O Estado do Amazonas vem sofrendo a maior estiagem dos últimos anos desde o mês de setembro. Nesta semana, a cota do Rio Negro chegou a 13,49 metros, a menor desde 1902, quando começaram as medições. A informação foi divulgada pela Agência Brasil, com dados do Porto de Manaus, que realiza as medições no rio. A previsão é que as águas continuem baixando até o início de novembro, quando termina o período de estiagem.
A seca fez com que o governador Wilson Lima decretasse, em setembro, situação de emergência em 55 dos 62 municípios do estado. Atualmente, 58 municípios do Amazonas estão em estado de calamidade e/ou de emergência. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou o repasse de mais de R$ 233 milhões aos 62 municípios do Amazonas.
Em setembro, segundo a rede colaborativa de universidades, organizações não governamentais (ONGs) e empresa de tecnologia, MapBiomas, o Amazonas registrou, em nota técnica, a menor extensão coberta por água no estado desde 2018. Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélites dos sistemas LandSat e Sentinel e apontam para uma superfície de água de 3,56 milhões de hectares, uma redução de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões de hectares registrados em setembro de 2022 – que foi um patamar acima da média histórica acompanhada pelo MapBiomas, com início em 1985.
Os pesquisadores também mapearam alguns pontos afetados de forma aguda pela redução da superfície de água. Além da seca no Lago Tefé, que culminou na morte de mais de 140 botos, segundo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. As imagens de satélite mostraram que lagos inteiros secaram em áreas de várzea na Reserva Extrativista (Resex) Auatí-Paraná. Situada no Médio-Solimões, a reserva abrange os territórios dos municípios de Fonte Boa, Japurá e Maraã.
O mesmo aconteceu com a seca no Lago de Coari, afetando o acesso a alimentos, medicamentos e o calendário escolar. Entre Tefé e Alvarães, a seca forma bancos de areia extensos.
“A seca severa na Amazônia em 2023 tem sido atribuída a uma combinação do fenômeno El Niño com o aquecimento do Atlântico Norte, levando a uma intensa estiagem que pode continuar até janeiro de 2024. O estado do Amazonas é um dos mais atingidos. No mês de setembro de 2023, aproximadamente 20 estações da rede hidrológica amazônica registaram condições de seca, com metade localizadas no Amazonas”, diz a nota técnica do MapBiomas.
Mudanças no transporte hidroviário
A seca também está atingindo o transporte mais utilizado na região amazônica: pelos rios. Prevendo o anúncio da suspensão da Cabotagem pelos rios do Amazonas, a Costa Brasil, empresa que é uma integradora multimodal com soluções logísticas pela água, terra e ar, anunciou uma nova rota e duplicou o tamanho de sua frota rodoviária, além de ampliar o atendimento em seus armazéns e terminais, para contornar o período de estiagem.
De acordo com o diretor executivo da Costa Brasil, Márcio Salmi, o número de caminhões foi ampliado, dobrando a capacidade da oferta do modal pela operadora logística. “Era importante que encontrássemos uma alternativa eficaz e rápida. Com o aumento da demanda pelo rodoviário e a ampliação da frota de caminhões, nossas saídas podem ser diárias entre Manaus/São Paulo (Guarulhos/Santos) e vice-versa”.
Ainda segundo Salmi, foi criada uma nova rota de navegação hidroviária por um rio que ainda mantém o nível seguro para esse modal de transporte. Soluções “fora da caixa” para não deixar que essa situação se torne uma grave crise econômica para seus clientes e aumente, ainda mais, o desabastecimento na Região Amazônica.
Com o novo trajeto é possível um transit time de até 10 dias, com caminhões compartilhados entre vários clientes ou com carga de um único cliente, podendo ser transportado todo tipo de mercadoria de consumo da população da região de Manaus e mercadorias produzidas na Zona Franca com destino às regiões Sudeste e Sul do país.
Comunidades e turismo afetados
Os efeitos da estiagem severa são sentidos pelas comunidades no entorno da capital amazonense. Santa Helena do Inglês e Saracá, polos vibrantes do turismo de base comunitária na região, enfrentam a dificuldade de acesso a itens básicos, como alimentos e água potável. No lugar dos típicos barcos, tratores estão sendo usados para o transporte de alimentos, em um trajeto de 20 minutos ou de quase 1 hora, a pé no sol escaldante.
Nessas comunidades ribeirinhas, localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, distante cerca de 1h30 de Manaus, outro fator tem piorado a qualidade de vida dos moradores: a poluição da fumaça dos incêndios florestais que têm aumentado nessa temporada. “Acho que essa seca tá pior que a de 2010, porque tá mais difícil pra sair e chegar nas comunidades. E naquela época não tinha fumaça”, afirma Sebastião Brito, presidente comunitário do Saracá.
Os efeitos severos da seca também são sentidos nas fontes de renda dessas comunidades, que há mais de uma década trabalham uma alternativa econômica sustentável: o turismo de base comunitária. Em Santa Helena do Inglês, a pousada Vista do Rio Negro vai fechar as portas pelos próximos 2 meses pela falta de condições de manter a logística e estrutura para receber novos turistas durante a estiagem.
“A gente teve que desmarcar reservas e devolver dinheiro. Eu nunca tinha visto uma seca tão forte assim”, conta a gestora da pousada, Adriana de Siqueira, que lamenta o impacto no negócio, que aquece a economia local. “Algumas doações estão chegando (para a comunidade), mas a gente não queria viver de doação, a gente queria viver do nosso trabalho”.
A pousada, assim como outros empreendimentos turísticos na região do Rio Negro, foi implementada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com recursos do Fundo Amazônia. O objetivo da fundação é estimular o desenvolvimento do turismo protagonizado pelas pessoas que vivem nas comunidades, mantendo a floresta em pé e promovendo a prosperidade social.
Ajuda emergencial
Diante dos problemas com a estiagem, organizações da sociedade civil juntaram-se na iniciativa chamada Aliança Amazônia Clima. Facilitada pela Fundação Amazônia Sustentável, a aliança está mobilizando doações de itens de primeira necessidade e destinando às comunidades mais afetadas pela seca. A Aliança Amazônia Clima está arrecadando alimentos não perecíveis, água potável e valores financeiros para compra de itens de necessidade básica em apoio às comunidades afetadas pela seca extrema na região.
As doações podem ser entregues na sede da FAS, localizada na Rua Álvaro Braga, 351, bairro Parque Dez, em Manaus (AM). As contribuições financeiras podem ser feitas por meio da chave PIX 03351359000188 – Fundação Amazônia Sustentável e pelo site bit.ly/doe-amazonia.
O Estado do Amazonas vem sofrendo a maior estiagem dos últimos anos desde o mês de setembro. Nesta semana, a cota do Rio Negro chegou a 13,49 metros, a menor desde 1902, quando começaram as medições. A informação foi divulgada pela Agência Brasil, com dados do Porto de Manaus, que realiza as medições no rio. A previsão é que as águas continuem baixando até o início de novembro, quando termina o período de estiagem.
A seca fez com que o governador Wilson Lima decretasse, em setembro, situação de emergência em 55 dos 62 municípios do estado. Atualmente, 58 municípios do Amazonas estão em estado de calamidade e/ou de emergência. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou o repasse de mais de R$ 233 milhões aos 62 municípios do Amazonas.
Em setembro, segundo a rede colaborativa de universidades, organizações não governamentais (ONGs) e empresa de tecnologia, MapBiomas, o Amazonas registrou, em nota técnica, a menor extensão coberta por água no estado desde 2018. Os dados foram obtidos a partir de imagens de satélites dos sistemas LandSat e Sentinel e apontam para uma superfície de água de 3,56 milhões de hectares, uma redução de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões de hectares registrados em setembro de 2022 – que foi um patamar acima da média histórica acompanhada pelo MapBiomas, com início em 1985.
Os pesquisadores também mapearam alguns pontos afetados de forma aguda pela redução da superfície de água. Além da seca no Lago Tefé, que culminou na morte de mais de 140 botos, segundo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. As imagens de satélite mostraram que lagos inteiros secaram em áreas de várzea na Reserva Extrativista (Resex) Auatí-Paraná. Situada no Médio-Solimões, a reserva abrange os territórios dos municípios de Fonte Boa, Japurá e Maraã.
O mesmo aconteceu com a seca no Lago de Coari, afetando o acesso a alimentos, medicamentos e o calendário escolar. Entre Tefé e Alvarães, a seca forma bancos de areia extensos.
“A seca severa na Amazônia em 2023 tem sido atribuída a uma combinação do fenômeno El Niño com o aquecimento do Atlântico Norte, levando a uma intensa estiagem que pode continuar até janeiro de 2024. O estado do Amazonas é um dos mais atingidos. No mês de setembro de 2023, aproximadamente 20 estações da rede hidrológica amazônica registaram condições de seca, com metade localizadas no Amazonas”, diz a nota técnica do MapBiomas.
Mudanças no transporte hidroviário
A seca também está atingindo o transporte mais utilizado na região amazônica: pelos rios. Prevendo o anúncio da suspensão da Cabotagem pelos rios do Amazonas, a Costa Brasil, empresa que é uma integradora multimodal com soluções logísticas pela água, terra e ar, anunciou uma nova rota e duplicou o tamanho de sua frota rodoviária, além de ampliar o atendimento em seus armazéns e terminais, para contornar o período de estiagem.
De acordo com o diretor executivo da Costa Brasil, Márcio Salmi, o número de caminhões foi ampliado, dobrando a capacidade da oferta do modal pela operadora logística. “Era importante que encontrássemos uma alternativa eficaz e rápida. Com o aumento da demanda pelo rodoviário e a ampliação da frota de caminhões, nossas saídas podem ser diárias entre Manaus/São Paulo (Guarulhos/Santos) e vice-versa”.
Ainda segundo Salmi, foi criada uma nova rota de navegação hidroviária por um rio que ainda mantém o nível seguro para esse modal de transporte. Soluções “fora da caixa” para não deixar que essa situação se torne uma grave crise econômica para seus clientes e aumente, ainda mais, o desabastecimento na Região Amazônica.
Com o novo trajeto é possível um transit time de até 10 dias, com caminhões compartilhados entre vários clientes ou com carga de um único cliente, podendo ser transportado todo tipo de mercadoria de consumo da população da região de Manaus e mercadorias produzidas na Zona Franca com destino às regiões Sudeste e Sul do país.
Comunidades e turismo afetados
Os efeitos da estiagem severa são sentidos pelas comunidades no entorno da capital amazonense. Santa Helena do Inglês e Saracá, polos vibrantes do turismo de base comunitária na região, enfrentam a dificuldade de acesso a itens básicos, como alimentos e água potável. No lugar dos típicos barcos, tratores estão sendo usados para o transporte de alimentos, em um trajeto de 20 minutos ou de quase 1 hora, a pé no sol escaldante.
Nessas comunidades ribeirinhas, localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, distante cerca de 1h30 de Manaus, outro fator tem piorado a qualidade de vida dos moradores: a poluição da fumaça dos incêndios florestais que têm aumentado nessa temporada. “Acho que essa seca tá pior que a de 2010, porque tá mais difícil pra sair e chegar nas comunidades. E naquela época não tinha fumaça”, afirma Sebastião Brito, presidente comunitário do Saracá.
Os efeitos severos da seca também são sentidos nas fontes de renda dessas comunidades, que há mais de uma década trabalham uma alternativa econômica sustentável: o turismo de base comunitária. Em Santa Helena do Inglês, a pousada Vista do Rio Negro vai fechar as portas pelos próximos 2 meses pela falta de condições de manter a logística e estrutura para receber novos turistas durante a estiagem.
“A gente teve que desmarcar reservas e devolver dinheiro. Eu nunca tinha visto uma seca tão forte assim”, conta a gestora da pousada, Adriana de Siqueira, que lamenta o impacto no negócio, que aquece a economia local. “Algumas doações estão chegando (para a comunidade), mas a gente não queria viver de doação, a gente queria viver do nosso trabalho”.
A pousada, assim como outros empreendimentos turísticos na região do Rio Negro, foi implementada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com recursos do Fundo Amazônia. O objetivo da fundação é estimular o desenvolvimento do turismo protagonizado pelas pessoas que vivem nas comunidades, mantendo a floresta em pé e promovendo a prosperidade social.
Ajuda emergencial
Diante dos problemas com a estiagem, organizações da sociedade civil juntaram-se na iniciativa chamada Aliança Amazônia Clima. Facilitada pela Fundação Amazônia Sustentável, a aliança está mobilizando doações de itens de primeira necessidade e destinando às comunidades mais afetadas pela seca. A Aliança Amazônia Clima está arrecadando alimentos não perecíveis, água potável e valores financeiros para compra de itens de necessidade básica em apoio às comunidades afetadas pela seca extrema na região.
As doações podem ser entregues na sede da FAS, localizada na Rua Álvaro Braga, 351, bairro Parque Dez, em Manaus (AM). As contribuições financeiras podem ser feitas por meio da chave PIX 03351359000188 – Fundação Amazônia Sustentável e pelo site bit.ly/doe-amazonia.
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