Unidade será construída em São Paulo, num prazo de 18 meses

Evanildo da Silveira

A Sibelco, multinacional do setor de mineração de origem belga, vai investir cerca de R$ 150 milhões em uma fábrica de carbonato de cálcio a ser construída no Estado de São Paulo nos próximos 18 meses. Além de ampliar a capacidade produtiva da companhia, a planta contribuirá na estratégia de posicioná-la como líder de mercado do produto no País. O projeto faz parte do programa de investimentos da Sibelco América do Sul, que destina recursos ainda para outros dois países da região. Na Argentina serão aplicados US$ 100 milhões na construção de uma nova linha de calcinação de cal completa; e no Chile, US$ 23 milhões num centro de distribuição de cal.

Na nova unidade no Brasil, que ocupará um terreno de 255 mil m2 em Jarinu (SP), serão realizados os processos de calcinação de calcário e de carbonatação para fabricação de carbonato de cálcio precipitado, moagem, secagem e preparação da carga mineral líquida (slurry) para a indústria de tintas. O slurry, um banho aquoso de minerais que usam minerais industriais fabricados pela Sibelco – matérias-primas para os fabricantes de tintas, representa um desafio técnico. Nesta formulação de minerais a empresa usa a mesma tecnologia da indústria de tintas – em que a mistura dos minerais em cada lote é feita in line (na hora exata do processamento), o que possibilita flexibilidade, agilidade de produção, qualidade e precisão na carga mineral.

A capacidade da fábrica está projetada para 200.000 t de carga mineral líquida e 35.000 t de carbonato de cálcio ultrafino para a indústria de plástico, o qual contribuirá na redução de importações desta matéria prima pelo País.

De acordo Paulo Wandenkolk, presidente e CEO da Sibelco América do Sul, a unidade brasileira a ser construída “será referência mundial em qualidade e sustentabilidade”. Ainda de acordo com ele, com instalações mais modernas, automatizadas e mais sustentáveis, a companhia reforça sua posição de fabricante de alta qualidade de produtos de carbonatos de cálcio.

Para o desenvolvimento do projeto, em conformidade com a tecnologia proprietária da Sibelco, foi contratada a Promon Engenharia. Segundo o diretor de Negócios no segmento de mineração desta empresa, Álvaro Bragança, para a planta no Brasil o contrato foi efetivado na modalidade EPCM (Engineering, Procurement and Construction Management). Nessa forma de acerto, o contratado é responsável pela elaboração do projeto de engenharia, por especificar e comprar os materiais e equipamentos (tubulações, estruturas metálicas, por exemplo) e gerenciar o processo de construção como um agente do proprietário do projeto. Durante a fase de pico da obra serão gerados cerca de 500 empregos.

Álvaro Bragança diretor de negócios no segmento de mineração da Promon
Capacidade da nova fábrica da Sidelco em São Paulo será de 200.000 t de carga mineral líquida
(slurry) e 35.000 t de carbonato de cálcio

A Promon é responsável ainda pela aquisição de equipamentos e materiais, além do gerenciamento das empresas contratadas para a fase de construção e montagem do empreendimento. Ela também está envolvida nos projetos da mineradora em Santiago, no Chile, e em San Juan, na Argentina. Bragança destaca que a flexibilidade que caracteriza o modo de atuação da sua empresa foi determinante para a maior integração com os projetos da Sibelco. “Sempre vislumbramos as nossas operações com ela de modo integrado, como um portfólio de negócios envolvendo os três empreendimentos, no Brasil, Chile a Argentina. “E isso nos traz a flexibilidade necessária para conduzir cada projeto individualmente sem perdermos a visão do todo”, ressalta o diretor.

De acordo com ele, dos três empreendimentos, o que está mais adiantado é o novo centro de logística chileno, onde as obras físicas já tiveram início e devem estar concluídas no começo do ano que vem. “No Brasil, estamos na fase de aquisição de equipamentos e início de implementação da planta”, conta Bragança. “Estamos ainda na preparação do terreno e nos serviços preliminares da construção propriamente dita.” As obras físicas devem começar no início de 2016. Já a fábrica de cal na Argentina prevê prazos mais estendidos, dada a dimensão do empreendimento, que compreende, na primeira fase, a construção de um forno rotatório, com a conclusão prevista para o fim de 2016.

Segundo Bragança, entre os principais desafios do projeto está o de construir uma fábrica mais eficiente e mais ambientalmente adequada, com a geração de energia elétrica dentro da própria planta e reaproveitamento de água e de resíduos, por exemplo. As próprias obras também são planejadas para evitar desperdícios de recursos e impactos ao meio ambiente.

A movimentação e instalação de equipamentos sofisticados, fabricados por fornecedores especiais da Sibelco, são outras dificuldades da construção da nova fábrica. “Os problemas de logísticas no Brasil são conhecidos e a chegadas de equipamentos e materiais ao local das obras exige planejamento detalhado”, diz Bragança. “Para evitar isso, nós temos, desde a fase em que especificamos os equipamentos, principalmente os que chamamos de itens críticos, um processo completo de acompanhamento, que começa na compra e vai até o que denominamos de internação no Brasil.”

De acordo com ele, outra estratégia para evitar problemas de logística é desenhar o projeto em peças, em segmentações, de tal forma que as dificuldades previstas sejam vencidas. “Então não temos, por exemplo, um grande item com 200 m de comprimento”, explica. “Nós fazemos uma segmentação de tal maneira que ele possa ser levado ao local e montado adequadamente. Ou seja, fazemos pré-planejamento. Por isso, podemos dizer que todos as dificuldades de logísticas identificados foram adequadamente tratados num planejamento de aquisição e internação de materiais para as plantas no Brasil e no exterior.”

Expansões

Independentemente da construção dessas fábricas, a Sibelco vem se expandindo no Brasil já algum tempo. Em 2014, por exemplo, a empresa tornou-se sóciaminoritária da EDK Mineração, pertencente ao grupo Fairway, com ênfase em logística. Esta mineradora está presente em Cachoeiro do Itapemirim (ES), região conhecida pelas grandes reservas de calcita e dolomita. Atua na produção de carbonatos de cálcio natural e recentemente expandiu seus negócios para Pernambuco (Moreno) visando ao mercado do Nordeste, com uma unidade completa de fabricação de massa corrida.

A EDK também atua nos mercados de carbonatos para as indústrias de tinta, papel, plástico, agricultura e siderurgia. Estaassociação faz parte do projeto estratégico de fortalecimento da Sibelco na América do Sul, para complementação da linha de produtos da companhia. As duas empresas possuem administrações independentes e próprias.

A Sibelco, por sua vez, atua na América do Sul fabricando e comercializando sílica para a indústria de vidro, cerâmica e fundição, além de cal para metalurgia, mineração e construção civil e carbonato de cálcio para os mercados de alimentos e higiene pessoal. A companhia possui 26 plantas na região e a soma do volume de negócios da subsidiária e associadas em 2014 superou os US$ 220 milhões. No Brasil, tem 16 fábricas, entre próprias,associação com o Grupo Fairway e com o Grupo Saint-Gobain na Mineração Jundu. No mundo, está presente em 43 países e sua receita global no ano passado foi de € 3,3 bilhões.