Aos 45 anos, Gisele Polati é o novo rosto da liderança financeira da Aperam South America. Primeira mulher a ocupar a diretoria da empresa, Gisele construiu uma trajetória sólida ao longo de mais de duas décadas, desde que começou como estagiária na então Acesita, em 2000. O que diferencia sua história, no entanto, não é apenas a promoção ao cargo de diretora, mas o estilo de liderança que a levou até lá. Nesta entrevista à Revista Minérios e Minerales, ela fala sobre sua trajetória e dos desafios que as mulheres enfrentam para chegar a cargos de liderança na mineração e siderurgia.
Ao longo dos anos, Gisele foi reconhecida por sua habilidade de unir a equipe e manter uma postura de proximidade com seus colegas. Para ela, a coerência entre discurso e ação é fundamental. “É preciso ter coerência entre o discurso e o comportamento. Não adianta falar que as pessoas são importantes para mim e não me importar com o que elas me contam. Elas veem o que a gente faz, e não o que a gente fala”, afirma Gisele.
A promoção de Gisele ao cargo de diretora financeira da Aperam aconteceu logo após seu retorno da licença-maternidade, em julho deste ano, algo ainda incomum no mercado de trabalho brasileiro. Ela acredita que a maternidade ainda é, muitas vezes, uma barreira para as mulheres em suas carreiras, mas reconhece o papel da empresa em garantir que essa fase de sua vida não interferisse em sua progressão. “Sabemos que muitas vezes a maternidade ainda é uma justificativa para não se considerar mulheres para algumas posições”, avalia Gisele.
Veja os principais trechos da entrevista
1- Como você percebe este movimento de aumento das mulheres em posições de liderança na mineração/siderurgia?
É muito gratificante observar este movimento, embora eu tenha consciência do quanto o mercado ainda precisa evoluir. A gente sabe que algumas questões, como a própria licença maternidade, ainda orientam a decisão de algumas empresas de considerar ou não as mulheres para determinadas posições. Eu fui promovida para este cargo de Diretora Financeira logo após o meu retorno da licença maternidade, inclusive, mas esta não é a realidade do mercado de trabalho quando aplicamos sobre ele um olhar mais macro. Então ver mulheres chegando a cargos tão estratégicos mostra uma evolução necessária e extremamente importante. O que eu espero é que cada vez mais mulheres conquistem cargos de liderança, assim como pessoas pretas, LGBTQIA + e tantos outros grupos que ainda encontram barreiras para se desenvolver.
2- Ter uma mulher na presidência do Conselho Diretor do Ibram – Ana Sanches – agrega em que sentido nas agendas do setor?
Ana se tornou a primeira mulher a assumir o Conselho do Ibram, que durante quase 50 anos só teve representantes homens. Este é um setor predominantemente masculino. Estamos falando de um marco, que abre espaço para um novo olhar sobre os desafios pujantes do mercado. A diversidade é sempre positiva, e não à toa tem tido maior atenção por parte das empresas. Ela permite novas perspectivas sobre um mesmo aspecto, dando espaço para a criatividade, a inovação e o desenvolvimento. E pessoalmente, como mulher, me sinto feliz sempre que vejo outra mulher sendo reconhecida por sua competência.
3- O que significa, para você, ser a primeira diretora da história da Aperam?
Um sentimento de muita responsabilidade associado a uma imensa gratidão. Faço parte da empresa há mais 20 anos e sempre me senti muito desafiada aqui, assumindo áreas novas e funções. Isso é imprescindível para que eu me mantenha motivada. É satisfatório ver a confiança da empresa e dos meus líderes em mim. Como mencionei, assumo esta posição em um momento muito importante da minha vida pessoal, com a chegada do meu filho, e em nenhum momento deixei de ser considerada para a posição em função disso. Parece óbvio, mas não é como o mercado funciona pra gente. Fico feliz por ser a primeira, e espero não ser a única. Temos uma meta de aumentar a participação das mulheres na empresa e percebo um esforço genuíno da Aperam para atingir este objetivo. Que sejamos cada vez mais um lugar onde as pessoas se sentem seguras, confiantes, felizes e verdadeiramente apoiadas.
4 – Como vê o futuro da liderança feminina na siderurgia e mineração e quais tendências você acredita que irão moldar esse cenário?
Acredito que esse é um caminho sem volta, por uma questão até mesmo de competitividade. Inúmeras pesquisas mostram que uma empresa tem muitos benefícios quando tem um time mais diverso. O crescimento das mulheres nas empresas é uma força transformadora. Quando promovemos a diversidade de gênero, não apenas abrimos portas para talentos únicos, mas também ampliamos o leque de habilidades e perspectivas dentro das organizações. Essa pluralidade vai além de ser uma questão de inclusão — ela traz vantagens reais para os negócios.
A presença de mulheres em diferentes níveis hierárquicos enriquece o ambiente com uma visão mais ampla das necessidades e expectativas do público, refletindo melhor a diversidade do mercado consumidor. Isso faz com que as empresas se tornem mais conectadas com seus clientes, solucionando problemas de forma mais inovadora e eficiente. Quando bem administrada, essa diversidade de pontos de vista cria uma vantagem competitiva natural, pois permite que a empresa enxergue oportunidades onde outros não veem, conectando talentos e ideias que impulsionam o crescimento sustentável.
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