Oito anos atrás, o engenheiro de produção Felipe Marçal deixou uma sólida carreira na indústria automotiva para assumir os negócios da família – uma tradicional transportadora mineira com quase três décadas e sede em Contagem. Na bagagem, o aprendizado obtido em um setor onde boa parte dos processos ocorre just in time, para eliminação de estoques e redução de custo, e os sistemas são totalmente integrados. Na cabeça, ideias de sustentabilidade e a vontade de devolver, à sociedade e ao meio ambiente, as conquistas que o negócio lhe proporcionou.

Num momento em que os conceitos de indústria e logística 4.0 estavam apenas no início, Marçal mapeou todos os processos da Transcota, automatizou 100% das tarefas, integrou sistemas, adotou ferramentas de leitura de código de barras e registro fotográfico de cada etapa do transporte, criou um site para acompanhamento dos clientes em tempo real e, mais recentemente, passou a operar na nuvem. Tudo isso para mitigar os riscos de uma operação logística crítica, já que a maior parte dos clientes é formada por fornecedores da gigante da mineração Vale, como ThyssenKrupp, Supermix Concreto, Liebherr e Sandvik. “Um equipamento parado, improdutivo, dentro da companhia, gera uma multa altíssima, cobrada por hora”, explica Marçal.

Além de evitar esse tipo de prejuízo, o alto nível de controle sobre cada etapa do processo logístico permite que a transportadora antecipe problemas, tenha tempo de corrigi-los e, assim, evite outras perdas. O executivo exemplifica citando o setor de construção – outro onde a transportadora atua – no qual um atraso na entrega de materiais provoca um efeito dominó. “Se um determinado insumo não chega a tempo, todo o cronograma do dia fica comprometido”, explica.

O nível de eficiência alcançado pela transportadora acabou por dar origem a um novo negócio. Mais recentemente, as unidades da Transcota em São Paulo, localizada às margens da Rodovia Fernão Dias, e a de Parauapebas, no Pará, passaram a funcionar como hubs logísticos. Em seu interior operam outras empresas – entre elas a CXT e a Minha Casa Solar – que tocam seu dia a dia normalmente, de forma independente, mas contam com todo o serviço de gestão operacional da empresa mineira: coleta nos portos, armazenagem, separação, embalagem e entrega ao cliente final. “Dividimos nosso espaço para que elas operem nele, com seu próprio CNPJ e pessoal, mas com o nosso expertise logístico”, diz Marçal.

A mais nova iniciativa da empresa – que transportou R$ 590 milhões em mercadorias em 2018 e quase R$ 1 bilhão no ano passado – está na unidade de Parauapebas, no estado do Pará, estrategicamente localizada para atender à Vale e berço da maior jazida de minério de ferro do planeta. É lá que funciona um projeto piloto 100% autossustentável em energia, com neutralização de dióxido de carbono e aproveitamento de água da chuva. O próximo passo é o uso de veículos elétricos. A transportadora acaba de comprar uma van BYD T3, totalmente elétrica, com capacidade para carregar 750 kg. Ao custo de R$ 300 mil – seis vezes maior do que um similar da categoria – a van pode se pagar em cinco anos, segundo cálculos do executivo. “Ela será abastecida por placas fotovoltaicas, o que significa uma economia financeira imensa com combustível”, diz, explicando que duas horas são necessárias para garantir uma autonomia de 300 quilômetros, sem prejuízo ao meio ambiente.

A unidade paraense é uma das empresas privadas participantes do PLVB – Programa de Logística Verde Brasil, iniciativa comprometida com a responsabilidade socioambiental corporativa que busca capturar, integrar, consolidar e aplicar conhecimentos para reduzir a intensidade das emissões de gases do efeito estufa, de poluentes atmosféricos e aprimorar a eficiência logística e o transporte de carga no país. Atualmente, apenas 31 empresas já obtiveram o selo verde emitido pelo programa, entre elas, Dow, Heineken, HP, L’Oreal e Scania. “Não estamos fazendo nada além da nossa obrigação. Queremos crescer, mas da maneira certa.”

*Matéria publicada originalmente na Forbes.