Localizado no Sul da Bahia, o Projeto de Grafite Santa Cruz é o primeiro da canadense South Star no Brasil. A extração teve início no final do ano e a produção comercial dos concentrados está prevista começar em fevereiro. O projeto terá três fases, que contarão com investimentos de aproximadamente R$ 295 milhões, sendo que a empresa já investiu cerca de R$ 75 milhões.

Licenciada, a mina abrange uma área de 22 hectares em sua primeira fase, com a necessidade de expansão para as etapas seguintes. Sua construção começou em junho de 2022 e a produção anual em ROM irá variar ao longo dos 13 anos previstos de vida da mina. A começar por uma produção de 174.000 toneladas anuais, em sua primeira fase, passando a 1.070.000 t/ano na segunda etapa e 2.600.000 t/ano na terceira fase.

O método selecionado para o projeto é de lavra convencional a céu aberto (tanto para minério como para estéril), utilizando escavadeiras hidráulicas, tratores de esteira e caminhões de transporte. A frota será terceirizada e compreende ainda carregadeiras de pneus e motoniveladoras. “As quantidades e capacidades dos equipamentos são dimensionados de acordo com o volume de produção determinado, considerando disponibilidade física, utilização e produtividade”, destaca Julio José da Silva, gerente geral de mina. Segundo ele, os equipamentos ainda estão sendo definidos. “As marcas e modelos são determinados de acordo com disponibilidade, precificação e atendimento pós-venda na região.”

A mina está localizada em uma região com boa infraestrutura – a 1,3 km da rodovia federal, com uma subestação elétrica a 6 km do local da usina, juntamente com uma importante linha de gás natural a 5 km. O aeroporto internacional está localizado a 90 km, em Porto Seguro. Vale lembrar que o projeto da South Star está geograficamente não muito distante das novas instalações da fabricante de carros elétricos BYD, em Camaçari (BA). 

A locação das áreas a serem lavradas estão sendo definidas. “Ela é planejada após investigações, estudo de sondagem, análises geotécnicas e hidrogeológicas detalhadas. Com o reconhecimento de solo do local, são definidas onde serão as estruturas previstas em projeto. Neste momento, estamos em processo de contratação da empreiteira de lavra”, diz Silva.

O beneficiamento do grafite da mina Santa Cruz será realizado por meio do processo sucessivo de moagem e flotação. A etapa de homogeneização envolve moenga, britagem primária e secundária, peneira e moinho. Na concentração mecânica, fazem parte a flotação, peneira, moinho e classificador espiral. Para o concentrado, estão incluídos filtro prensa, secagem e embalagem, armazenamento e logística. Já os rejeitos, passam por espessador, filtro prensa, carregamento e pilha. O teor de minério na extração varia entre 2% e 6%.

Segundo o gerente da mina, o tratamento dos resíduos será feito por terceiros. “O serviço de coleta de resíduos sólidos será contratado de forma a transportá-los para descarte no aterro sanitário da cidade. Já o esgoto será transportado para fossas sépticas nas quais os orgânicos serão decompostos. O efluente será tratado a fim de cumprir as normas sanitárias antes do descarte no curso d’água natural”, afirma.

Silva enfatiza que, dentre os programas de ESG da companhia em Santa Cruz, a “South Star tem o compromisso com a extração sustentável de minerais de baterias para energia limpa e irá cumprir os objetivos traçados de desenvolvimento sustentável, que inclui a proteção da vida terrestre, gestão eficaz da água e baixa demanda de água doce com recirculação de água de processo e uso de energia renovável, além de trazer investimento para a região da mina, com comprometimento de práticas de contratação responsáveis e equitativas em parceria com a comunidade e o município”.

No final do ano passado, o presidente-executivo da companhia, Richard Pearce, informou à imprensa que a empresa cogitava acelerar a produção de Santa Cruz após a China ter anunciado que exigiria licenças que restringiriam a exportação de grafite. Os chineses são os maiores produtores mundiais de grafite. No Brasil está a segunda região produtora mundial, com mais de 80 anos de mineração contínua, o que tem despertado interesse internacional. Esse mineral é estratégico por ser um elemento chave na fabricação de baterias para carros elétricos. 

O grafite é a forma mais pura do carbono, sendo considerado o melhor condutor térmico e elétrico entre os não metais. É um mineral macio, flexível, altamente refratário e quimicamente inerte. Essas propriedades combinadas fazem com que ele seja amplamente utilizado em diversas aplicações industriais como metalurgia, refratários, baterias alcalinas e baterias tradicionais para automóveis.

No Brasil, há outra tradicional fabricante, a Nacional de Grafite, fundada em 1939, em Pindamonhangaba (SP). Ela concentra suas atividades na mineração e no beneficiamento do grafite natural cristalino. Em suas três plantas, localizadas próximas a importantes jazidas em Minas Gerais, a Nacional de Grafite beneficia o minério, gerando cerca de 70 mil toneladas anuais de grafite de diferentes características. Além do Brasil e da China, Turquia, Moçambique e Madagascar estão entre os que têm reservas e produção de grafite.