A badalada festa de premiação da academia de cinema de Hollywood começou este ano sob a polêmica provocada pela ausência de candidatos negros nas categorias mais cobiçadas, provocando um movimento de boicote de artistas pelo não comparecimento ao evento, que acabou não acontecendo.
Acuada, a academia partiu para encarar de frente o preconceito arraigado entre seus membros, embora muito dissimulado, contra os artistas não arianos.
O ator negro Chris Rock, apresentador da solenidade do Oscar, conseguiu espichar o único assunto — a ausência de artistas negros entre os candidatos do ano que foram para votação – durante horas a fio ao longo da festa, com observações que seriam jocosas ou irônicas dependendo do ponto de vista do ouvinte, começando por apontar as celebridades negras presentes no auditório da festa, apresentando cenas de filmes com atores negros, etc. etc.
Pode-se afirmar que a academia de cinema saiu se bem nesta crise, que podia ter assumido proporções ainda maiores. Ela fez em público a mea culpa, embora não tenha divulgado ainda como pretende “acabar” com esse preconceito contra artistas de cor entre os seus membros
A mineração brasileira pode muito bem se inspirar nessa crise “étnica” do Oscar. Para superar uma crise, como a causada pelo trágico acidente da barragem em Mariana, só existe uma única postura possível —falar e discutir os fatos verdadeiros que cercaram esse evento, alguns ainda nebulosos, não apenas pelas empresas diretamente envolvidas, mas também pelas instituições representativas, universidades, prefeituras e governo estadual e principalmente a Imprensa. Atualizar os estudos e programas preventivos contra acidentes similares e planos de contingência para atender a população.
Chamar as empresas de engenharia para inspecionar e propor medidas preventivas caso necessário nas barragens de rejeito existentes. Aquela atitude histórica de se fingir de morto é completamente obsoleta na era atual das redes sociais — onde ninguém consegue controlar a informação, verdadeira ou falsa.
A mineração sempre preferiu a discrição, como se não existisse, quando qualquer um pode olhar no Google Maps as imagens das cavas e barragens na região onde mora ou pelo País afora. Na verdade, independente da atitude que a indústria mineral queira assumir, a realidade está aí — os adensamentos urbanos encostaram-se às minas e plantas antes situadas em regiões afastadas; as atividades industriais de mineração afetam diretamente a qualidade de vida da população; os riscos de acidentes sempre existem — para tanto existem os planos de contingências; a convivência entre a mineração e os núcleos urbanos vai continuar — e isso exige um diálogo sistemático e contínuo.
Nesta era de informações instantâneas, a Mineração brasileira chegou a uma encruzilhada — ela pode encarar o complexo cenário pós-acidente e iniciar uma nova era no seu relacionamento com a sociedade, possibilitando desarmar os espíritos hoje carregados; ou continuar a manter o status quo cuja precariedade ficou patente nos acontecimentos recentes. Manter esse status quo seria um retrocesso.
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