Embora seja o produtor número um de cobre do mundo, o Chile já não é o primeiro a atrair os investimentos no setor de minérios. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria chilena LarrainVial, a Argentina e o Peru estão desenvolvendo mais projetos de exploração de jazidas de cobre do que o Chile. “Estes países juntos vão somar um pouco mais de cobre que o Chile entre 2008 e 2012”, projeta Leonardo Suárez, economista-chefe da consultoria.
Nesse período, a Codelco, a empresa estatal de minério chilena planeja produzir 1,1 milhão de toneladas de cobre por ano, com um porcentagem de 24,1% dos novos projetos, enquanto que o Peru e a Argentina produziriam 1,115 milhão de toneladas, com 24,2% desses projetos.
“O curioso é que os países de regras frágeis e imprevisíveis, como a Argentina, ou o Peru, onde existe um forte conflito social, concentram 40% dos novos projetos”, compara Suarez, em entrevista à Agência Estado.
O economista disse que os conflitos das comunidades peruanas impedem o desenvolvimento pleno dos projetos, enquanto na Argentina a atração não é maior por falta de segurança jurídica. Já no Chile, “o que falta é água porque o clima é de deserto e as mineradoras precisam de muita água para os projetos e, em outros casos, necessitam de desenvolver tecnologia específica para explorar o cobre”.
Suarez opina que devido à demanda da China e Índia pelo cobre, o preço do metal continuará em alta por muitos anos e o Chile, como primeiro produtor será beneficiado. Mas ele alerta para a perda da posição chilena.
O país ladeado pela Cordilheira dos Andes é dono de 35% da oferta global de cobre e nos próximos 5 anos passaria a ter uma fatia menor, de 32%. “Esse lugar deixado seria ocupado pela África e pelo Peru”, projeta. O Chile tem deixado de ser o destino obrigatório para os empreendimentos de mineração há algum tempo.
Em 2006, o orçamento regional para exploração de novas jazidas cresceram 51%, mas no Chile os recursos com esse fim aumentaram só 20%. Em 2001, o Chile ocupava o quinto lugar na lista das economias destinatárias deste investimento, mas no ano passado caiu para o 11º lugar.
Para a ministra de Minas e Energia do Chile, Karen Poniachik, a Argentina e o Peru estão fazendo agora o que seu país já fez há muito tempo: abrir o setor de minério para o capital estrangeiro. Por isso, “é natural que recebam mais investimentos”, argumentou durante um seminário na semana passada, em Santiago do Chile, onde Suarez apresentou seu estudo.
O economista concorda com a ministra ao dizer que “as reservas chilenas estão muito antigas e exigem cada vez mais tecnologia para explorá-las”. Apesar da justificativa oficial, Poniachik não consegue ocultar a preocupação do governo de Michele Bachelet com o redirecionamento de investimentos para outros países justamente no setor em que o Chile é competitivo. Prova disso é o projeto de lei que o Executivo enviou ao Congresso, denominado “pessoa competente”.
O projeto permitirá que as empresas pequenas que se estabeleçam no país tenham acesso a financiamentos através do mercado de capitais local. A ministra lembrou, no mesmo seminário, na Universidade Santo Tomás, que os projetos maiores são mais caros e levam mais tempo em sua execução.
Os projetos de exploração se encarecem no Chile “por problemas técnicos, como a falta de água ou o excesso de arsênio nas jazidas, o que exige desenho de tecnologias específicas para sua exploração”, explica Suarez. Mas não é só o setor de cobre que preocupa com suas cifras em ligeira queda na atração de investimentos.
De acordo com o relatório da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o último ano em que o Chile ocupou o primeiro lugar regional como destinatário de Investimento Estrangeiro Direto (IED), foi em 2004, quando a cifra chegou a 7,5% do PIB chileno. Em 2005, esse número caiu para 6%. No ano passado, o Chile ficou em terceiro lugar na recepção de IED, com US$ 8 bilhões, atrás do Brasil, com US$ 19,7 bilhões, e do México com US$ 18,9 bilhões.
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