PEQUIM/MANILA (Reuters) – O apetite da China por minério de ferro de alta qualidade neste inverno (do Hemisfério Norte) tende a recuar em relação às máximas atingidas nos últimos anos, à medida que siderúrgicas buscam reduzir custos e ampliar as margens de lucro, que foram pressionadas pela desaceleração econômica do país, disseram fontes da indústria.

A demanda por minério de ferro de alta qualidade, que produz mais ferro fundido do que a mesma quantidade da matéria-prima de menor qualidade, costuma crescer entre novembro e março, quando a campanha de inverno anti-smog na China força as indústrias a diminuir produção e utilizar insumos mais limpos.

No entanto, as autoridades da maior produtora de aço do mundo estão adotando uma postura mais branda sobre as emissões enquanto a economia chinesa engasga, permitindo que as usinas cortem custos com a utilização de mais minério de ferro de qualidades inferiores.

Essa tendência impacta exportadores de minério de ferro, como Rio Tinto, BHP e Vale, e reflete na redução dos spreads entre os preços do minério com teor de ferro entre 65% e 62%. Até aqui em 2020, a diferença nos valores tem sido 20% menor que a média verificada em janeiro de 2019.

As mineradoras da Austrália devem ser as principais beneficiárias do movimento, já que produzem principalmente minério de médio e baixo teor de ferro, disse Erik Hedborg, analista sênior de minério de ferro da consultoria CRU.

A brasileira Vale domina o mercado de alta qualidade, ao lado de pequenas mineradoras do Canadá, Ucrânia e Suécia.

MARGEM APERTADA

A guerra comercial da China com os Estados Unidos desacelerou a economia do país asiático e afetou a demanda por metais, desencadeando os cortes de custos por siderúrgicas chinesas.

Um salto de 60% nos preços do minério de ferro no início de 2019, após o rompimento de uma barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho (MG), também atingiu os produtores de aço, pressionando as margens de produção para muito abaixo da média de 2018, quando os robustos setores de construção e manufatura alimentaram o “boom” das siderúrgicas.

As margens no principal centro de produção de aço da China tiveram média de 241 iuanes por tonelada no segundo semestre de 2019, cerca de 70% abaixo da média de 788 iuanes por tonelada registrada em 2018, segundo a corretora Jinrui Futures.

Fontes disseram que mesmo que a China e os EUA cheguem a um acordo comercial, é improvável que as margens para o aço se recuperem e voltem a atingir as máximas recentes no curto prazo.

“A lucratividade na indústria siderúrgica pode se recuperar levemente do baixo nível visto hoje, mas certamente não está retornando aos níveis elevados de 2018”, disse Hedborg.

PANORAMA INCERTO

Embora Pequim tenha adotado medidas para apoiar a economia em 2019, não está claro quanto estímulo adicional pode surgir em 2020 para impulsionar a demanda por aço, afirmou Wu Shiping, analista da Tianfeng Futures.

A utilização de aço no país deve recuar 0,6% neste ano, e a demanda por minério de ferro cair 3,1%, pressionadas por desacelerações no setor imobiliário e nas vendas de veículos, segundo o Instituto de Planejamento e Pesquisa da Indústria Metalúrgica da China, uma consultoria estatal.

“No geral, a demanda por minério de ferro no primeiro trimestre deve ficar relativamente estável”, disse um executivo de uma grande siderúrgica chinesa.

“Mas à medida que os lucros vão diminuindo e a demanda ‘downstream’ permanece incerta para a primavera (do Hemisfério Norte), as usinas estão relativamente cautelosas quanto ao reabastecimento”, acrescentou ele, que pediu por anonimato por não estar autorizado a falar com a imprensa.

(Reportagem de Min Zhang em Pequim e Enrico dela Cruz em Manila)

FONTE: ECONOMIA UOL