalos”, explica Hupp. A plano estratégico corporativo da Samarco prevê uma forte redução de custo específico de produção para os próximos cinco anos. Em resumo: a estratégia e os objetivos estão alinhados, buscando reduções por meio de custos evitados com decisões de projeto, aumento da disponibilidade dos sistemas “gargalo”, redução do va
lor de estoque de sobressalentes e “savings” com a substituição de ativos em fim de vida econômica.

Por fim vêm os planos de gestão de ativos. São eles que definem as atividades que vão realizar os objetivos, assim como os responsáveis, prazos e recursos necessários. Implica na aplicação do LCC (Life Cycle Costing, ou custo do ciclo de vida) durante a engenharia conceitual de projetos. Isso inclui rever os planos de manutenção usando RCM – que é a ferramenta para mensurar riscos; implantar processo FRACAS (Failure Reporting, Analysis and Corrective Actions System) – que é um mini sistema de gestão de ativos dentro da gestão de ativos, segundo Hupp; aplicar técnicas de padronização de serviços em manutenção e o LCC na substituição de ativos em fim de vida; implementar programa de melhores práticas de lubrificação; e selecionar tecnologias de melhor custo-benefício. Aqui a ideia é propor melhorias. Por exemplo, saber quanto custa cada hora do equipamento parado. Isso desmistifica a necessidade de estoque para tudo e mostra que o histórico de falhas tem seus limites. Finalmente, deve-se considerar que os planos precisam ser adequadamente comunicados, documentados e monitorados.

Para compreender melhor a questão, Samarco implementou um modelo matemático do custo de hora parada de cada ativo

Para compreender a importância de cada ativo da Samarco foi desenvolvido um modelo matemático de penalidade econômica da indisponibilidade ou, em termos mais simples, do custo de hora parada de cada ativo. Foi desenvolvido um modelo generalista, que permite estimar rapidamente a vida econômica de ativos. A precisão pode ser aumentada pelo uso de dados históricos. A técnica de LCC, acoplada com elicitação de experts e simulação de Monte Carlo, foi utilizada para comparar os custos anuais de aluguel de guindastes com os custos de adquirir, operar, manter e substituir um guindaste próprio. Após aprendizado com experiências passadas, foi implementado um processo RCM com especial atenção ao custeio e programação do plano de manutenção criado. Cada área possui uma tática de manutenção aprovada pelo gestor responsável.

“Construímos um processo que não se preocupou em ser RCM, mas que usa RCM. Os processos fracassam por problemas de planejamento e programação das tarefas selecionadas pelo RCM”, afirma Hupp, lembrando que o RCM ainda não entrou em operação na Samarco. “O piloto foi feito na área de filtragem a vácuo, em que o intervalo de manutenção preventiva vai ser aumentado a partir de pequenos projetos – não vamos aplicar um monte de dinheiro de cara. Com isso, pudemos aumentar de 24 para 34 semanas o intervalo de manutenção sem correr riscos. Eliminamos 31 tarefas e criamos outras, sendo que 18 se mantiveram”, revela Hupp, concluindo: “Manutenção preventiva por tempo é bom, mas na manutenção moderna, 90% serão feitas por condição. É a manutenção mais eficiente. Isso aliado ao desenvolvimento de técnicas preventivas avançadas por detecção de falhas”.