A mineradora Vale apresentou, no dia 7 deste mês, durante o tradicional Vale Day em Londres, os resultados de 2023 e as projeções para, principalmente, os próximos três anos – entre estimativas de custos, capex e destaque ao minério de ferro, que deverá ter maior capacidade de produção e melhoria na qualidade. Nas apresentações, a mineradora também previu investimentos de cerca de 6,5 bilhões de dólares em 2024, assim como nos próximos anos, pouco acima dos cerca de 6 bilhões de dólares orçados para este ano.

A estimativa para o encerramento deste ano ficou dentro do intervalo de produção previsto para 2023, que era também de 310 milhões a 320 milhões de toneladas de minério de ferro -, representando um avanço de 2,3% ante as cerca de 308 milhões de toneladas de 2022. Para 2024, prevê produzir no mesmo patamar e trabalha para atingir mais valor e melhores prêmios no preço negociado. Nos novos planos de crescimento, projeta atingir produção entre 340 a 360 milhões de toneladas em 2026.

“Gradualmente estamos melhorando a qualidade de nosso portfólio, podem ver isso ano a ano”, destacou o vice-presidente executivo de Soluções de Minério de Ferro, Marcello Spinelli, durante apresentação a analistas de mercado.  As projeções ocorrem em meio a iniciativas da mineradora  para oferecer produtos de minério de ferro com maior valor agregado, com maiores prêmios no preço, e que permitam menos emissões e mais qualidade para as siderúrgicas clientes. O investimento em um minério de qualidade superior está relacionado ao prêmio que o produto deve obter ao longo dos próximos três , devido aos compromissos de descarbonização das maiores siderúrgicas do mundo. De acordo com a Vale, o prêmio deve passar dos atuais US$ 3 a US$ 4 por tonelada para US$ 8 a US$ 12 por tonelada em 2026. 

A previsão para 2030 em adiante é que ultrapasse US$ 18. A companhia espera que o combo de prêmios maiores e produção maior de minério de ferro (e de metais básicos) contribua com até US$ 4 bilhões de Ebitda incremental para a empresa até 2030.

E três projetos estratégicos de crescimento estão em andamento para garantir esta adição de capacidade de aproximadamente 50 milhões de toneladas de minério de ferro e, também, melhora na qualidade até 2026: Vargem Grande, Capanema, em Minas Gerais,  e o S11D, no Pará. 

A planta de Vargem Grande está 60% completa e tem operação prevista para o 4º  trimestre de 2024. A expectativa é de adicionar 15 milhões de toneladas por ano. O projeto de Capanema também está no mesmo percentual de evolução e deve entrar em operação no primeiro semestre de 2025 – com igual expectativa de 15 milhões de toneladas/ano. Já a expansão de S11D tem previsão de iniciar as operações no 2º semestre de 2026 e deve adicionar 50 milhões de toneladas de capacidade.

Mais do que aumentar a produção, a mineradora quer aumentar a qualidade do minério de ferro produzido. Em fevereiro, já havia afirmado a investidores que pretende elevar em mais de 70% a produção de minério de ferro de alta qualidade, chegando a 2026 com um incremento de 50 a 55 milhões de toneladas. A companhia reforçou o compromisso com uma produção base de 310-320 milhões de toneladas por meio da maior previsibilidade e menor variabilidade da produção. E espera, com isso, aumentar a aderência ao plano de produção para 95% em 2026, em comparação com os 90% existentes atualmente.

Cobre e níquel

Em relação aos metais básicos, a Vale tem uma produção relevante de níquel – mas ainda longe dos líderes globais: cerca de 350 mil toneladas por ano, em comparação a players como a Freeport e a Glencore, cuja produção ultrapassa um milhão de toneladas. Tanto o cobre quanto o níquel são usados, por exemplo, na fabricação das baterias dos carros elétricos.

Durante o Vale Day, a companhia estimou terminar 2023 com 165 mil toneladas de níquel produzidas (a meta estipulada havia sido entre 160 mil e 175 mil toneladas). A mesma produção é estimada para o ano que vem. Para o cobre, a mineradora estipulou produção de 325 mil toneladas em 2023, atingindo a meta (315 mil a 325 mil). Para o ano que vem, o intervalo previsto está entre 320 mil e 355 mil toneladas.

Este ano, a companhia vendeu uma participação de 13% no negócio de base metals — numa transação que avalia a subsidiária em US$ 26 bilhões. Os recursos vão ajudar a bancar um plano agressivo de expansão que envolve triplicar o negócio de cobre da Vale e dobrar o de níquel em 10 anos. No total, a Vale estima que o capex para esse crescimento vai girar em torno de US$ 25 bilhões (cerca de R$ 100 bi ao câmbio de hoje).

A companhia realizou um spin off da unidade de metais básicos, objetivando atrair mais ferramentas para destravar o valor dos ativos. E tem boas perspectivas para o crescimento da demanda por estes metais para a fabricação de baterias para carros elétricos, diante da busca cada vez mais intensa, em todo planeta, por formas de eletrificar os transportes, de olho na transição energética.

Veja mais informações sobre investimentos e programas nos quadros exibidos no Vale Day, que estão inseridos ao final do texto.  Exemplo: a frota de 18 caminhões em operação autônoma – sem operador a bordo—em Brucutu, desde 2019, atingiu +27% de produtividade no período.

Barragens e reparações

Durante o evento, o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo – cujo contrato com a empresa termina em maio do próximo ano -, ressaltou que quer deixar como legado uma companhia com mais segurança. E informou que a empresa quer assinar acordo de reparação sobre rompimento da barragem da Samarco em Mariana, ocorrido em 2015, em termos similares ao alcançado em Brumadinho.

A empresa informou que está acelerando os processos de reparação das duas cidades onde ocorreram acidentes envolvendo barragens da mineradora. Em Brumadinho, mais de 14 mil pessoas foram indenizadas. E 64% do Acordo de Reparação Integral já foi executado até o momento. A expectativa da Vale é que 90% das obrigações previstas no acordo estejam concluídas até 2026.

Em Mariana, a Fundação Renova já desembolsou cerca de R$ 34 bilhões na execução dos 42 programas de reparação. Mais de 430 mil pessoas já foram indenizadas e mais de 80% das soluções de moradia foram entregues. A qualidade da água do Rio Doce já é semelhante à qualidade anterior ao rompimento da barragem. A Vale salientou que segue  negociando com as autoridades um acordo que garanta a reparação no menor tempo possível e com segurança jurídica para todas as partes envolvidas. 

Os compromissos com os desastres com barragens de mineração nas cidades mineiras de Brumadinho e Mariana vão somar em 2023 2,9 bilhões de dólares, subindo a 3 bilhões de dólares em 2024 e também em 2025, para depois cair para 1,9 bilhão em 2026 e 1,3 bilhão em 2027. E serão gradualmente reduzidos até 2028, quando deverá atingir uma média anual de US$ 400 milhões (2028-35).