Empresas do setor mineral usam todo o recurso disponível (intelectual e financeiro) para identificar “trends” futuros que possibilitem tomada de decisão para alocação de recursos de exploração, visando agregar novas reservas àquelas já conhecidas (minas em operação), como também desenvolver novas minas (projetos brownfiel e greenfield) em relação a commodities de interesse.

Nesse sentido, há fatores (entre outros) que interferem no comportamento do mercado de commodities minerais (volatilidade dos preços):

  • Balanço entre produção (estoques) / oferta e demanda (consumo) / mercados
  • Novas tecnologias
  • Cenário político (interno e global)

Em termos de mercado global, a figura 1 mostra a evolução de preços para algumas commodities minerais, com destaques para zinco e cobre, onde se observa que os anos de 2016 e 2017 foram positivos:

Figura 1 – Evolução de preços de commodities no período entre 2013 e 2017

Preços de metais elevados no mercado significam em geral:

  • Estoques baixos e/ou déficit de oferta do metal como está acontecendo com o zinco em razão do fechamento de importantes minas na Europa (Lisheen/Irlanda/Vedanta Zinc) e Austrália (Black Star/Glencore);
  • Projeções otimistas de demandas futuras (como é o caso do cobre), que guardam intima relação com a produção de veículos elétricos e híbridos (não se esquecendo das usinas para produção de energia renováveis eólica/solar e, naturalmente, o mercado chinês).

Sabe-se que:

  1. Veículos elétricos e híbridos utilizam, respectivamente, 3 a 2 vezes mais cobre do que um veículo que utiliza combustível fóssil, com a vantagem de reduzir as emissões de CO2 para a atmosfera;
  2. Segundo a Associação Internacional do Cobre, a produção de veículos elétricos e híbridos deve saltar de 3 milhões de unidades em 2017 para 27 milhões em 2027 – o que significa uma projeção de novas demandas de 1,75 milhão de toneladas de Cobre para os próximos 10 anos;
  3. É importante destacar que a China consome 50 % do cobre refinado produzido no planeta.

É certo que o mercado de commodities minerais irá se ajustar segundo a balança oferta/demanda, e essa constatação pode ser observada no comportamento de orçamentos para projetos de exploração de empresas juniores e médias (inclui empresas com orçamentos declarados acima de US$ 2 milhões), conforme mostrado na figura 2. O foco de investimentos em exploração é o ouro e, dentro do elenco de metais básicos, o cobre vem em segundo lugar.

Figura 2 – Evolução de investimentos em programas de exploração mineral no período entre 2008 e 2017 com destaque (polígono verde) para o período mencionado na Figura 1

Nesse cenário, os investimentos em programas de exploração no Brasil – orientados para minerais metálicos não ferrosos – colocam o país no patamar de 3% do montante de US$ 7,95 Bilhões em 2017, conforme informa o folder World Exploration Trend – Special Report from S&P Global Market Intelligence for the PDAC Internacional Convention – March 2018 (Figura 3)

Figura 3Orçamentos a nível global em programas de exploração mineral no ano de 2017

Uma tentativa para traduzir o significado do valor de 3% atribuído ao Brasil para investimentos em programas de exploração Mineral (minérios metálicos não ferrosos no exercício de 2017) pode ser realizada com dados disponibilizados pela Agência Nacional de Mineração (ANM/DNPM/SIGMINE) a partir de shapefiles (arquivos vetorizados), que carregam planilhas com atributos referentes a número do processo, ano, área requerida, titular do processo, fase (tramitação no órgão), último evento (tramitação no órgão), substância requerida e unidade da federação.
Usando uma plataforma GIS, realizaram-se filtros a partir de premissas pré-estabelecidas, a saber:

  • Listar todos processos ativos referentes ao ano de 2017 e 2018 (4/3/2018, data do download das informações de todos os Estados e Distrito Federal) que tramitam na ANM/ DNPM na fase Requerimento de Pesquisa (RP) e Autorização de Pesquisa (AP);
  • Destacar substâncias relacionadas aos minerais metálicos não ferrosos (cobre, níquel, cobalto, zinco, chumbo);
  • Incluir lítio, manganês e ouro;
  • Descartar minerais não metálicos (agregados, calcários, fertilizantes etc.).

A figura 4 sintetiza o resultado dos filtros realizados e, como se observa, movimentos importantes estão acontecendo nos estados do Mato Grosso e Pará

Figura 4 – Distribuição de Requerimentos de Pesquisa (RP) & Autorizações de Pesquisas (AP) de processos ativos na ANM/DNPM/SIGMINE no período entre 1/1/2017 e 4/3/2018 (Cu/Ni, Zn/Pb, Mn, Li e Au)

No período estudado, identificou-se um total de 3.365 registros (RP & AP) totalizando 9.142.569 hectares. Considerando-se as premissas inicialmente definidas, todas as substâncias requeridas para os processos ativos no órgão estão listadas na tabela 1 com destaque para minério de cobre e minério de ouro, que juntos representam 88% do total de hectares onerados.

Tabela 1 – Requerimentos de Pesquisa (RP) & Autorizações de Pesquisa (AP) – BRASIL – Período: 2017 a 2018. Fonte: ANM/DNPM/SIGMINE em 4/3/2018

Em leitura na base de dados filtradas por Estados, nota-se que Mato Grosso e Para detém 65% do total de hectares requeridos em relação a todos os outros Estados (Tabela 2).

Tabela 2 – Requerimentos de Pesquisa (RP) & Autorizações de Pesquisa (AP) – ESTADOS – Período: 2017 a 2018. Fonte: ANM/DNPM/SIGMINE em 4/3/2018

Analisando-se os dados com foco no Estado do Mato Grosso (induzido pela observação de grande bloco de área na porção norte do estado, região de Alta Floresta, figura 4), percebe-se que 74% do total de áreas requeridas (hectares) no Estado do Mato Grosso têm o minério de cobre como substância declarada nos RP aplicados e AP outorgados (isso significa 2,3 milhões de hectares de um total de 3,1 milhões de hectares requeridos nesse Estado, no período estudado – Tabela 3).

Tabela 3 – Requerimentos de Pesquisa (RP) & Autorizações de Pesquisa (AP) – ESTADO DO MATO GROSSO – Período: 2017 a 2018. Fonte: ANM/DNPM/SIGMINE em 4/3/2018

Do ponto de vista de exploração mineral, a região de Alta Floresta dá sinais de diversidade metalogenética em razão de seu contexto geológico: unidade tectônica hospedeira de sequências plutônico-vulcânicas em arcos magmáticos construídos em tempos paleoproterozoicos.
Nesse contexto, não é raro, a presença de garimpos em atividade desenvolvendo “lavra artesanal” em ocorrências/depósitos de ouro com sulfetos de metais base (esfalerita, galena, calcopirita) associados.
Há registros (base de dados CPRM) de ocorrências de corpos intrusivos de rochas máficas (gabros).
Uma tentativa de leitura que se pode fazer para justificar a aplicação de Requerimentos de Pesquisa para cobre – de maneira agressiva na segunda metade do ano 2017 – permite levantar pelo menos duas possibilidades factíveis do ponto de vista de modelos geológicos:

  1. Mineralizações polimetálicas associadas a sistemas VMS (Volcanic-associated massive sulfide deposits): zinco, chumbo, prata, cobre e ouro);
  2. Mineralizações de Níquel Magmático (sulfetado) associado a unidades intrusivas básicas (gabros, Troctolitos: níquel, cobre, cobalto, ouro, paládio e platina);

O tempo trará as respostas que aguçarão a curiosidade de todos.

*Vitor Mirim é geólogo de exploração da VRM Geologia e Mineração