O governo chinês aprovou um pacote de 4 trilhões de iuanes (US$ 586 bilhões) em gastos governamentais para impulsionar a demanda doméstica a fim de evitar a desaceleração da quarta maior economia do mundo.
O pacote que soma quase 14% da produção econômica anual, anunciado no último domingo, deve ser aplicado ao longo dos próximos dois anos em obras de habitação, infra-estrutura e reconstrução das áreas afetadas por terremotos.
Segundo o governador do banco central do país, Zhou Xiaochuan, "elevar as despesas em casa é a melhor forma de a China ajudar a evitar uma recessão prolongada no mundo".
Para estimular a economia, bancos serão autorizados a ampliar os empréstimos destinados a projetos de desenvolvimento em áreas rurais e de inovação técnica. A medida para evitar o agravamento da crise mundial de crédito prevê ainda cortes fiscais para empresas.
O Conselho de Estado, ou gabinete, também anunciou uma mudança para uma política monetária "moderadamente frouxa", possivelmente antecipando novas reduções dos custos de empréstimos após três cortes nas taxas de juros desde meados de setembro. "Com a intensificação da crise global financeira nos últimos dois anos, o governo precisa tomar políticas macroeconômicas flexíveis e prudentes para lidar com a situação complexa e inconstante", afirma um comunicado retransmitido pela imprensa local.
O plano também deve ser um estímulo positivo para as ações da China. Essa é a expectativa de Ben Simpfendorfer, economista do Royal Bank of Scotland Group Plc, em Hong Kong. O CSI 300 – Índices das Bolsas de Valores Asiáticos – já recuou 69% este ano, a maior queda entre as ações referenciais na região Ásia-Pacífico. "O pacote será positivo para o mercado acionário, mas novamente, precisamos ver resultados", disse Simpfendorfer.
O plano é considerado a primeira grande resposta chinesa à crise que se intensifica no mercado financeiro mundial.
Desde o início do semestre o banco central chinês já sinalizava mudanças nas diretrizes econômicas à medida que a inflação amenizava e o crescimento econômico começava a dar sinais de desgaste. Uma medida mais radical veio após o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês ter desacelerado para 9%, uma queda considerável em relação aos quase 12% registrados ao longo de 2007, o que reforçou os temores de que mesmo a China não está a salvo da recessão.
Impacto
As maiores economias do mundo voltaram suas atenções para a China após Pequim aprovar a medida em mais um esforço global para estimular o crescimento. "Se o governo chinês usar isso como uma iniciativa diplomática, pode ser um passo importante em direção a uma maior resposta coordenada", disse Simon Johnson, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em São Paulo, onde ocorria um encontro do G-20, outras lideranças também se manifestaram.
"Para os países que podem, encorajamos tomar medidas de estímulo", disse a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, no domingo.
O presidente do Banco Mundial e outras autoridades que participaram do encontro apontaram a China como um país que tem um importante papel nas tentativas de restaurar o crescimento.
Lagarde, aproveitou a reunião para reafirmar que o principal modo de estimular a expansão é a redução das taxas de juros e reiterou que o Banco Central Europeu (BCE) deve cortar sua taxa novamente em breve.
"Temos nosso esforço monetário, que está em processo de consolidação com os sucessivos cortes de juro e uma antecipada redução de juro talvez nas próximas semanas", disse ela.
FMI
O pacote chinês foi recebido com otimismo pela alta cúpula da organização. "O FMI está argumentando há bastante tempo que a China precisa mudar a sua política de crescimento impulsionado por exportação para crescimento mais dirigido por demanda doméstica", afirmou Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI, à imprensa após encontro do G-20.
"Estou bastante satisfeito em ver a decisão que foi tomada pelos chineses. É um pacote enorme.
Este terá influência não apenas na economia mundial dando suporte à demanda, mas também uma grande influência na economia da própria China e eu acho que é uma boa notícia para corrigir os desequilíbrios", disse.
Crise econômica, cúpula do G-20, Afeganistão e Iraque estão na pauta do encontro entre Barack Obama, presidente eleito dos Estados Unidos, e George W. Bush, em final de mandato, hoje, na Casa Branca. A expectativa é de que Obama anuncie até o fim da semana os nomes que farão parte de sua equipe, entre eles o secretário do Tesouro e quem ocupará o Departamento da Defesa. O principal assessor de Obama, Rahm Emanuel, disse ontem que trabalha num plano de emergência para recuperar a economia. "Nos próximos 75 dias, todos nós devemos garantir que o novo presidente e sua equipe já cheguem trabalhando", disse Bush.
Fonte: Padrão
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