A China na economia real

Enquanto a crise global detonada pelos Estados Unidos derretia o valor das ações e títulos, petróleo e commodities, inclusive metais, instituições como FMI e Banco Mundial voltavam os olhos para a economia real, prevendo que o impacto vai reduzir o crescimento dos países industrializados em 2009, enquanto que as economias emergentes vão crescer 6,9% este ano e 6,1% em 2009, com a China respondendo pela metade da taxa global de crescimento no 1º semestre de 2008.

Essa retração da economia global, em compensação, vai abater a inflação, que em julho atingiu a média de 4% nos países desenvolvidos e quase 9% nos emergentes.

Mas a China não está imune. Os volumes de exportação estão encolhendo, a produção industrial teve a menor expansão em seis anos nos 12 meses completados em agosto passado, as vendas de carro caíram 6% no período, e o mercado de imóveis mostra sinais de crise – vendas nos grandes centros despencaram 50% e os preços tiveram queda similar.

Os bancos chineses vão resistir melhor à crise porque o sistema bancário é movimentado por meio dos depósitos dos clientes e não pelos mercados de capital, como nos Estados Unidos e Europa. Além disso, os compradores de imóveis pagam uma entrada à vista equivalente a 20 a 30% do preço. A dívida do consumidor chinês é calculada em apenas 13% do PIB, comparada a 100% nos EUA. As vendas no varejo na verdade cresceram 17% em termos reais na China nos 12 meses até agosto passado.

O PIB do país reduziu-se a uma taxa anual de 10,1% no 2º trimestre do ano, versus 12,6% no ano anterior, com previsão de cair a 8% ou 9% em 2009.

Esse refresco é até bem-vindo, porque a economia mostrava-se superaquecida nos anos recentes. Se a economia chinesa sustentar o seu crescimento, mudando do modelo exportador para o consumo doméstico, o desenvolvimento será mais sustentável no futuro.

O governo tem como meta manter o crescimento acima de 8% e já anunciou cortes de impostos e investimentos adicionais em obras de infra-estrutura.

A China tem amplo espaço para estimular a sua economia, ao deter a melhor posição fiscal entre as grandes economias – um superávit orçamentário estimado em 2% do PIB e uma dívida pública de apenas 16% do PIB – usando a mesma metodologia dos países desenvolvidos. Isso significa que o gigante asiático poderá manter sua demanda por minérios e metais, além de petróleo, aliviando a crise dos países mineradores.
Fonte: Padrão