Delegar a terceiros frota e lavra é opção para redução de custos que mineradoras adotam

Marcelo de Valécio

Boa parte das mineradoras do País adota a terceirização como forma de reduzir custos e focar na produção, visando ao aumento da competitividade. A maioria delas delega a empresas contratadas a operação e manutenção das frotas de caminhões, carregadeiras, escavadeiras e veículos off road. Nesses casos, a gestão é da contratada, que se responsabiliza desde a garantia de disponibilidade dos veículos e equipamentos até a produtividade da frota, monitorando paradas e falhas que podem ocorrer. Também a terceirização da lavra é uma prática que tem sido adotada por mineradoras, com o mesmo objetivo de redução de custos de manutenção e de pessoal.

Dados da pesquisa sobre as 200 Maiores Minas Brasileiras (edição 2014) revelam que em 50 minas selecionadas o investimento em manutenção da frota consumiu recursos da ordem de R$ 317,7 milhões em 2014. Para 2015 esse montante atinge, para 41 minas selecionadas, a cifra de aproximadamente R$ 308 milhões. São números expressivos que levam as mineradoras estarem sempre atentas a procedimentos que possam reduzir os custos de transporte e logística, como destaca Lúcio Rampazzo, diretor de Minas e Jazidas da Mineração Caldense: “A terceirização do transporte ocorreu há mais de 15 anos devido à racionalização das operações. Cuidar de frota de caminhões, manutenção, motoristas, mecânicos, seguros, não é o foco da mineradora. As vantagens estão no preço do frete pré-estabelecido, na colocação de um número mínimo de veículos por mina operada, na reposição imediata dos veículos que sofrem alguma avaria, na diminuição da mão de obra da mineradora e dos encargos trabalhistas.”

Da mina à planta da Caldense, localizada no planalto de Poços de Caldas, a distância é de cerca de 15 km. Os equipamentos de extração alocados na atividade envolvem seis escavadeiras Caterpillar, modelo 320 BL C; três pás carregadeiras 958G; um trator de esteira D6; uma retroescavadeira Case 1 Patrol; 25 caminhões Iveco, com capacidade para 20 t, quatro eixos e basculante; 15 caminhões Mercedes trucados, com capacidade para 16 t, três eixos e basculante; e dez carretas Volvo, com capacidade para 27 t, com quatro eixos e basculante. Todos os veículos são terceirizados. Para Lúcio Rampazzo, praticamente só há vantagens na terceirização da frota. “Nossa empresa é mineradora e não transportadora. Toda a manutenção e reposição de veículos cabe à contratada fazer. Se a mineradora precisa de mais caminhões, apenas requisita. Se ela não tem na sua frota, terceiriza.”

Mineradoras têm optado pela terceirização de lavra e transporte de minérios

Já para a lavra, a empresa pensa diferente, ela é executada pela própria mineradora. Isso ocorre por motivos técnicos, segundo Rampazzo, considerando a variedade de produtos e a necessidade de extrair os minérios de acordo com a quantidade desejada. “A lavra exige critérios técnicos e de racionalização das operações. O minério e os produtos demandam conhecimento específico, e a empresa forma seus operadores e seus técnicos considerando as particularidades da operação.” Para o executivo, a desvantagem da terceirização da lavra está relacionada ao custo da operação e à qualidade do minério que chega na unidade industrial. “Extrai-se muito com qualidade aquém da necessidade do controle de qualidade. Além disso, pode ser equacionada pela maior movimentação do minério internamente para a formação dos lotes compatíveis com os produtos a serem obtidos. Também pelo tempo despendido na formação dos lotes para produção, desgastes dos equipamentos, consumo de óleo e baixa produtividade”, avalia.

Entre as principais melhorias introduzidas na lavra e no transporte desde 2014, Rampazzo revela que houve o uso da blindagem e se faz a homogeneização granulométrica na frente de lavra. No transporte, a aquisição dos caminhões da Iveco, que hoje rodam com quatro eixos e caçamba para 20 toneladas, podendo atingir qualquer frente de operação por mais difícil que seja o trajeto – terreno íngreme, relevo de colinas. Com isso, segundo ele, houve diminuição do fluxo de caminhões nas estradas rurais e o cumprimento das metas diárias de entrada de minério, com qualidade, na unidade industrial.

Outro exemplo de terceirização é realizado pela Mineradora Apoena. Quando assumiu o controle da mina São Francisco (SF), em 2010, ela já era operada por terceiros e a Apoena decidiu manter a operação dessa forma. Segundo José Eduardo Correa, gerente de Operações da mineradora, isso se deu devido à menor necessidade de novos investimentos e o curto período de operação restante – naquele momento a previsão de operação seria somente até 2013. O acordo foi feito com a empreiteira Fagundes e se dá por produção e faixas de DMT. A grande vantagem da terceirização da lavra, de acordo com Josemar Clemente da Silva, geólogo sênior da Apoena, é evitar investimentos iniciais e a oportunidade de poder avaliar, logo no começo, as dificuldades e acertos para uma análise da realidade da operação, que pode significar um aprendizado operacional para o caso de preparação de uma equipe local para uma futura primarização. “Quando passamos de primarização para terceirização a possível redução de custos está diretamente ligada à diminuição dos custos de manutenção e de pessoal, principalmente com encargos em geral”, diz Silva.

Para Adilson Pedro Celestino, supervisor de mina da Apoena, entre as desvantagens da terceirização da lavra, estão a maior dificuldade em manter o controle direto com a equipe de operação (as metas das empresas não são as mesmas) e o contato ocorre somente com o nível de supervisão, impossibilitando o acesso direto à operação, o que pode causar dúvidas e retrabalhos. “Isso pode gerar maior dificuldade para atuar nas questões de segurança, produção e qualidade”, diz Celestino. “A melhor maneira para evitar essas situações é trabalhar junto da subcontratada como parceiros, procurando deixar bem claro as metas de produção e acompanhar sempre de perto, amarrando bem as questões em contrato”, completa Thi
ago Vitali Pignaton, coordenador de Beneficiamento da Apoena.

No caso da frota da empresa, a terceirização atinge toda a parte de carregamento e transporte, sendo própria somente a perfuração. A DMT é de 3,5 km para a alimentação da planta (minério) e de 2,5 km para o transporte de estéril até o depósito. Entre os equipamentos que fazem parte da frota da empresa, estão 35 caminhões rodoviários 8×4 Mercedes Benz Actros 4844K, com capacidade de carga para 36 t; três escavadeiras EC 700 Volvo, 8,1 t; duas pás carregadeiras Caterpillar 966 H, 6,3 t; um trator de esteira D8 T, 15,7 t; um trator de esteira D6 T, 5,7 t; uma moto niveladora 150 K; dois caminhões pipa Mercedes Benz 3340K, com capacidade para 20.000 l; uma escavadeira 320 D Caterpillar, com rompedor acoplado para quebra de blocos; e um caminhão comboio de abastecimento. No total, são aproximadamente 30 veículos terceirizados, incluindo também uma caminhonete e carros pequenos. Já entre os veículos próprios, fazem parte duas ambulâncias, uma caminhonete, um caminhão comboio, um caminhão pipa, um caminhão munk, um caminhão caçamba, uma motoniveladora e uma retro de pneu. “A maior vantagem da terceirização da frota é manter o foco na produção e promover uma redução de custos com manutenção, além de equalizar o valor do contrato com a disponibilidade dos veículos”, revela José Eduardo Correa.

Entre as principais melhorias na lavra e no transporte introduzidas desde o ano passado na Apoena, estão a redução da distância da mina aos depósitos de estéril e novas áreas mais próximas à mina; melhoria e padronização das rampas (máximo de 10%); melhorias nas rampas de acesso; e treinamento e conscientização das equipes da empresa parceira, com foco contínuo na produtividade. Isso incluiu a padronização das etapas de carregamento, transporte e descarga, além da melhoria no desmonte por explosivo, buscando melhor quebra do material e consequentemente aprimorando a operação de carregamento. Outra medida adotada foi a unificação do contrato de carregamento e transporte (mina e pilha de lixiviação), passando a operação para uma única contratada, conseguindo, com isso, reduzir o custo final do contrato.

Fonte: Revista Minérios & Minerales