Após as enchentes que atingiram mais de 90% dos municípios do Rio Grande do Sul – 471 cidades de um total de 497 – devastando ruas, estruturas e matando mais de 170 pessoas, o alerta sobre as mudanças climáticas ficou ainda mais evidente. Além das irreparáveis perdas de vidas, houve também a destruição de cidades inteiras, demolindo estruturas e grandes empreendimentos. 

Pensando em prever esses eventos, em especial hidroclimáticos, a Fractal, empresa de tecnologia em engenharia com soluções para dinâmica da água, desenvolveu um sistema que pudesse difundir a cultura de prevenção a eventos hidroclimáticos. A ideia era aproximar a meteorologia da hidrologia, avançando na disponibilização de informações de previsão de comportamento da água nos diversos processos do ciclo hidrológico. 

“Todo esse racional foi sendo desenvolvido durante o mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina. Isso me empurrou em direção ao mercado até que essa ideia acabou sendo alvo de programas de aceleração de startups. E em 2011 fomos admitidos na incubadora Celta, Pedra Branca, e hoje somos investidos pela KPTL e EDP Ventures, ambas desde setembro de 2019”, contou o CEO Fractal Engenharia e Sistemas Henrique Lucini Rocha, que, inclusive, participou do Bioeconomy Summit Amazon, evento promovido pelo Pacto Global da ONU – Rede Brasil, neste mês, em Belém (PA).

“É uma tecnologia de inteligência hidroclimática, o que a gente faz é entregar informações antes que os eventos aconteçam. Então, associamos dados de diversos sensores, radares meteorológicos, que transformam o potencial de chuva em vazão, conseguindo enviar informações exatamente  no terreno. Com essas ações desenvolvemos sistemas de alerta antecipado, assim conseguimos mitigar danos e salvar vidas, além de apoiar empresas para que possam operar seus empreendimentos adaptados às mudanças climáticas”, explicou.

Criada em dezembro de 2010, a Fractal produz soluções atualmente para empresas do setor hidrelétrico, mineração e outros das mais diferentes esferas de governo a ter de forma organizada informações hidroclimáticas. Ao longo destes 13 anos de operação, fomos aprimorando nossas soluções até a consolidação de nossa plataforma SIG²A, que tem como um de seus módulos principais um sistema de previsão, monitoramento e alertas a riscos hidroclimáticos. A solução associa tecnologias de big data, machine learning e IA para diminuir as incertezas sobre as previsões, apoiando ações que visem antecipá-los e melhor preparar a sociedade e corporações para lidar com seus impactos”. 

Segundo o CEO, dentre os principais resultados já obtidos pelos clientes estão a melhoria no planejamento e aumento de geração de energia em usinas hidrelétricas, evacuação de áreas de risco anteriores a inundações salvando vidas e bens materiais, melhorias operacionais de estruturas de detenção de cheias, identificação mais precisa de áreas de risco para diferentes cenários, dentre outros.

“As previsões e suas janelas futuras são dependentes dos modelos meteorológicos e suas incertezas. O padrão nacional para fins de alerta à população é de 3 a 5 dias. Defesa Civil dos vários estados e outras esferas governamentais seguem esse padrão. A Fractal segue esse consenso também. Mas nossos modelos preditivos contemplam ainda a relação entre chuva e vazão. Nós conseguimos demonstrar, por exemplo, a diferença que uma chuva de 150 milímetros fará em determinada área em relação a uma chuva de 300 milímetros, analisando a condição do solo, descrição da topografia, o tipo de uso e ocupação, tamanho da bacia hidrográfica, entre outros. Com isso, a Fractal consegue maior assertividade ao predizer se a inundação naquela área vai acontecer ou não, e até onde a água pode efetivamente subir”, detalhou.

Entre os principais clientes da Fractal estão a Defesa Civil de Santa Catarina, Norte Energia, CPFL, CEMIG e Vale. Dentre os cases,  a empresa destaca o estudo econômico realizado para o Estado de Santa Catarina, onde durante o período de 2018 a 2022, todas as ações de prevenção realizadas no Vale do Itajaí consolidaram economias aproximadas da ordem de dezenas de milhões de reais devido a mitigação dos danos de eventos climáticos ocorridos nesse período, além da evacuação de centenas de famílias das áreas de risco de forma antecipada. 

“Além disso, em 2022 apoiamos a equipe da Usina Hidrelétrica de Belo Monte em planejamento de geração e balanço hídrico, sendo que naquele ano a usina atingiu sua produção recorde desde sua entrada em operação comercial, tendo um incremento de 17% com relação ao ano anterior”, complementou o executivo.

Com o registro de faturamento em 2023 de R$ 7,6 milhões e crescimento em torno de 20% ao ano em média, o CEO da Fractal disse que o planejamento para os próximos 5 anos será cada vez mais se consolidar como a solução de previsão, monitoramento e alertas a riscos hidroclimáticos de ativos, ampliando as atividades para setores como agronegócio, securitário, saneamento e indústrias, além do movimento de consolidação de parcerias estratégicas para ampliação de portfólio e internacionalização. 

“Atualmente já temos conversas com empresas internacionais, projetos em desenvolvimento com instituições como o  Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e sabemos que nossas soluções possuem aplicabilidade global. Eventos extremos hidroclimáticos estão acontecendo em diversas regiões do planeta e sabemos que tal realidade demanda novas tecnologias e modelos de trabalho como maneiras de mitigar os diversos impactos”, concluiu.