Após obter faturamento recorde em 2021, de R$ 339 bilhões, a mineração brasileira amargou uma retração de 26,3% no mesmo indicador em 2022, para R$ 250 bilhões. As informações são do balanço anual do Ibram.
O presidente do Ibram, Raul Jungmann, avaliou, em entrevista ao Valor Econômico, que o desempenho “menos dourado” do que o do ano anterior tem relação direta com a guerra na Ucrânia.
“Minerais e metais ainda tiveram preços elevados (no início), mas, a partir de maio, houve desaceleração”, justificou Jungmann. Ele avalia que, para 2023, diante do cenário de instabilidade mundial, especialmente China e Europa, a tendência é “repetir 2022”.
O executivo disse que a desaceleração veio com a menor produção de aço na China, decorrente das restrições da política contra Covid, o que levou a um forte recuo no preço médio do minério de ferro. “Este minério responde por 73% das divisas de exportação do setor. Outro fator foi a guerra na Ucrânia”, afirmou.

Fe contribui com R$ 153 bi
Os dados de fechamento do ano divulgados pelo Ibram mostram que, do total faturado em 2022, o minério de ferro contribuiu com R$ 153,5 bilhões, seguido de ouro (R$ 23,9 bilhões); cobre (R$ 15,2 bilhões); calcário dolomítico, R$ 8,55 bilhões; e bauxita, R$ 5,66 bilhões) – uma concentração de quase 83% desses cinco produtos.
A queda na receita trouxe impactos diretos na arrecadação da Contribuição Financeira da Extração Mineral (CFEM), que caiu de R$ 10,3 bilhões R$ 7 bilhões.

Setor busca recursos
Na entrevista ao Valor, o presidente do Ibram afirmou que a mineração brasileira precisa de mecanismos de apoio financeiros para fomentar o setor, citando o exemplo das junior companies, que captam recursos na Bolsa de Toronto. Jungmann lembrou que duas propostas elaboradas no Ministério das Minas e Energia – Letra de Risco Minerário e Cédula de Direitos Minerários estão em estudo. O instituto estima que com a secutirização podem ser levantados até R$ 15 bilhões com fundos invest Mining.

Minérios estratégicos
A perspectiva do Brasil se situar entre os líderes no fornecimento de minérios estratégicos para o cumprimento dos compromissos de agendas globais – como a de mudanças climáticas, descarbonização e eletrificação – é uma das apostas do instituto que representa as mineradoras.
Jungmann defende uma política mais agressiva para a produção de minerais críticos, como nióbio, tântalo, lítio, grafite, e outros, que poderiam agregar mais peso no valor da produção e na exportação. Ele salientou, ainda, a necessidade de o Brasil ampliar a produção de minérios utilizados para fabricar fertilizantes, já que o país é importador em larga escala desses produtos.
O Ibram também se posiciona contrário ao garimpo ilegal. “Nossa posição é radical com o garimpo ilegal. A atividade é crime e caso de polícia”, afirma Raul Jungmann.