Copelmi será a fornecedora do carvão mineral, por meio da Seival Sul Mineração
Marcelo de Valécio
A Tractebel Energia participou e vendeu no leilão A-5 de 2014 com apenas a primeira fase do projeto, composta por uma unidade de 340MW. A energia vendida no leilão foi contratada por um período de 25 anos a partir janeiro de 2019, quando a usina entrará em operação comercial. Nesse leilão, o preço teto para UTEs a biomassa, GNL e carvão atingiu R$ 209/MWh. A Tractebel comercializou a energia ao preço de R$ 201,98/MWh.
Segundo a empresa, a decisão de instalar apenas uma unidade na 1a fase está relacionada ao elevado volume de recursos financeiros. Sendo assim, a primeira etapa criará uma infraestrutura que facilitará a implantação da segunda unidade, e ainda a conexão ao sistema elétrico. Em junho, a usina recebeu a Licença de Instalação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Serão gerados cerca de 2 mil postos de trabalho diretos e outros indiretos durante a fase de obras. A partir da operação, serão criados aproximadamente 300 empregos diretos. “Seguindo sua estratégia de inserção nas comunidades onde atua, a Tractebel está promovendo cursos de preparação de mão de obra nos municípios da região, tanto para a implantação quanto para a operação da usina. Os parceiros são o Senai, o Sine e a Fundação Gaúcha do Trabalho e Assistência Social, órgão do governo do Rio Grande do Sul”, afirma José Laydner.
A principal razão pela escolha da localidade de implantação da usina é que a região de Candiota possui a maior jazida conhecida de carvão do Brasil e a que apresenta menores custos de produção. Além da proximidade de unidades mineiras, a região apresenta adequada malha rodoviária, solo favorável à instalação das estruturas e proximidade de subestação e de linhas de transmissão. De acordo com dados da Aneel, as reservas brasileiras ocupam o 10º lugar no ranking mundial, totalizando sete bilhões de toneladas. Desse volume de reservas, o Rio Grande do Sul responde por 89,25%; Santa Catarina, 10,41%; Paraná, 0,32% e São Paulo, 0,02%. Somente a Jazida de Candiota (RS) possui 38% de toda a reserva de carvão mineral nacional.
O carvão será fornecido pela Seival Sul Mineração, empresa controlada pela Copelmi. “O contrato já foi assinado e a quantidade máxima estipulada é de 235 mil toneladas por mês. Contudo, considerando a expectativa de despacho médio a plena carga de cerca de nove meses por ano, a expectativa de fornecimento é de 2 milhões de toneladas anuais”, explica José Laydner. A Copelmi possui licença para extrair um bilhão de toneladas de carvão na mina Seival Sul Mineração. Para atender à UTE a Copelmi estima investir perto de R$ 70 milhões, e as obras devem ficar prontas em 15 meses. A construção da infraestrutura deve ter início no primeiro semestre de 2016. Para a operação da mina serão contratadas entre 200 e 300 trabalhadores. A expectativa é que sejam extraídas 245 mil toneladas de carvão por mês. A Copelmi foi fundada em Arroio dos Ratos (RS), em 1883. Pioneira na exploração do carvão mineral no Brasil, a empresa é responsável por mais de 80% do carvão de uso industrial no País.
Em sua maior parte, o carvão será produzido na mina e imediatamente consumido na usina. A UTE Pampa Sul conta com silos de carvão, com poucas horas de capacidade, para acomodar variações no fornecimento. O carvão será levado por correia transportadora do sistema de britagem da mina até o pátio de carvão na usina. Também haverá um pequeno estoque de carvão em uma área contígua à usina, para permitir o seu funcionamento em determinadas situações, por exemplo, manutenções nas correias transportadoras, início de operação enquanto a mina não começar a produzir.
Já o calcário que será utilizado na UTE Pampa Sul virá de minas existentes na região de Candiota, Hulha Negra e Bagé, no Rio Grande do Sul. A estimativa é de consumo de 7 mil toneladas por mês de calcário, que serão utilizadas na caldeira e no dessulfurizador. O fornecedor ainda não foi escolhido, pois a empresa está avaliando a melhor alternativa de fornecimento. O calcário ficará depositado em área contígua à usina.
Com 27 usinas hidrelétricas, termelétricas e de fontes complementares operando em 12 estados de todas as regiões do Brasil, a Tractebel Energia é líder em geração privada de energia elétrica no País, totalizando capacidade instalada própria de 7.027 MW. Sediada em Florianópolis (SC), pertence ao grupo GDF Suez, player global de energia e especialista em eletricidade, gás natural e serviços de energia. O grupo é o maior produtor independente de energia do planeta, com 113,7 GW de capacidade instalada em 70 países. No Brasil, a Tractebel Energia possui experiência na operação e manutenção de usinas a carvão.
Do total de seu portfólio de 7.027 MW próprios, 1.119 MW são provenientes de termelétricas a carvão. Afirma ter sido responsável, em 2013, por 7% do suprimento do mercado nacional e uma das líderes em negócios com clientes livres. De acordo com a Tractebel, todas as suas usinas apresentam altos índices de performance, sendo que as unidad
es a carvão têm desempenho acima da média nacional, mesmo se comparadas a novas usinas que usam carvão importado, de melhor qualidade que o nacional.
A principal diferença tecnológica da UTE Pampa Sul em relação a outras usinas termelétricas a carvão em operação no Brasil é a utilização de caldeira do tipo Leito Fluidizado Circulante (em inglês, Circulating Fluidized Bed – CFB), que apresenta maior flexibilidade a variações na qualidade do combustível e é a mais adequada ao carvão da região, segundo revela José Laydner. Esse tipo de caldeira resulta em menores emissões de NOx e de SOx. “A tecnologia de Leito Fluidizado Circulante está enquadrada como tecnologia de combustão limpa do carvão (Clean Coal Technology)”, destaca Laydner. Os outros equipamentos da usina (turbina, gerador, condensador, torre de resfriamento, bombas) utilizam tecnologia semelhante às demais usinas a carvão existentes no Brasil. “Ressalta-se que, por serem equipamentos mais modernos, apresentam melhor desempenho operacional e reduzem, ao máximo, as emissões de material particulado, SOx e NOx”, salienta Laydner.
Segundo o executivo, a caldeira CFB apresenta menores emissões de NOx e SOx, quando comparada com as tradicionais caldeiras de carvão pulverizado (utilizadas nas demais usinas a carvão do Brasil), porque opera com menor temperatura de combustão, o que resulta em menor emissão de NOx. E por ter um maior tempo de reação em função da recirculação do material em reação (carvão + calcário) para a fornalha, via ciclone. A adição de calcário na fornalha junto com o carvão permite a captura de grande parte do enxofre existente no carvão, reduzindo as emissões de SOx. Com relação às emissões de SOx, além da captura citada na caldeira CFB, a usina ainda conta com um dessulfurizador, onde será feita captura adicional do enxofre, permitindo a redução das emissões de SOx abaixo dos limites estabelecidos. Além disso, filtros de manga e precipitadores eletrostáticos filtram e retêm o material particulado, evitando que cheguem à chaminé. Em relação às emissões de GEE, como essa tecnologia possui uma maior eficiência, há menor consumo de carvão resultando em uma menor emissão desses gases.
Como o Brasil não fabrica caldeiras, turbinas e geradores do porte que serão utilizados em Pampa Sul, parte dos equipamentos será importada. No caso de Pampa Sul, os principais equipamentos virão da China (caldeira), Alemanha (turbina) e EUA (gerador). Por outro lado, uma parte dos componentes e serviços utilizados para a implantação da usina será produzida no Brasil. O índice de nacionalização – percentual em termos de custos da implantação da usina de produtos e serviços de origem nacional – é da ordem de 60%, afirma a Tractebel. A água usada para resfriamento da usina virá do reservatório que será construído no Rio Jaguarão. A área total alagada pelo reservatório será de 382,35 hectares, sendo que a Área de Proteção Permanente no entorno do reservatório será de 162,75 ha, totalizando 545,1 ha nos municípios de Candiota e Hulha Negra. O estudo de diagnóstico ambiental constante do Estudo de Impacto Ambiental indicou que a mata ciliar a ser suprimida será de 195 ha, que serão recuperados como medidas compensatórias constantes do Estudo de Impacto Ambiental, que inclui plantio da vegetação no entorno do reservatório.
Últimos Comentários