Acordo com a empresa norte-americana prevê o fornecimentode 2,5 milhões t de carvão mineral por ano pela CRM, que passarão por gaseificação

Marcelo de Valécio

O grupo TransGas Development Brazil, dos Estados Unidos, pretende implantar no município gaúcho de Candiota, seu primeiro investimento no País – uma fábrica de fertilizantes a partir da gaseificação do carvão mineral. O projeto, orçado em US$ 2,7 bilhões, tem previsão de entrar em operação em meados de 2018. A unidade extrairá do carvão o syngas, mistura de monóxido de carbono e hidrogênio, matéria-prima para elaboração do fertilizante. De acordo com a TransGas, serão gerados 5 mil empregos temporários durante as obras. Depois de concluída, a fábrica terá 300 postos fixos de trabalho. Fornecedores e parceiros da planta criarão outros 300 empregos e nas áreas da infraestrutura e mineração, mais 600 postos serão abertos.

A Transgas está em processo de viabilização do projeto, ou seja, em busca de off taker – comprador contratual da produção. A meta inicial é produzir 2,1 milhões t de ureia por ano, porém os detalhes do projeto ainda podem ser ajustados. As obras ainda não tiveram início, mas a previsão para a conclusão da usina está mantida em 39 meses a partir do protocolo de intenções, que foi assinado em março, no Palácio Piratini, e reuniu o governador José Ivo Sartori, o presidente da TransGas, Adam Victor, e o diretor presidente da Companhia Riograndense de Mineração (CRM), Edivilson Meurer Brum.

No plano estratégico, a implantação da nova fábrica no Brasil deve-se à crescente demanda mundial de alimentos, situação em que o País tem participação privilegiada, segundo avaliação da TransGas. Some-se a isso a participação preponderante do carvão nesse cenário. Aproximadamente 25% dos alimentos são cultivados no planeta a partir dos fertilizantes oriundos do carvão mineral. O mercado previsto para a TransGas no Brasil seriam as cooperativas de produtores de grãos e consórcios de compradores de fertilizantes. De acordo com a TransGas, a tecnologia de extração do syngas por processo químico e não pela queima do carvão mineral, feita em parceria com a alemã ThyssenKrupp, é considerada limpa. A gaseificação do carvão é feita a partir das cinzas que são submetidas a altas pressões combinadas com oxigênio puro. A reação química que ocorre nesta mistura produz o syngas que é constituído por monóxido de carbono, hidrogênio e vestígios de outros gases. “O sistema TransGas, ao contrário de outros processos dos combustíveis fósseis, captura o dióxido de carbono e purifica a qualidade do ar”, afirma Edivilson Meurer Brum.

A preferência por instalar a unidade fabril de fertilizantes no Rio Grande do Sul está relacionada à presença, no Estado, de 80% das reservas de carvão do Brasil. A CRM, concessionária das jazidas de Candiota e Minas do Leão, será a fornecedora exclusiva de carvão mineral para a fábrica. Acordo firmado entre CRM e a TransGás prevê o fornecimento de 2,5 milhões t de carvão ao ano. “A CRM investirá na abertura de uma nova mina de carvão para atender à demanda gerada pela planta da Transgas”, revela Brum. Para tanto, a abertura de uma área de mineração para produção de carvão, tendo em vista as condições geológicas da mina de Candiota, pode ser feita em um prazo estimado de 120 dias. Contudo, explica Brum, para a preparação do carvão, tendo em vista a necessidade de instalação de britagem, transporte e outros requisitos dentro do projeto, o prazo será em torno de 30 meses. Serão gerados mil empregos temporários durante as obras e, depois de pronta, a planta da CRM terá 300 postos fixos de trabalho.

De acordo com o secretário de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, Lucas Redecker, além da geração de renda e emprego que o empreendimento irá proporcionar, o acréscimo de oferta de fertilizante no mercado regional poderá baixar seu custo para o setor agrícola. O secretário afirmou durante a assinatura do protocolo de intenções que o Estado possui espaço para outros projetos de gaseificação do carvão, como é o caso das iniciativas da Copelmi com o grupo coreano Posco e da norte-americana Synthesis Energy Systems (SES) e sua representante no Brasil, a Vamtec.

O syngas, também conhecido como gás de síntese, consiste em uma mistura de monóxido de carbono, dióxido de carbono e hidrogênio. O conteúdo de carbono provém da gaseificação de um combustível que o contenha, por exemplo, carvão ou biomassa. A tecnologia para obtenção do syngas não é nova: o primeiro aparelho para a produção deste gás, o gasogênio, foi inventado nos anos 1920 pelo francês Georges Imbert.

O processo foi muito utilizado durante a Segunda Guerra Mundial como substituto do petróleo. Atualmente, o syngas é utilizado para geração de energia elétrica e na indústria. A principal vantagem da gaseificação é que ela permite maior aproveitamento do poder calorífico do carvão ao passo que reduz as emissões ao meio ambiente, segundo especialistas. Plantas de gaseificação de carvão para geração de energia operam em países como França, Suécia, Alemanha, Países Baixos, Coréia do Sul e Estados Unidos.