As negociações entre siderúrgicas e mineradoras para definição do preço do minério de ferro em 2009 ainda vão demorar, mas no mercado ninguém mais trabalha com quedas dramáticas para a principal matéria-prima do aço, que no auge da crise chegou a ter seu valor projetado para cair até 80 por cento ante 2008.

“O pessoal começa a mudar de opinião sobre o tamanho do tombo, após os sinais de melhora em dezembro e janeiro na China”, avaliou o analista Pedro Galdi, da corretora SLW.

Trabalhando com queda de 15 por cento em 2009, o analista lembrou que entre outros fatores, dados da indústria siderúrgica divulgados na semana passada fortaleceram a posição das mineradoras no jogo anual de montagem do preço do minério para os contratos de longo prazo. A própria Vale já afirmou que vai embarcar 30 milhões de toneladas de minério para a China no primeiro trimestre –de um total de 50 milhões de toneladas– e os preços do minério de ferro no mercado à vista e do frete marítimo registram melhoras.

“As mineradoras vão tentar prorrogar o máximo possível o acordo, porque quanto mais passar o tempo mais sinais de melhora vão aparecer, e com isso o poder de barganha para elas é maior”, explicou.

De olho em uma melhor estratégia, a Vale já avisou que ao contrário do que fez nos últimos anos não vai liderar o processo de negociação com as siderúrgicas, preferindo aguardar para ver os acordos que serão fechados pelas suas concorrentes australianas BHP e Rio Tinto.

No ano passado a brasileira ficou em desvantagem em relação aos acordos das rivais ao fechar em fevereiro ajustes entre 65 e 71 por cento, enquanto BHP e Rio Tinto conseguiram mais tarde, em junho, altas entre 79,5 e 96,5 por cento.

Dentro da empresa, existe uma expectativa de tentar recuperar este ano o que perdeu no ano passado em relação às concorrentes, informou uma fonte da companhia que não quis ser identificada. “Temos que ver o quanto os australianos vão conseguir para fechar o nosso preço, fazer exatamente o contrário do que fizemos no ano passado”, afirmou a fonte que preferiu não apostar em percentuais. “Ainda falta muito”, justificou.

Para um analista do Banif Investment Banking, que não quis se identificar, a decisão de aguardar os australianos é equivocada. “Essa decisão tinha que ter sido tomada no ano passado, porque o mercado estava melhor para ela e poderia conseguir mais do que os australianos”, explicou.

“Esse ano já penso ao contrário. A Vale corre risco ao esperar, porque como os australianos ganharam mais no ano passado podem perder mais esse ano, e se ela (Vale) chegar querendo mais do que os australianos pode levar menos, até porque os chineses não querem dois preços”, avaliou.

A Vale tentou em meados do ano passado recuperar a diferença de preço ante os australianos junto aos seus clientes asiáticos, mas não obteve sucesso. Para o analista do Banif, o preço este ano deve ter queda de 20 por cento e de 10 por cento em 2010, ficando estável em 2011.

Spot x Contrato

A analista Cristiane Viana, da Ágora, se baseia em uma análise histórica dos preços do mercado à vista (spot) em relação aos preços do minério contratado para prever uma queda de preço de cerca de 28 por cento em 2009, mas já considera que poderá rever a queda para um percentual menor.

“Não sabemos quanto estará o spot quando o contrato for fechado, mas existe uma relação que deve ser observada”, destacou.
Segundo a análise comparativa, quando o minério contratado subiu 19 por cento em maio de 2006 o preço spot indicava alta de 25 por cento; em 2007 o diferencial médio entre o minério contratado e o spot era de 8,3 por cento antes da definição, e no final o minério subiu 9,5 por cento no contrato de longo prazo.

Em 2008 a diferença do preço à vista e contratado estava em torno de 62 por cento, e depois vieram reajustes entre 65 e 71 por cento para a Vale e de 79,5 e 96,5 por cento para as australianas BHP e Rio Tinto.
Cristiane afirmou que está havendo tanto melhora do mercado spot do minério como no de frete, o que fortalece os indícios de aquecimento da demanda. “Pode ser uma queda inferior (aos 28%), ainda estamos sendo muito conservadores”, explicou.

Se houver uma queda de 28 por cento do minério, o preço alvo da ação preferencial da Vale teria alta de 25,2 por cento, na avaliação da Ágora, para 39,25 reais, enquanto uma queda de 10 por cento traria uma valorização de 65,5 por cento para o papel, que atingiria 51,88 reais em dezembro de 2009.

A analista se disse surpreendida com a decisão da Vale de não liderar as negociações este ano, porque a empresa é a maior produtora de ferro do mundo e por isso teria maior força com os clientes. “Vamos aguardar para ver o motivo da estratégia”, afirmou.
Fonte: Padrão